Vacina para tratar coalas na Austrália pode ser chave para curar clamídia em humanos

21 de Julho 2020

Uma vacina para curar na Austrália coalas de clamídia, pode ser a chave na luta contra esta doença sexual que afeta mais de 130 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo um investigador.

Os coalas fazem parte dos animais vertebrados que sofrem de clamídia, uma bactéria que danifica os seus órgãos genitais e os olhos, causando infertilidade e cegueira, e que os consome lentamente até a morte.

O microbiologista Peter Timms, da Universidade Sunshine Coast, que atualmente está a testar coalas selvagens e em cativeiro para encontrar uma vacina contra a clamídia com “resultados promissores”, acredita que este projeto pode abrir as portas se descobrir o tratamento nos seres humanos.

“Nenhuma das vacinas, como as usadas contra a gripe ou mesmo a que é desenvolvida contra o coronavírus, será capaz de bloquear completamente as infeções (…), mas reduz a velocidade, para que o corpo reaja melhor”, disse Timms à agência de notícias Efe.

O especialista australiano explicou que os antígenos dessa bactéria, os genes responsáveis e os adjuvantes que estimulam o sistema imunológico são levados em consideração no desenvolvimento das vacinas.

A maneira como a vacina é aplicada pode ser na forma de uma injeção ou oral.

Em testes de laboratório para estudar tratamentos com clamídia, as experiências com animais são cruciais, mas os ratos são menos adequados neste caso.

“Nos ratos, você trabalha com uma cepa de clamídia e os seres humanos têm 15. Nos ratos, você não tem uma infeção real e é um modelo artificial”, explicou Timms, esclarecendo que, em vez disso, “nos coalas a infeção é natural e eles têm 15 cepas de clamídia e doenças dos olhos e órgãos sexuais, como nos seres humanos”.

“Ao testar com coalas, é provável que você tenha respostas mais relevantes para os seres humanos do que para os ratos”, sustentou o especialista, que desenvolve uma vacina de aplicação única que já foi testada em alguns animais no nordeste da Austrália, como na ilha Kangaroo, no sul do país.

Outra vantagem oferecida pela vacina contra a clamídia nos coalas é que estes marsupiais podem regressar aos seus habitats para serem expostos a contactos sexuais com seus pares, o que é um teste para medir a eficácia, como se esperaria com os seres humanos.

O coala (Phascolarctos cinereus), que é especialmente sensível a qualquer mudança no ambiente, passa cerca de 20 horas por dia a dormir ou a descansar e usa as quatro horas restantes para se alimentar de folhas de várias espécies de eucalipto.

Um dos grandes desafios para os pesquisadores no tratamento da clamídia nos coalas é impedir que os antibióticos causem grandes danos ao coala, pois os seus fígados processam intensamente tudo o que ingere para desintoxicação.

“Uma dose de um ou dois dias em humanos torna-se numa de 14 a 28 para os coalas”, explicou Timms, enfatizando que isso destrói a flora bacteriana no estômago.

A vacina desenvolvida por Timms promete prevenir futuras infeções e, principalmente, que a mãe a transmita ao recém-nascido e garanta a sua vida reprodutiva com uma dose única.

“Os coalas tratados com antibióticos contraem uma segunda infeção seis meses depois e parecem responder melhor à vacina porque, após um ano, a maioria parece estar protegida”, acrescentou, enfatizando que ainda precisam de estudos mais contundentes e alargados.

LUSA/HN

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