Em declarações à Lusa, Rute Sampaio, investigadora da FMUP/CINTESIS, revelou hoje que o estudo, distinguido com o Prémio Grunenthal Dor 2020, visava perceber as razões que motivavam a não adesão terapêutica de doentes com dor crónica, tendo por base a perspetiva dos doentes.
“Não aderentes não quer dizer que não fazem o tratamento. A não adesão terapêutica implica o seguir determinada recomendação médica, naquela dosagem e frequência, é um processo que se inicia, se implementa e que persiste ao longo do tempo”, esclareceu a investigadora.
O estudo envolveu 562 doentes que, acompanhados em cinco unidades de dor crónica do distrito do Porto (Hospital São João, Hospital Santo António, IPO-Porto, Hospital de Gaia e Hospital de Matosinhos), participaram em quatro momentos: numa avaliação inicial, numa avaliação após sete dias, numa avaliação ao fim de seis meses e numa avaliação ao fim de um ano.
“Verificámos que ao longo do tempo houve um aumento da não adesão terapêutica”, afirmou Rute Sampaio, revelando que após sete dias da avaliação inicial 37% dos participantes já não tomavam a medicação.
O estudo mostrou ainda que ao fim de um ano mais de metade dos participantes (51%) já não aderiam à terapêutica prescrita.
“Tentámos perceber se havia alguma associação entre as razões que os doentes davam para a não adesão ao tratamento prescrito com o tipo de fármaco”, observou a investigadora.
Depois de uma análise de conteúdo, os investigadores categorização 13 razões para a não adesão terapêutica, na sua maioria de índole intencional.
“A maioria da não adesão é intencional e as principais razões apontadas prendiam-se com crenças, a perceção/eficácia, preocupações com efeitos secundários sem os terem, atraso do início da medicação com opioides, alteração da medicação por outros profissionais de saúde e razões económicas”, afirmou.
Considerando os resultados obtidos, a investigadora disse ser “muito revelador” o facto de 37% dos participantes não aderirem à terapêutica ao fim de sete dias.
“Nos primeiros seis meses é crucial fazer-se uma intervenção nos doentes e perceber o que está a acontecer para o doente não estar a seguir aquele tratamento. Se conseguíssemos fazer isto nos primeiros três e seis meses conseguíamos diminuir muito a não adesão”, observou, acrescentando ser necessário “aprofundar” esta temática.
“Há uma diferença entre eficácia e efetividade. Os tratamentos são eficazes no contexto clínico, eles funcionam, mas a efetividade do tratamento é aquilo que não se mede, no dia a dia das pessoas. Os doentes têm de se sentir à vontade para terem toda a informação que pretendem, esclarecer todas as dúvidas e um espaço onde podem transmitir as suas próprias crenças”, considerou.
A investigação clínica desenvolvida por Rute Sampaio foi distinguida com o Prémio Grunenthal Dor no valor de 7.500 euros.
LUSA/HN
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