Pandemia teve um “terrível impacto” na mobilidade das pessoas

11 de Dezembro 2021

A neurologista Ana Verdelho afirmou na sexta-feira que a pandemia teve um “terrível impacto” na mobilidade das pessoas, contando que teve doentes que deixaram de andar nos períodos de confinamento.

“A pandemia teve um terrível impacto, a mobilidade das pessoas perdeu-se, a atividade social perdeu-se, a atividade cognitiva perdeu-se, portanto, houve de facto uma redução de todos os estímulos que nós tínhamos”, disse a coordenadora da consulta de demências do Hospital Santa Maria, em Lisboa, e uma das autoras do livro “Toca a Mexer”, lançado ontem.

Questionada se a pandemia já está a ter reflexo a nível das demências, Ana Verdelho afirmou que neste momento não se sabe porque houve “uma enorme mortalidade das pessoas mais velhas”.

“A esperança” e “o desejo” dos especialistas é que se consiga ir contrariando o número de pessoas com demência em Portugal (217 mil), “mas seguramente irão aumentar”.

“A sobrevivência reduziu, mas também se reduziu a qualidade de vida das pessoas e se conseguirmos com um manual ajudá-las a manterem-se ativas seja em casa, seja no jardim, seja onde for, penso que demos o nosso contributo à comunidade, foi essa a ideia”, salientou a investigadora da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

A investigadora e também autora do livro, Helena Santa-Clara, adiantou, por seu turno, que o confinamento no grupo de participantes no estudo “foi dramático” devido ao isolamento social e à dificuldade de terem orientações específicas neste caso para a atividade física.

“Não sendo médica, não serei a melhor pessoa para poder relatar a gravidade como que chegam à parte clínica, mas ao nível da saúde mental geral, da satisfação das pessoas que nós acompanhamos nos programas, eles sentiram-se muito”, contou a especialista em Fisiologia do Exercício.

Helena Santa Clara adiantou que continuaram a supervisionar os participantes e fizeram sessões através de ‘zoom’, mas, disse, “e completamente diferente”.

“Acho que há duas faixas de população que sofreram imenso com o confinamento: as crianças e as pessoas mais idosas”, rematou.

Ana Verdelho apontou, por outro lado, que os doentes estão a chegar muito mais tarde ao hospital, porque têm medo de lá ir, adiam as consultas e não são avaliados.

“Infelizmente não se está a atuar precocemente e infelizmente eu posso dizer que tenho doentes que deixaram de andar nos períodos de confinamento e depois com esforço, percebendo que era necessário, voltaram a recuperar a marcha”, lamentou Ana Verdelho.

Daí a importância da atividade física para prevenir a demência, mas também outros aspetos como o controle da hipertensão, da diabetes, a alimentação e o bem-estar psicológico ao longo da vida.

Isto porque, apesar de haver tratamentos que melhoram muito a vida das pessoas com demência, nenhum “é curativo”.

O manual “Toca a mexer” resultou de uma investigação científica que decorreu durante dois anos e que promoveu a prática da atividade física em pessoas com problemas cognitivos de causa vascular, com o objetivo de avaliar se a atividade física era benéfica para melhorar a capacidade cognitiva, bem como a parte motora e o estado emocional.

As 130 páginas do manual estão ilustradas com exercícios para melhorar a saúde cerebral e a capacidade motora, acompanhadas de instruções de como se devem fazer corretamente e de estratégias para lidar com a diminuição da rapidez de pensamento, entre outras dicas.

LUSA/HN

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