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Envelhecer antes e depois do covid-19…
Os cuidados médicos aos mais idosos e aos mais frágeis eram um desafio crescente nas sociedades mais desenvolvidas.
Em boa medida pelos efeitos deletérios e pelas interacções de esquemas terapêuticos pesados, alargados ou demasiado “ambiciosos”. Conhecem-se aliás dados sobre a incidência, potencial de risco e custos associados com impacto, quer em matéria de segurança em geral, quer de iatrogenia em particular.
Em síntese, dir-se-ia que a população idosa consome mais medicamentos do que as de idade mais baixa e está mais sujeita à ocorrência de eventos adversos.
Todas as projecções sobre a longevidade e a resolução de muitas das situações e das complicações que encurtavam a vida dos pacientes acentuam ou acentuavam a complexidade daquela gestão.
O problema em torno da prescrição inapropriada e as ferramentas disponíveis para a sua identificação justificaram publicações e comunicações sucessivas e repetidas. Entre nós, por exemplo, a operacionalização dos Critérios de Beers tornou-se quase viral no esforço de alerta dos profissionais de saúde. Mas terá atingido tal desiderato?
Mas o cenário pandémico em que caímos com estrondo, luto e prejuízo, veio mostrar que o esquecimento do risco infecto-contagioso, sobretudo nestes escalões etários mais avançados e em contexto de institucionalização, sublinha o carácter global e integral do binómio doença-saúde.
A infecção pelo novo coronavírus veio de forma severa e inesperada recordar outros riscos, bem mais antigos e sérios. A ideia de mudança do paradigma das doenças infeciosas e da malnutrição para o das doenças crónicas, sendo verdadeira à data de chegada do “bicho”, mostrou que nem foi definitiva, nem absoluta.
A continuidade de cuidados ao longo da vida obriga a reflexão e face à mortalidade verificada, um pouco por todo o lado, com uma responsabilidade moral e ética acrescida de sentido estratégico.
Tem que se assegurar uma integração de cuidados e dos processos assistenciais, garantindo a esta população institucionalizada, uma oferta abrangente que vise a preservação das suas reservas funcionais, a promoção da reabilitação e modelos de autonomia adaptados, a observância de regras de prescrição correctas, a articulação formal entre todos os agentes prescritores de cuidados.
E o Estado, pelo seu Serviço Nacional de Saúde, pode e deve ser o regulador de tal estratégia.
O envelhecimento caracteriza-se por alterações psicológicos certamente, mas sobretudo por um declínio biológico das capacidades adaptativas orgânicas. Este curso bem identificado traduz-se numa probabilidade acrescida de patologia, de qualquer patologia, de precipitação e aceleração do fim da vida.
Tantos idosos falecidos ou a letalidade nestes escalões etários não foram fenómenos inexplicáveis. E se a pandemia pelo COVID-19 se tornou pública e dramática, a sobrecarga anual registada sobre as unidades de cuidados intensivos por formas diversas de pneumonia ou nos períodos de gripe sazonal – de conhecimento dos profissionais e instituições de saúde e das autoridades de saúde pública deveria merecer idêntico tratamento e comunicação à população em geral.
Sobretudo quando, num momento em que a nossa vida parece depender duma nova vacina que tarda em chegar, se desperdiçam, rejeitam ou ignoram as oportunidades de vacinação existentes e disponibilizadas!
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