Estudo determina com precisão qual a área do cérebro a que corresponde o clitóris

21 de Dezembro 2021

Uma equipa de investigadores conseguiu definir, pela primeira vez com precisão, a localização da representação do clitóris no cérebro das mulheres, revela um estudo divulgado na segunda-feira.

A investigação, divulgada pela revista científica JNeurosci, demonstra ainda que a área do cérebro ativada durante a estimulação do clitóris é mais extensa em mulheres que têm mais relações sexuais.

O estudo foi realizado através da estimulação do clitóris de 20 mulheres, enquanto era realizada uma ressonância magnética dos seus cérebros.

Apesar das conclusões, os investigadores explicaram que continuam por responder questões como se uma área maior [no cérebro] permite que a mulher perceba melhor as sensações, ou se o tamanho dessa área leva a realizar mais relações sexuais ou se um maior número de relações sexuais fazem essa área crescer.

No entanto, este trabalho pode ajudar a desenvolver melhores tratamentos para pessoas que sofreram violência sexual ou que sofrem de distúrbios sexuais.

“A forma como os órgãos genitais femininos são representados no córtex sensorial humano é completamente subestimada”, salientou à agência AFP a professora de psicologia médica do Charité University, em Berlim, e coautora do estudo, Christine Heim.

“Essa falta de conhecimento tem impedido as investigações sobre comportamentos sexuais padrão, mas também sobre condições patológicas”, vincou.

Quando uma parte do corpo é afetada, a atividade neural é desencadeada no córtex, visto que cada parte do corpo corresponde a uma área diferente do cérebro, o que forma uma espécie de mapa corporal.

Até agora, a localização precisa relativa aos órgãos genitais femininos continuam a ser alvo de debate.

Estudos anteriores colocavam estes perto da representação do pé ou do quadril.

Em 2005, utilizando uma técnica que imita uma sensação tátil muito localizada, investigadores conseguiram determinar a localização precisa da representação para o órgão sexual dos homens, mas faltava obter a mesma determinação nas mulheres.

Este estudo divulgado na segunda-feira selecionou 20 mulheres saudáveis com idades entre os 18 e 45 anos, que foram estimuladas com um pequeno objeto redondo desenhado especificamente para a investigação.

A abordagem pretendia ser “o mais confortável possível” para as participantes, referiu John-Dylan Haynes, outro coautor do estudo.

Foram realizados oito estímulos do clitóris, de dez segundos cada, intercalados com dez segundos de repouso, além de oito estímulos nas costas da mão direita, para comparação.

A conclusão do estudo é que, para as mulheres e os homens, a representação dos órgãos sexuais no cérebro está localizada próxima à do quadril.

No caso das mulheres, a localização precisa varia de pessoa para pessoa naquela área.

No seguimento da investigação, os cientistas estudaram se esta área exibia características diferentes dependendo da atividade sexual.

As 20 mulheres foram questionadas sobre a frequência das relações sexuais durante o último ano, bem como desde o início da vida sexual.

Em cada mulher os investigadores determinaram os dez pontos mais ativados no cérebro durante a estimulação e mediram a área obtida.

“Encontramos uma ligação entre a espessura da região genital e a frequência das relações sexuais”, principalmente nos últimos 12 meses, referiu Christine Heim.

“Quantas mais relações sexuais, mais grossa é”, acrescentou.

A plasticidade cerebral é reconhecida, sendo que partes do cérebro desenvolvem-se conforme uma função é usada, mas não foi possível estabelecer diretamente uma ligação para este estudo.

Trabalhos anteriores em animais mostraram, no entanto, que a estimulação dos órgãos genitais de ratos efetivamente levou à expansão da área do cérebro correspondente aqueles órgãos.

O estudo também não determinou se uma área maior corresponde a uma melhor perceção.

Mas Christine Heim já tinha demonstrado, através de um estudo publicado em 2013, que as pessoas que sofreram violência sexual traumática tinham uma área genital reduzida.

“Consideramos como hipótese, na altura, que esta circunstância podia ser a resposta do cérebro para limitar o efeito prejudicial do abuso”, sustentou, referindo que futuramente, o objetivo é desenvolver formas de ajudar os pacientes.

LUSA/HN

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