Andreia Garcia: “A integração de um profissional de Relações Públicas, em cada um dos ACeS, deve ser uma prioridade”

23 de Novembro 2021

Uma proporção significativa dos fatores que podem originar doenças está relacionada com comportamentos que podem ser influenciados através da Comunicação, refere a investigadora Andreia Garcia, também diretora-geral da agência Miligrama Comunicação em Saúde.

Andreia Garcia, investigadora do Instituto Universitário de Lisboa e da Escola Superior de Comunicação Social, alerta para a necessidade de se integrar profissionais de Relações Públicas em cada um dos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACeS). O objetivo é que os cuidados de saúde primários possam comunicar estrategicamente, promovendo a saúde e a prevenção da doença, com a finalidade de mudar os comportamentos da população.

“O meu propósito foi perceber de que forma a Comunicação que tem sido desenvolvida pelos ACeS está a contribuir para alcançar os seus objetivos, dando cumprimento à sua missão, conduzir as pessoas em torno de comportamentos que tragam benefícios na saúde”, afirma a autora da investigação, realizada no âmbito do seu Doutoramento em Ciências da Comunicação.

De acordo com Andreia Garcia, o grande contributo deste trabalho passa pela reflexão sobre a ausência da Comunicação, enquanto processo intencional e planificado, nos cuidados de saúde primários, e pelo questionamento, dirigido para investigações futuras, sobre as consequências que esta “negligência” terá para os utentes e para a sociedade de forma geral.

“Uma proporção significativa dos fatores que podem originar doenças está relacionada com comportamentos que podem ser influenciados através da Comunicação. Segundo os resultados da investigação, concluímos que a Comunicação nos cuidados de saúde primários é assumida como uma responsabilidade da equipa médica, a quem acresce tantas outras responsabilidades, como as de prestar cuidados de saúde”, refere Andreia Garcia, também diretora-geral da agência Miligrama Comunicação em Saúde.

E conclui: “A Comunicação, neste setor da saúde, parece ser percecionada como uma função opcional, ao dispor dos que tiverem maior interesse ou disponibilidade. Por isso, é premente profissionalizar esta área. A integração de um profissional de Relações Públicas, em cada um dos ACeS, deve ser uma prioridade, de forma que sejam delineadas estratégias eficazes, com base em objetivos previamente definidos, para alcançar públicos específicos, conduzindo-os à mudança”.

Esta investigação adotou uma abordagem convergente de métodos mistos. De 2018 a 2020, foram recolhidos dados provenientes de dez peritos; 885 utentes do Serviço Nacional de Saúde; 19 diretores executivos de ACeS; 446 coordenadores de unidades funcionais; sete websites e 2026 publicações de oito páginas de ACeS, na rede social Facebook. Foram realizadas visitas a quatro sedes de ACeS de Lisboa e Vale do Tejo; analisados cinco folhetos; e 857 notícias publicadas nos órgãos de comunicação social sobre os cuidados de saúde primários.

Os Agrupamentos de Centros de Saúde (ACeS) têm como responsabilidade a prestação de cuidados de saúde primários, a nível nacional. No ato da sua criação, em 2008, ficou expresso que para cumprir a sua missão, desenvolvem, entre outras medidas, iniciativas de promoção da saúde e de prevenção da doença (Decreto-Lei n.º 28/2008).

Todos os anos morrem, em Portugal, mais de 100 mil pessoas, vítimas, maioritariamente, de doenças cerebrocardiovasculares, a principal causa de mortalidade, no nosso país. Os acidentes vasculares cerebrais causaram, em 2018, mais de 11 mil mortes; a doença isquémica do coração provocou 7,241 óbitos e registaram-se 4,620 mortes por enfarte agudo do miocárdio, ou seja, 4,1% da mortalidade. Na origem destas doenças estão, em parte, os hábitos associados aos estilos de vida, como o tabagismo, o consumo excessivo de sal ou o sedentarismo.

Este trabalho foi realizado no âmbito do Doutoramento em Ciências da Comunicação, do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), em parceria com a Escola Superior de Comunicação Social – Instituto Politécnico de Lisboa (ESCS-IPL), com a orientação da Prof. Doutora Mafalda Eiró-Gomes.

 

Consulte o texto integral do estudo AQUI

PR/HN

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