Nova abordagem técnica pode melhorar o diagnóstico de hipertensão pulmonar

19 de Junho 2020

A análise molecular pode facilitar o tratamento específico da hipertensão pulmonar, diferenciando as condições subjacentes que afetam as artérias e as veias pulmonares, refere um estudo publicado no “American Journal of Pathology”.

A hipertensão pulmonar (HP) é um problema grave, associado a uma grande variedade de doenças pulmonares, que pode levar à insuficiência ventricular direita e à morte. Atualmente, não existe uma terapêutica medicamentosa para curar a HP e os doentes podem necessitar de um transplante de pulmão.

A gestão e o prognóstico da HP dependem muito da localização da doença, nas artérias ou nas veias pulmonares. Em particular, nas fases iniciais, é difícil distinguir a hipertensão arterial pulmonar (HAP) do subtipo raro da doença veno-oclusiva pulmonar (DVOD), porque as apresentações clínicas da HAP e da DVOD podem ser semelhantes.

Um novo estudo do “The American Journal of Pathology”, publicado pela Elsevier, mostra que a análise da expressão genética do tecido do explante pulmonar pode distinguir com precisão a HAP da DVOD.

“A patogénese da DVOD e da HAP é pouco conhecida e a diferenciação clínica entre as duas doenças continua a ser um desafio por terem uma apresentação clínica semelhante”, explicou a investigadora principal do estudo, Lavinia Neubert, do Instituto de Patologia da “Hannover Medical School” e membro do “German Center for Lung Research” do “Biomedical Research in Endstage and Obstructive Lung Disease Hannover” (BREATH).

“O nosso estudo é o primeiro a apresentar um modelo molecular com a capacidade de diferenciar entre os subtipos de hipertensão pulmonar DVOD e HAP. Os nossos resultados podem ajudar a desenvolver novas intervenções específicas para cada alvo, e abordagens inovadoras para facilitar o diagnóstico clínico num grupo elusivo de doenças”.

Os doentes com HP frequentemente apresentam obstrução ou destruição dos vasos sanguíneos pulmonares, um processo referido como “remodelação vascular”. Neste estudo, os investigadores analisaram amostras de pulmão de pacientes com HAP, DVOD, fibrose pulmonar idiopática (FPI), doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) e de pessoas saudáveis.

Como se esperava, os pacientes com HAP apresentaram alterações patológicas predominantemente nas artérias e arteríolas pulmonares, enquanto as amostras de pacientes com DVOD foram caracterizadas por alterações da vasculatura pulmonar pós-capilar.

Usando algoritmos de Inteligência Artificial para analisar estes resultados moleculares, os investigadores conseguiram distinguir, com êxito, as entidades da doença com 100% de sensibilidade e 92% de especificidade, com base em seis genes-alvo.

“Estamos confiantes de que a precisão da classificação da nossa abordagem molecular está próxima do “gold standard” do diagnóstico histopatológico”, referiu Lavínia Neubert. “Uma vez que as biopsias pulmonares continuam a ser intervenções de alto risco para os pacientes com HP, e as abordagens não invasivas não permitem atualmente uma exatidão de diagnóstico, estes resultados podem facilitar o diagnóstico de DVOD por análise molecular”.

Legenda: Coloração de hematoxilina-eosina do tecido pulmonar humano fixado em formalina e incluído em parafina: Artéria pulmonar obstruída em hipertensão arterial pulmonar mostrando fibrose da íntima, hipertrofia da média e vasculopatia plexiforme em A. Veia pulmonar obstruída em doença veno-oclusiva pulmonar mostrando fibrose da íntima e hipertrofia da média em B. As barras de escala são rotuladas com 200 µm. Crédito: Instituto de Patologia, Faculdade de Medicina de Hannover, Abril de 2020

Análises adicionais utilizando proteómica quantitativa e imunohistoquímica multiplex identificaram uma variedade de genes desregulados. Algumas das alterações genéticas foram comuns a todos os pacientes com remodelação vascular pulmonar grave, independentemente dos compartimentos pulmonares afetados, enquanto outras foram mais específicas.

Os investigadores acreditam que as alterações de sinalização genética em várias formas de PH grave podem servir como novos alvos farmacêuticos com potencial para abordar a remodelação vascular grave. Recomendam mais estudos para investigar o valor diagnóstico dos marcadores identificados no contexto clínico.

Informação bibliográfica:
“Molecular Profiling of Vascular Remodeling in Chronic Pulmonary Disease,” by Lavinia Neubert, Paul Borchert, Helge Stark, Anne Hoefer, Jens Vogel-Claussen, Gregor Warnecke, Holger Eubel, Patrick Kuenzler, Hans-Heinrich Kreipe, Marius M. Hoeper, Mark Kuehnel, and Danny Jonigk (https://doi.org/10.1016/j.ajpath.2020.03.008). It will appear in The American Journal of Pathology, volume 190, Issue 7 (July 2020) published by Elsevier.

NR/HN/Adelaide Oliveira

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