Mário André Macedo Enfermeiro Especialista em Saúde Infantil

Crianças e Covid-19

06/01/2020

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Crianças e Covid-19

01/06/2020 | Opinião | 0 comments

Este é um dia da criança diferente do habitual. Grande parte das nossas crianças não regressaram às aulas para o terceiro período, as creches ficaram quase 3 meses encerradas e as atividades extracurriculares foram suspensas. O confinamento social imposto pela resposta à pandemia, criou uma situação que em janeiro seria totalmente imprevisível.

Vários pais abordam-me com as suas legitimas dúvidas sobre o impacto que o Covid-19 poderá ter nos seus filhos.

Dado o desconhecimento e novidade da doença, aliado à dificuldade em aceder a fontes fidedignas, é natural o receio sentido pelos pais.
Felizmente, na idade pediátrica, esta doença é maioritariamente benigna. As crianças são um grupo minoritário de todos os casos conhecidos. Em Portugal, a idade dos 0-9 anos corresponde apenas a 2,11% dos casos conhecidos.

Por sua vez, a totalidade da idade pediátrica é responsável por 5,5% dos casos. Estes dados são sobreponíveis a várias experiências internacionais. A razão para este diminuto peso relativo das crianças explica-se por duas dimensões complementares: i) por um lado as crianças possuem menos recetores onde o vírus se aloja e desencadeia a infeção, logo, tem menor probabilidade de contrair a doença; ii) por outro lado, tratando-se de um teste doloroso, conjugado com um curso natural da doença normalmente sem complicações, não há uma estratégia de testagem tão agressiva como noutras camadas etárias.

A maioria dos casos pediátricos têm a sua origem em focos de transmissão familiares. Este dado pode ter várias leituras, se por um lado com o encerramento de escolas é natural que o principal foco de contágio seja em casa, por outro lado, sugere que para a criança se infetar, é necessária uma maior exposição ao vírus.

Reveste-se de enorme importância, na forma como planeamos o desconfinamento, obter a resposta à seguinte questão: sabendo que as crianças não desenvolvem doença grave e têm uma menor probabilidade de ser infetadas, poderão, no entanto, ser vetores de transmissão a populações mais vulneráveis?

O papel das crianças na transmissão do Sars-Cov-2 não é claro. Alguns estudos franceses sugerem que o papel das crianças será mínimo, talvez por desenvolverem menores cargas virais. São necessários mais estudos para validar esta hipótese, a confirmar-se, trata-se de ótimas noticias, que irá permitir abrir creches com maior segurança. Mais importante, irá permitir aos pais deixar os seus filhos com confiança, diminuindo o seu absentismo e aumentado a produtividade da nossa economia, dimensão essencial nos tempos que se avizinham.

Agora que os serviços de saúde regressam ao normal, é urgente regularizar a situação vacinal, assim como as consultas de vigilância de saúde infantil com os enfermeiros e médicos de família. Recuperar a cobertura vacinal é um dos objetivos prioritários de curto prazo. A reemergência de doenças como o sarampo é uma realidade que conhecemos bastante bem, não podemos correr o risco de abrir uma nova frente de preocupação na saúde pública.

Pais, contactem o vosso enfermeiro de família, agendem com segurança uma consulta de vigilância e atualizem o estado vacinal dos vossos filhos. Trata-se de uma medida simples que salva vidas!

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