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Automedicação na Pandemia
A automedicação é o ato de consumir medicamentos sem aconselhamento por parte de um profissional de saúde. Na sua generalidade deve estar associada a perturbações ligeiras e autolimitados, cuja resolução acontece recorrendo a Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica.
No entanto, a toma de medicamentos sem a devida orientação clínica é um enorme problema de saúde pública! A automedicação é uma das causas mais frequentes do surgimento de reações adversas que advêm da toma incorrecta da medicação ou das interacções entre os vários fármacos que o doente toma.
No contexto actual de pandemia em que nos encontramos, muitas consultas e tratamentos foram adiados por constrangimentos por parte dos serviços de saúde ou evitados pelo próprio doente por receio de contaminação. Também a ida à farmácia está condicionada e a proximidade que existia com o utente foi alterada – as medidas de proteção individual e as condições físicas do espaço alteram a comunicação, quebrando inevitavelmente o grau de proximidade que existia com o farmacêutico. Sendo assim, a transmissão de informação em saúde através destes meios está comprometida, o que traz consequências negativas à população que deles dependia e pode aumentar a necessidade de se recorrer à automedicação.
Assim, se já era comum a pesquisa do tratamento indicado através de meios electrónicos (como por exemplo no denominado “Dr. Google”) ou através do aconselhamento com a família ou amigos em situação semelhante (“aquilo é que lhes fez mesmo muito bem”), actualmente este comportamento torna-se ainda mais recorrente, bem como todos os efeitos negativos que daí podem advir.
É também comum a automedicação orientada, em que ao doente é prescrito um dado medicamento para uma perturbação específica e, no ressurgimento de sintomas semelhantes, o doente retoma ao fármaco de forma autónoma. Nestes casos, em que questões legais e éticas impedem a aquisição sem prescrição de medicamentos sujeitos a receita médica, o papel do farmacêutico é fundamental para avaliar e orientar cada caso. A ocorrência de complicações pela toma repetida do fármaco pode surgir e trazer consequências nefastas para a saúde do doente uma vez que o problema de saúde, as condições fisiológicas e as medidas a tomar poderão ser diferentes das anteriores.
Neste âmbito da automedicação orientada interessa mencionar os medicamentos do foro psiquiátrico. Portugal é já um dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) onde mais se consomem medicamentos ansiolíticos e antidepressivos e com a pandemia este número aumentou. O período de confinamento, aliado às dificuldades económicas e sociais que surgiram, vieram piorar uma situação complicada e que levou ao ressurgimento de sintomatologia associada a problemas psiquiátricos. Apesar das medidas disponibilizadas pelos serviços de saúde, tais como a linha de saúde 24 ou consultas da especialidade não presenciais, muitas terão sido as situações em que as perturbações não foram avaliadas por um especialista. Nestes casos é importante relembrar a população que a toma deste tipo de medicação sem uma orientação clínica pode acarretar efeitos a vários níveis, tanto do ponto de vista de ineficácia ou interacção medicamentosa como de habituação ou dependência.
No caso particular dos medicamentos não sujeitos a prescrição obrigatória há a ideia errada de que a sua toma é isenta de riscos e de que, como podem ser vendidos sem prescrição “não fazem mal”. Mas, caso a recorrência à automedicação seja inevitável, importa considerar o seguinte:
- Deve ser feita a leitura atenta do folheto informativo: verificar a posologia, as possíveis interacções medicamentosas e contra-indicações.
- O prazo aconselhado para o tratamento não deve ser excedido.
- Em caso de persistência de sintomas para além de 3 a 5 dias, ou do seu agravamento, deve consultar de imediato um médico ou serviço de saúde.
- Especialmente importante no que concerne a crianças, idosos e grávidas que, pelas suas características fisiológicas, não devem ser medicados sem orientação médica.
A informação credível, atualizada e acessível à população é algo imperativo, especialmente no contexto actual em que vivemos. O doente deve estar informado sobre os riscos em relação à toma de determinados fármacos, mas também de quais os serviços de saúde disponibilizados para esclarecimento de qualquer dúvida que possa surgir ao longo do tratamento. O uso seguro, racional e responsável do medicamento tem que ser acessível a toda a população sem exceção e deve ser uma das prioridades para a promoção da saúde pública.
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