Número de doentes com cancro da mama avançado em ensaios clínicos no Reino Unido é reduzido

4 de Novembro 2021

Médicos e cientistas precisam de fazer mais para encorajar as pessoas com cancro da mama avançado no Reino Unido a participar em ensaios clínicos, defendeu uma representante dos doentes.

O apelo deixado por Lesley Stephen, na reunião virtual da Sexta Conferência Internacional de Consenso sobre Cancro de Mama Avançado (ABC 6), surge na sequência de um estudo lançado em maio de 2021 no Reino Unido, que permanece aberto, mas do qual se retiraram já as seguintes conclusões: “os doentes com cancro de mama avançado não têm muitas oportunidades para participar em ensaios clínicos; bases de dados de fácil utilização são urgentemente necessárias; e muitos doentes estão dispostos a viajar para participar num ensaio, sobretudo se tiverem apoio financeiro”, fez saber a representante dos doentes.

A análise das 627 respostas recolhidas até 23 de agosto mostra que 77% dos doentes nunca tinham sido convidados a participar num ensaio clínico e 69% não tinham perguntado ao seu clínico sobre os ensaios. Apenas 14% tinham sido recrutados para um ensaio; destes, 80% consideraram que foi uma experiência positiva. Aqueles que perguntaram sobre os ensaios (31%) receberam uma variedade de respostas, que variaram de positivas e de apoio a “vagas e negativas”.

Quando questionados sobre os benefícios da participação em ensaios clínicos, 90% responderam ser benéfico para futuros doentes, 63% mostraram-se preocupados com os potenciais efeitos secundários dos tratamentos e 43% (268) estavam inseguros. Trinta e um por cento dos doentes receavam não compreender o objetivo do ensaio e 8% tinham outras preocupações, como receberem um placebo. A maioria dos doentes (78%) preferia obter informação sobre ensaios clínicos de fonte fidedigna, como profissionais de saúde, e 90% (535) pesquisariam uma base de dados se fosse fácil de utilizar. Dos doentes que procuraram informação sobre ensaios, 57% não a encontraram.

Quando questionados sobre viajar para entrar num ensaio clínico, 56% estavam dispostos a fazê-lo, dos quais 37% até um máximo de 2 horas para outro hospital e 43% para outro país. Com os custos das viagens reembolsados, a proporção de doentes dispostos a viajar aumenta para 61%.

“Os médicos agem como porteiros e este estudo mostra que muitas vezes não mencionam ou discutem ensaios e, se o fazem, tendem a procurar apenas ensaios locais e não perguntam aos seus pacientes se estão dispostos e aptos a viajar. Eles têm muito poder no relacionamento e precisamos de encorajá-los a discutir ensaios como uma opção de tratamento com os seus doentes”, disse Stephen. O comunicado de imprensa acrescenta que a indústria farmacêutica também precisa de ajudar e que os doentes devem ser educados sobre ensaios clínicos e ser proactivos na busca dessa oportunidade.

Este estudo foi motivado pela experiência pessoal de Lesley Stephen, que participa num ensaio clínico há quase seis anos – “isso deu-me seis anos de vida que eu nunca esperei ter”, contou. Quando falou com outras doentes e percebeu que a maioria nunca tinha tido uma conversa com o seu oncologista sobre um ensaio clínico, decidiu unir-se ao Professor Carlo Palmieri, consultor em oncologia médica no Clatterbridge Cancer Centre, à Universidade de Liverpool, à Professora Janet Dunn, chefe da unidade Warwick Clinical Trials da Universidade de Warwick, e à Dra. Ellen Copson, professora associada de oncologia médica na Universidade de Southampton, para conduzir este estudo no Reino Unido.

A presidente da conferência do ABC 6 e diretora da Unidade de Mama do Centro Clínico Champalimaud em Lisboa, Fatima Cardoso, que não esteve envolvida na investigação, comentou: “Este estudo levanta algumas questões importantes sobre o acesso a ensaios clínicos para doentes com cancro da mama em estado avançado. Os ensaios clínicos são a única forma de fazer avançar o conhecimento sobre como tratar o cancro e de provar o valor de novas terapias. Todos nós – clínicos, investigadores, indústria farmacêutica, grupos académicos e financiadores – precisamos trabalhar juntos para reverter esta situação. Este não é um problema apenas no Reino Unido; na maioria dos países é difícil para os pacientes com cancro da mama avançado participar em ensaios clínicos e, em alguns países, é impossível. Isto precisa de mudar urgentemente para que possamos encontrar novas terapias e proporcionar melhores cuidados a estes doentes”.

PR/HN/Rita Antunes

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