Investigadoras portuguesas desenvolvem “mini-cérebros” para triagem mais eficiente de fármacos

27 de Outubro 2021

Um projeto desenvolvido por três investigadoras portuguesas pretende produzir "mini-cérebros" a partir de células estaminais para diminuir os testes em animais e fazer uma “triagem mais eficiente” dos medicamentos em fases precoces de ensaios.

O projeto MindMimics, distinguido com o terceiro prémio do Amyris Innovation BIG Impact Award, um concurso de inovação em biotecnologia organizado pela Universidade Católica Portuguesa, surge como uma alternativa à triagem de fármacos e ao estudo de doenças do desenvolvimento neuronal.

À Lusa, Laura Frazão, uma das três fundadoras do projeto e investigadora do 3B’s Research Group da Universidade do Minho, esclareceu hoje que o MindMimics visa “tornar a tecnologia dos organoides cerebrais (‘mini-cérebros’ criados em laboratório) acessíveis”.

A produção dos organoides cerebrais permitirá “diminuir os testes em animais, fazer uma triagem mais eficiente dos medicamentos em fases mais precoces de ensaios clínicos, criar alternativas para a medicina personalizada e também desenvolver novos medicamentos para doenças neurológicas”.

“Cerca de 90% dos novos medicamentos falham durante os ensaios clínicos, sendo que um dos fatores é a utilização de modelos ‘in vivo/in vitro’ inadequados”, observou a investigadora.

Ao recapitularem o desenvolvimento do cérebro humano em laboratório, os organoides cerebrais são “um modelo ‘in vitro’ mais complexo capaz de dar respostas mais confiáveis a respeito do efeito de medicamentos”, isto é, ao não passar num ensaio que recorre a organoides, um determinado fármaco “não avança nas etapas de desenvolvimento”.

“Poupamos tempo, recursos e dinheiro”, salientou Laura Frazão, acrescentando que com a produção destes “mini-cérebros”, tanto centros de investigação, como empresas farmacêuticas podem passar a “terceirizar parte da sua atividade” e focarem-se no “essencial”: a inovação.

Laura Frazão afirmou ainda que a produção dos organoides cerebrais se pode tornar “promissora”, uma vez que, “até agora o neurodesenvolvimento humano estava quase inacessível”, ao depender de “abortos ou malformações de fetos”.

“Com os organoides cerebrais podemos estudar várias fases do neurodesenvolvimento humano, perceber os mecanismos de doenças de neuro desenvolvimento, como a esquizofrenia e outros transtornos, e, eventualmente, identificar alvos para novos tratamentos”, disse.

Segundo Laura Frazão, o intuito da equipa do MindMimics é agora fazer o levantamento de uma ronda de investimento inicial, prevendo-se que, nos primeiros meses de 2022, a “empresa possa estar operacional” e a atividade empresarial se inicie.

“Em termos de produção contamos com pessoal altamente qualificado e especializado, assim como os recursos e equipamentos necessários. Na MindMimics iremos também oferecer o serviço, em que testaremos os produtos dos nossos clientes nos nossos organoides cerebrais”, acrescentou.

O projeto MindMimics foi distinguido com o 3.º prémio do Amyris Innovation BIG Impact Award, um concurso de inovação em biotecnologia organizado pela Associação de Antigos Alunos da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa (ESB-UCP), no Porto, em parceria com a ESB e a Amyris Bio Products Portugal.

Nesta que foi a 1.ª edição, foram avaliadas mais de 40 candidaturas a nível nacional e internacional, sendo que o projeto liderado por Laura Frazão recebeu um prémio no valor de mil euros.

LUSA/HN

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