Miguel Guimarães comentava, no final de uma visita ao Centro de Saúde de Algueirão-Mem Martins, dados do Ministério da Saúde que retratam uma recuperação da atividade assistencial em hospitais e centros de saúde nos primeiros sete meses deste ano em relação ao mesmo período de 2020 e 2019.
“Temos muitos doentes para tratar que não sabemos quem são. É este o desafio que temos pela frente, e nesta perspetiva, o papel dos médicos de família é crucial porque são a principal porta de entrada no SNS”, disse o bastonário da OM no dia em que se celebraram 42 anos do Serviço Nacional de Saúde.
Numa carta aberta endereçada à ministra da Saúde em julho, Miguel Guimarães apelou para a libertação dos médicos de família das tarefas específicas de pandemia e ontem voltou a reiterar a mensagem.
“Já deviam ter sido libertos há meses para poderem ver os doentes de sempre, seguir com mais proximidade os doentes crónicos, fazer diagnósticos e referenciar utentes para os hospitais” quando for necessário”, afirmou.
O presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Nuno Jacinto, também presente na visita, disse que o trabalho dos médicos de família tem sido feito “com poucos recursos e com equipas que estão muito cansadas por estarem há muito tempo a trabalhar acima do seu limite”.
“Os médicos de família precisam de o ser por inteiro e não ser médicos da pandemia. Temos de voltar a ver os nossos doentes, ter tempo para eles, prestar-lhes cuidados e de retomar a relação de confiança e continuidade”, frisou.
Miguel Guimarães sublinhou também a importância de fixar os médicos de família no SNS ao afirmar que “se o setor privado e social consegue oferecer melhores condições aos médicos, o Estado também consegue”.
“No último concurso, ficaram cerca de 40% de vagas por preencher. Num momento em que temos mais de um milhão de portugueses sem médico de família, precisaríamos de cerca de 600 novos especialistas para dar cobertura a esta população”, frisou.
Para Miguel Guimarães, este problema deve ser resolvido com a maior urgência, considerando fundamental investir no capital humano. “Que as carreiras sejam aplicadas na prática, que não haja atrasos nos concursos, congelamentos nas várias posições remuneratórias, e que sejam criadas condições dignas para que os médicos optem por trabalhar no SNS”, disse.
“O que devia ser feito de imediato é um investimento grande nos recursos humanos, não só a nível salarial como nas condições de reforço das equipas e das condições de trabalho, a nível material e de instalações. E sobretudo garantir aos médicos de família que vão fazer as tarefas para as quais estão treinados e têm que executar”, concluiu Nuno Jacinto.
Na visita ao centro de saúde participaram também o Sindicato Independente dos Médicos e a Liga Portuguesa Contra o Cancro.
LUSA/HN
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