Especialistas afirmam que produção de combustíveis fósseis é incompatível com o acordo de Paris

20 de Outubro 2021

Apesar dos compromissos para a redução dos gases de efeito de estufa, os planos de produção de carvão, petróleo e gás continuam a ser incompatíveis com os objetivos do Acordo de Paris, segundo um relatório publicado hoje.  

O acordo sobre o clima alcançado em 2015, e assinado pela quase totalidade dos países do mundo, visa limitar o aquecimento global abaixo dos 02 graus celsius (2°C) e se possível a 1,5°C.

Um dos planos de ação para se reduzir as emissões é o abandono gradual dos combustíveis fósseis, que são particularmente poluentes.

Mesmo assim, os planos de produção dos vários governos, a nível mundial, continuam a ser “um perigo” à luz dos objetivos de Paris, lamentou hoje o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUE), num estudo divulgado a duas semanas da conferência do clima COP26.

Para manter aquecimento global abaixo de 1,5º centígrados “a produção mundial de energias fósseis deve começar a reduzir de imediato e com força”, sublinha o relatório do PNUE que contou com a participação de outros organismos de investigação ambiental.

Mas, “não é o que está a acontecer”, referem os especialistas, sublinhando que os países “ainda preveem um aumento da produção de petróleo e de gás e apenas uma redução modesta na produção de carvão, até 2040”, disse à France Presse Ploy Achakulwisut, investigadora do Instituto Ambiental de Estocolmo (SEI) e principal responsável pelo relatório do PNUE.

“Os planos de produção dos vários governos vão conduzir a um aumento de 240% da produção de carvão, 57% do petróleo e 71% do gás em 2030. São valores incompatíveis com as limitações sobre o aquecimento global abaixo de 1,5º centígrados”, disse a investigadora.

No total, se forem consideradas o conjunto das energias fósseis, as previsões para 2030 são duas vezes superiores (110%) aos valores de limitação do aquecimento global de mais de 1,5º centígrados, e 45% mais do que seria compatível com o aquecimento de mais de 2º centígrados.

De acordo com os especialistas em clima da ONU (Giec), para que não seja ultrapassado o aquecimento de mais de 1,5º centígrados (comparativamente a 2010) é preciso manter os esforços sobre a neutralidade de carbono até 2050.

O último relatório do Giec, publicado em agosto, alertou sobre o risco de ser atingido o limiar do aquecimento próximo de 1,5º centígrados em 2030.

Apesar dos alertas que mostram que o tempo para agir está a esgotar-se – no sentido de se evitar o pior dos impactos no que diz respeito ao aquecimento global – a produção de combustíveis fósseis permaneceu “praticamente inalterada” desde 2019, observa o relatório.

A menos de duas semanas do início da COP26, em Glasgow, a ONU lança novos alertas.

“Na COP26 os governos de todo o mundo devem mobilizar-se e tomar medidas imediatas para solucionar a produção de combustíveis fósseis garantindo uma transição justa e equitativa” disse a responsável pelo PNUE, Inger Anderson.

De acordo com o relatório divulgado hoje, desde o início da pandemia de Covid-19 os países do G20 alocaram cerca de 300 mil milhões de dólares para financiamentos de combustíveis fósseis, um valor superior ao que foi destinado às energias renováveis.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Novos diagnósticos de VIH aumentam quase 12% na UE/EEE em 2023

 A taxa de novos diagnósticos de pessoas infetadas pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH) cresceu 11,8% de 2022 para 2023 na União Europeia/Espaço Económico Europeu, que inclui a Noruega, a Islândia e o Liechtenstein, indica um relatório divulgado hoje.

Idade da reforma sobe para 66 anos e nove meses em 2026

A idade da reforma deverá subir para os 66 anos e nove meses em 2026, um aumento de dois meses face ao valor que será praticado em 2025, segundo os cálculos com base nos dados provisórios divulgados hoje pelo INE.

Revolução no Diagnóstico e Tratamento da Apneia do Sono em Portugal

A Dra. Paula Gonçalves Pinto, da Unidade Local de Saúde de Santa Maria, concorreu à 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH), com um projeto inovador para o diagnóstico e tratamento da Síndrome de Apneia Hipopneia do Sono (SAHS). O projeto “Innobics-SAHS” visa revolucionar a abordagem atual, reduzindo significativamente as listas de espera e melhorando a eficiência do processo através da integração de cuidados de saúde primários e hospitalares, suportada por uma plataforma digital. Esta iniciativa promete não só melhorar a qualidade de vida dos doentes, mas também otimizar os recursos do sistema de saúde

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Cerimónia de Abertura da 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde: Inovação e Excelência no Setor da Saúde Português

A Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH) realizou a cerimónia de abertura da 17ª edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, destacando a importância da inovação e excelência no setor da saúde em Portugal. O evento contou com a participação de representantes de várias entidades de saúde nacionais e regionais, reafirmando o compromisso com a melhoria contínua dos cuidados de saúde no país

Crescer em contacto com animais reduz o risco de alergias

As crianças que crescem com animais de estimação ou em ambientes de criação de animais têm menos probabilidade de desenvolver alergias, devido ao contacto precoce com bactérias anaeróbias comuns nas mucosas do corpo humano.

MAIS LIDAS

Share This