Insistir na política de zero casos sem alta vacinação em Macau é “atrasar o inadiável”

1 de Novembro 2021

O epidemiologista Manuel Carmo Gomes considerou que territórios como Macau que insistiram na política de zero casos de Covid-19 não provocaram a necessidade às pessoas de se vacinarem e “estão apenas a atrasar o inadiável”.

É muito difícil sem ter uma vacinação muito alta conseguir aguentar com medidas dessas. Estão apenas a atrasar o inadiável”, afirmou à Lusa o professor, investigador e epidemiologista da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, figura frequente nas reuniões da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed).

Macau foi um dos primeiros territórios a registar casos de Covid-19, em janeiro de 2020. Numa primeira fase chegou a ser considerado um caso de sucesso mundial na contenção do vírus.

Controlou as fronteiras, rastreou os casos suspeitos, impôs pesadas quarentenas a todos os que regressavam, disponibilizou máscaras a toda a população a um preço unitário de menos de 10 cêntimos e o seu uso era, e continua a ser, quase generalizado.

Mas passado mais de um ano e meio desde o início da pandemia, a ‘receita’ do território permanece quase inalterada. Macau continua praticamente fechado ao mundo, proibindo a entrada a estrangeiros não residentes, e as novas medidas epidémicas vão no sentido contrário à esmagadora maioria de outros países e territórios.

Em setembro, por exemplo, após o território ter detetado casos de Covid-19 em funcionários de um hotel para quarentenas, as autoridades encerraram todas as escolas, bares e discotecas e outros espaços públicos, apesar de o surto ter acabado por se limitar a uma dezena de casos.

As autoridades decretaram ainda várias testagens em massa da população do território, que registou apenas 77 casos da doença desde o início da pandemia.

Esta receita, na opinião de Manuel Carmo Gomes, é contraproducente, porque apesar de ser possível controlar a propagação de casos através de fortes confinamentos, esta política provoca uma sensação de segurança, que pode ser um obstáculo à vacinação.

“Países que apostaram na política de zero casos rapidamente perceberam que a população não adere à vacinação, porque não sente que existe um perigo real. É o caso da Nova Zelândia e da Austrália, que já abandonou a política de casos zero e está a apostar na vacinação”, detalhou.

“Se houver muito poucos casos devido a esses confinamentos muito rigorosos as pessoas não sentem necessidade de se vacinar”, reforçou.

Em Macau, com uma população de cerca de 680 mil pessoas, a campanha de vacinação, voluntária, gratuita, e com a possibilidade de escolha entre duas vacinas, a Sinopharm e a BioNTech, arrancou em fevereiro, mas pouco mais de 50%% da população está totalmente vacinada.

Para reforçar esta tese, o investigar recordou ainda o caso do Vietname, “que teve uma política de confinamentos muito rigorosa, que realmente controlou muito bem a pandemia, e agora as pessoas não se vacinam, porque não sentem que exista necessidade de o fazer”.

Para Manuel Carmo Gomes, a política de zero casos “consegue-se aguentar com uma variante menos contagiosa do que esta (…), mas agora com a Delta isso é impossível, porque é tão contagiosa como a varicela”.

LUSA/HN

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