“O cidadão tem progressivamente maior garantia de que está seguro quando entra nas instituições do SNS (Serviço Nacional de Saúde) e vai estar mais seguro”, afirmou hoje Filomena Gaspar, da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, durante a apresentação dos resultados do Plano Nacional da Segurança do Doente 2015-2020.
O plano tem nove objetivos estratégicos que vão desde aumentar a segurança cirúrgica e a segurança na utilização de medicamentos até garantir que, quando entram nos serviços de saúde, os doentes são identificados de forma inequívoca.
Os dados hoje apresentados por Filomena Gaspar mostram uma evolução positiva de todos os objetivos ao longo dos anos, com um aumento de auditorias e de notificação de situações anómalas.
No que toca à identificação incorreta dos doentes, situação que pode pôr em causa a saúde das pessoas, o relatório revela que as instituições têm implementado cada vez mais estratégias de controlo para que tal não aconteça.
“O número de instituições (que estabeleceu planos) variou de 72% em 2015 para 91,7% em 2019”, disse Filomena Gaspar, durante a conferência sobre “A segurança do doente em Portugal”.
Com mais estratégicas de controlo, diminuíram os casos de incidentes relacionados com a identificação incorreta de pacientes: em 2019, houve 338 notificações, quando em 2016 tinham sido registados 1.464.
Os dados hoje divulgados mostram também uma “evolução francamente positiva” da segurança cirúrgica, com uma redução de complicações devido a “incidentes inadmissíveis”. Segundo a especialista, a maioria das instituições não registou qualquer caso.
Os acidentes inadmissíveis vão desde a retenção de objetos estranhos durante a cirurgia ou no local cirúrgico, o local cirúrgico errado, a morte intraoperatório ou um procedimento errado.
A segurança da medicação é outro dos focos do plano e o estudo mostra que também houve melhorias e foram implementadas medidas para tentar controlar possíveis falhas.
“Há a assinalar uma evolução favorável na publicação da lista de medicamentos atualizada e divulgada conhecidos como LASA”, disse, referindo-se aos medicamentos que têm um nome ortográfico e fonético assim como com aspeto muito semelhantes e que, por isso, podem gerar erros de medicação.
Em 2019, 90,7% das instituições tinham estas listas atualizadas e publicadas, segundo o estudo que contou com 82 respondentes.
Sobre os medicamentos de alerta máximo, que têm potencial possibilidade de dano grave, houve também um aumento de entidades (90,47% em 2019) que disseram ter a lista atualizada e divulgada.
Outro dos objetivos do plano era reduzir as úlceras por pressão. Filomena Gaspar reconheceu que “há ainda reporte de ulceras por pressão na instituições e em volume importante”.
No entanto, a responsável salientou que houve um aumento de auditorias para conseguirem melhores práticas: em 2019 foram elaboradas 7.180 auditorias e, no total dos cinco anos, realizaram-se 21.740.
A prevenção e controlo de infeções e resistências aos antimicrobianos é outro dos focos do plano, que tinha como objetivo baixar a taxa de prevalência de infeção hospitalar para 8% e reduzir para metade, face a 2014, o consumo de antimicrobianos, de carbapenemes e de quinolonas.
Sobre a prevalência de infeções, a responsável disse não ter ainda dados, mas salientou o aumento da monitorização das infeções.
Filomena Gaspar saudou também a evolução do programa de vigilância das quatro infeções mais relevantes nas unidades de cuidados intensivos de adultos, sublinhando que as instituições reportam uma redução da taxa.
O estudo analisou também a segurança da comunicação no momento em que é passada a informação de um doente de uma instituição ou profissional de saúde para outro, permitindo a continuidade dos cuidados de saúde.
Neste ponto, Filomena Gaspar salientou as 64.869 auditorias realizadas em 2019 para aumentar a segurança de comunicação.
O número de notificações de incidentes de segurança do doente também aumentou ao longo dos anos, tendo baixado apenas no último ano em análise. Em 2019, há o reporte de 137 notificações no sistema Notifica por parte dos cidadãos.
Durante a conferência que se realizou hoje Dia Mundial da Segurança do Doente, também a diretora da Escola Nacional de Saúde Pública, Carla Nunes, salientou a necessidade de cultivar a importância “de descobrir o que correu menos bem”.
“Temos questões de cultura que muitas vezes precisam ser modificadas. A cultura de descobrir o que correu menos bem, numa perspetiva de aprendizagem e compreensão do problema e não de culpabilização, é algo que não é muito comum na nossa cultura. Mas é a razão de ser da desta área da qualidade da saúde e segurança do doente e ainda temos muito para aprender”, alertou.
No final da apresentação, Filomena Gaspar salientou alguns pontos como o “grande investimento nos processos e registo, notificação e controlo” ou o aumento das auditorias e “uma política de notificação mais consistente que, em algumas áreas, permitiram desocultar problemas que terão de ser geridos nesta próxima etapa que se segue, que gerou um aumento em algumas eras de notificação de incidentes”.
LUSA/HN
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