VIH está relacionado com o aumento do risco de morte súbita cardíaca

24 de Setembro 2021

Num estudo que envolveu mais de 140.000 veteranos norte-americanos, verificou-se que aqueles que vivem com VIH têm um risco 14% mais elevado de morte cardíaca súbita em relação aos veteranos que não têm VIH. O risco aumentado de morte cardíaca súbita é 57% a 70% maior nos veteranos que têm cargas virais elevadas e 50% mais elevado para cada fator adicional de risco de doença cardíaca, em comparação com os veteranos que não têm VIH.

Num estudo que envolveu mais de 140.000 veteranos norte-americanos, verificou-se que aqueles que vivem com VIH têm um risco 14% mais elevado de morte cardíaca súbita em relação aos veteranos que não têm VIH. O risco aumentado de morte cardíaca súbita é 57% a 70% maior nos veteranos que têm cargas virais elevadas e 50% mais elevado para cada fator adicional de risco de doença cardíaca, em comparação com os veteranos que não têm VIH.

As pessoas que vivem com o vírus da imunodeficiência humana têm um risco mais elevado de morte súbita cardíaca do que as pessoas que não têm VIH, especialmente se o vírus não for bem controlado ou se tiverem outros fatores de risco de doenças cardíacas, de acordo com novas investigações publicadas no jornal da “American Heart Association”.

“As pessoas que vivem com VIH já são conhecidas por terem um risco mais elevado de ataque cardíaco, AVC, insuficiência cardíaca, coágulos de sangue nos pulmões e doença arterial periférica”, referiu Matthew Freiberg, autor principal do estudo e professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Vanderbilt, em Nashville (Tennessee).

“Sabemos que entre as pessoas que vivem com VIH, aquelas que têm um sistema imunitário comprometido, por exemplo uma baixa contagem total de células CD4+T, parecem ter um risco mais elevado de doença cardiovascular do que aquelas que têm uma elevada contagem de células CD4+T”, referiu Mathew Freiberg.

A morte súbita cardíaca ocorre quando o coração, inesperadamente, deixa de bater, impedindo o fluxo sanguíneo de chegar ao cérebro e outros órgãos vitais, resultando em morte. Os investigadores utilizaram critérios “standard” da Organização Mundial da Saúde, bem como a revisão detalhada dos registos médicos, para definir “morte súbita cardíaca” no estudo.

Uma investigação prévia realizada com 2.800 pessoas de uma clínica de tratamento do VIH em São Francisco, mostrou que a taxa de morte súbita cardíaca era quatro vezes mais elevada em pessoas com VIH. O presente estudo, muito mais abrangente, analisa a taxa de morte súbita cardíaca à escala nacional, juntamente com a influência da carga viral e outros fatores de risco de doenças cardíacas.

Os investigadores avaliaram os participantes de um estudo nacional de pessoas com VIH, comparando-os com um grupo de participantes sem VIH – o Veterans Aging Cohort Study (VACS). Este é um estudo nacional de longo prazo, que monitoriza veteranos com e sem VIH (duas pessoas não infetadas por cada participante seropositivo). O estudo analisa o papel do VIH e a fase da doença, além de outras condições de saúde.

Entre os mais de 144.000 veteranos do estudo VACS, 30% foram diagnosticados com VIH e avaliados em hospitais de todo o país. Cerca de  97% eram homens, 47% afro-americanos, com uma idade média de 50 anos no momento da inscrição. Cada participante entrou no estudo numa consulta médica inicial realizada em abril de 2003 ou em data posterior, sendo seguido até 31 de dezembro de 2014. Durante o seguimento médio de 9 anos, a morte súbita cardíaca foi referida como a causa de morte de 3.035 dos veteranos; 777 (26%) tinham VIH.

Após o ajuste de numerosos fatores, incluindo idade, sexo, raça/etnia, presença de doenças cardíacas ou renais, dependência ou abuso de cocaína ou álcool, e vários fatores de risco de doenças cardíacas, o estudo constatou que o risco de morte súbita cardíaca súbita era: – idêntico em pessoas com VIH que tinham níveis saudáveis de células CD4+T ou entre aquelas que tinham um baixo nível do vírus no  sangue;

– progressivamente mais elevado, em função da presença de fatores de risco de morte súbita cardíaca, incluindo doença cardiovascular existente, pressão arterial elevada, tabagismo, infeção por hepatite C, anemia, dependência ou abuso do álcool, e doença pulmonar obstrutiva crónica, independentemente de terem ou não VIH;

– 14% mais elevado em pessoas com VIH;

– 57% mais elevado em pessoas com VIH cujos testes sanguíneos mostraram baixos níveis de células T CD4+ ao longo do tempo, um indicador de que o VIH estava a progredir e que o sistema imunitário estava comprometido;

– 70% mais elevado em pessoas com VIH cujos testes sanguíneos mostraram que a terapia antirretroviral não tinha suprimido a carga viral do vírus no sangue ao longo do tempo.

“É essencial a abordagem dos fatores de risco relacionados com a doença cardiovascular e com o VIH para prevenir as taxas mais elevadas de morte súbita cardíaca em pessoas com VIH”, referiu Zian Tseng, autor sénior do estudo e professor na Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia (São Francisco). “Os médicos devem considerar o rastreio de sinais de aviso específicos de morte súbita cardíaca, tais como desmaios ou palpitações cardíacas. E, se indicado, deverão solicitar exames adicionais, tais como ecocardiogramas ou monitorização contínua do ritmo cardíaco”.

Os resultados desta amostra esmagadoramente masculina podem não ser possíveis de generalizar no sexo feminino. O estudo também é limitado pelo facto das autópsias raramente estarem disponíveis, quando são a forma definitiva de diagnosticar a morte súbita cardíaca. Zian Tseng e colegas relataram recentemente que quando pessoas com VIH e presumível morte súbita cardíaca (baseada em registos paramédicos) têm autópsias detalhadas, em metade dos casos a causa é cardíaca.

No entanto, verificou-se que muitas pessoas morreram de condições não cardíacas, tais como overdose de drogas, coágulo de sangue nos pulmões ou

AVC. As pessoas com VIH também tinham níveis mais elevados de tecido cicatricial no músculo cardíaco (fibrose miocárdica) do que as pessoas sem VIH, o que pode explicar a maior taxa de morte devido a arritmias letais.

“Para além do VIH e dos fatores de risco cardiovascular, é importante que os profissionais de saúde façam o rastreio e o tratamento dos problemas relacionados com a utilização de substâncias, especialmente em pessoas com VIH, porque têm uma taxa três vezes superior de mortes por overdose, que se apresentam como paragem cardíaca nas nossas investigações anteriores”, referiu  Zian Tseng.

Mais informação em:

https://newsroom.heart.org/news/hiv-linked-with-increased-risk-of-sudden-cardiac-death?preview=fac624ebc6fc575f3a0e3412771371bd

 

 

 

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