Pandemia agrava barreiras à saúde para crianças, adolescentes e mulheres em África

23 de Setembro 2021

A pandemia de Covid-19 continua a dificultar o acesso a serviços de saúde e planeamento familiar para mulheres, adolescentes e crianças em África, alertaram na quarta-feira ativistas num evento digital à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas.

A falta de vacinas contra a Covid-19 e a necessidade de financiamento foram duas das prioridades levantadas durante o “Pequeno Almoço Anual de Responsabilidade da PMNCH [sigla inglesa de Parceria para a Saúde das Mães, Recém-Nascidos e Crianças]”.

“Antes da covid-19, os serviços saúde já estavam a falhar. Em 2019, antes da crise, 64 países estavam a gastar mais dinheiro para pagar a dívida externa do que a financiar serviços públicos, muitos dos quais em África, como o Gana e a Zâmbia”, lembrou a diretora executiva da UNAIDS, Winnie Byanyima.

A responsável pelo programa da ONU de combate ao HIV/sida disse, durante um painel, que “para combater a pandemia” é preciso “um plano mundial”, à semelhança do que foi feito para travar aquela doença.

Segundo a UNAIDS, 86% das infeções com HIV na África subsaariana são raparigas adolescentes entre os 15 e 19 anos.

Apesar dos avanços realizados desde 2000, a PMNCH refere que 68% das mortes maternas mundiais continuam a ter lugar na África subsaariana, bem como 53% das mortes mundiais de crianças com menos de 5 anos.

Dados de outros estudos indicam que as consultas médicas a grávidas, recém-nascidos e crianças foram canceladas ou adiadas, e campanhas de vacinação infantil interrompidas durante a pandemia em vários países africanos.

Kilolo Angelo, coordenadora da Aliança Internacional para o Planeamento Familiar (IYAFP) em Moçambique, disse à agência Lusa que, devido às medidas de contenção, o orfanato local onde é voluntária, na Beira, limitou o acesso a cinco adolescentes que costuma acompanhar.

“Conversávamos sobre tudo a ver com educação sexual e os seus direitos sobre a sexualidade, a autonomia delas sobre o corpo e educação. Agora, já não posso visitá-las”, lamentou.

Angelo também refere que os hospitais públicos moçambicanos passaram a estar concentrados em tratar pacientes de Covid-19, deixando de atender mulheres que precisam de contracetivos ou atenção a outras questões de saúde feminina.

“Há algumas campanhas de saúde sexual feitas em escolas onde serviços de contraceção são oferecidos, mas agora, com as escolas fechadas, tornou-se muito difícil para as raparigas terem acesso a esses serviços”, acrescentou.

Helen Clark, presidente da PMNCH e ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, disse que a pandemia “está a aumentar as desigualdades na saúde na África subsaariana” e urgiu os políticos a priorizar o financiamento e garantir serviços para “responder melhor às necessidades de mulheres, crianças e adolescentes, que estão entre os cidadãos mais vulneráveis da região”.

Mais de 1.000 participantes, incluindo políticos, profissionais de saúde e representantes do setor privado e sociedade civil, inscreveram-se para participar no evento, que debateu soluções para resolver estes problemas, incluindo um maior recurso às novas tecnologias.

Burkina Faso, Zâmbia, Zimbabué, Bangladesh, Costa Rica e Paraguai aderiram ontem à Chamada para Ação sobre a Covid-19 lançada em 2020, comprometendo-se a “fortalecer políticas e financiamento para a recuperação de serviços vitais de saúde e proteção social para mulheres, crianças e adolescentes”.

LUSA/HN

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