Informação científica sobre redução de período de isolamento é pouco robusta, dizem médicos de saúde pública

29 de Dezembro 2021

A Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública considerou esta quarta-feira que a informação científica que suporta a redução do período de isolamento de doentes com Covid-19 “não é muito robusta”, defendendo que as vantagens desta medida devem ser discutidas.

As autoridades de Saúde norte-americanas reduziram de dez para cinco dias a duração do período de isolamento das pessoas que testam positivo para a Covid-19, desde que estejam assintomáticas, e o Governo britânico reduziu esse prazo de dez para sete dias para pessoas vacinadas que ficaram infetadas.

Segundo fonte dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, esta orientação está em sintonia com indicações crescentes de que as pessoas infetadas com Covid-19 são mais contagiosas dois dias antes e três dias depois de desenvolverem sintomas.

O presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP), Ricardo Mexia, disse à Lusa compreender as razões que levam a pôr em cima da mesa a redução do período de isolamento profilático, mas defendeu ser “importante perceber que a evidência (informação) que suporta essa decisão não é muito robusta”.

“Nós sabemos que há uma maior carga viral num momento próximo do início dos sintomas e, portanto, essa possibilidade de reduzir o período de isolamento contribui para um maior cumprimento da medida, no sentido em que é metade do tempo de isolamento anteriormente preconizado, mas do ponto de vista da evidência (informação) científica que a suporta ela não é assim tão robusta e, portanto, acho que temos que discutir as vantagens da medida”, defendeu.

Para o médico de Saúde Pública e epidemiologista, a decisão é uma questão “mais operacional” do que propriamente de saúde.

“Eu percebo que é uma questão mais operacional e que fruto da enorme transmissibilidade [da variante Ómicron] isto compromete muito o posicionamento da economia, porque estamos efetivamente a pôr muita gente em casa em isolamento e, portanto, reduzir esse tempo para metade, naturalmente, reduz o impacto de forma muito significativa”, justificou.

Questionado se perante o aumento exponencial de casos Covid-19, e a confirmar-se a menor gravidade da infeção causada pela variante Ómicron do coronavírus SARS-CoV-2, devia deixar-se que as pessoas se imunizassem naturalmente, o epidemiologista afirmou que “a questão da imunidade natural talvez não seja o caminho”.

“A questão que se coloca a meu ver é se estamos dispostos a assumir o que isso implica, que é respetivamente passarmos a lidar mais com a doença do que com a infeção”, salientou.

Ricardo Mexia explicou que é deixar de estar à procura de episódios assintomáticos e ter a capacidade de resposta para lidar com os casos.

“Se acharmos que o nosso sistema de saúde aguenta suportar depois o impacto dos novos casos na prestação sem comprometer quer a oferta covid, quer a oferta de cuidados de saúde para outras doenças, então essa é uma possibilidade”, afirmou.

Alertou, contudo, não ser linear que, perante um aumento de casos que pode ser muito elevado, a fração de casos com gravidade, que embora seja “bastante mais pequena”, atendendo à cobertura vacinal, não represente um número significativo de casos que depois precisam de ser tratados pelo sistema de saúde.

“Se nós acharmos que temos essa capacidade e assumirmos que vai aumentar quer a severidade, quer a mortalidade isso é uma possibilidade”, rematou.

Portugal registou hoje um novo máximo de novas infeções diárias desde o início da pandemia (26.867), segundo a Direção-Geral da Saúde.

Desde março de 2020, já morreram 18.921 pessoas em Portugal e foram contabilizados 1.330.158 casos de infeção.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Mónica Nave: “É muito importante conhecer as histórias familiares de doença oncológica”

No âmbito do Dia Mundial do Cancro do Ovário, a especialista em Oncologia, Mónica Nave, falou ao HealthNews sobre a gravidade da doença e a importância de conhecer histórias familiares de doença oncológica. Em entrevista, a médica abordou ainda alguns dos principais sintomas. De acordo com os dados da GLOBOCAN 2022, em Portugal foram diagnosticados 682 novos casos de cancro do ovário em 2022. No mesmo ano foi responsável por 472 mortes, colocando-o como o oitavo cancro mais mortal no sexo feminino.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights