A campanha resultou da preocupação da Ordem dos Médicos Dentistas (OMD) com a crescente oferta de serviços médico-dentários na internet sem a intervenção do médico dentista, incluindo o autotratamento ortodôntico em que o doente coloca diretamente o aparelho.
“Tudo isto vem de uma participação de vários colegas e também de alguns doentes relativamente à crescente oferta de serviços de medicina dentária”, através de anúncios publicitários ‘online’, que deturpa “os princípios de atuação médica”, adiantou o bastonário da OMD.
Miguel Pavão explicou que o tratamento ortodôntico tem “alguma complexidade” e requer “um conhecimento de causa pelo médico dentista e também um acompanhamento de perto e de grande compromisso” pelo especialista.
“Não pode nunca dispensar qualquer tipo de consultas de diagnóstico, de planeamento, de avaliação de controlo, e o que nunca pode estar aqui em causa é ser o doente a fazer passos cruciais para esse mesmo diagnóstico”, advertiu.
Miguel Pavão exemplificou que há casos em que é próprio doente que faz a autoavaliação, através de fotografias do tipo ‘selfie’ obtidas por telemóvel.
“Em certos casos é o doente que faz impressões [modelos de estudo] a si próprio, que faz o registo da arcada e da forma dos seus dentes, e isto tem realmente alguns riscos para o doente e põe em causa erros neste diagnóstico e obviamente em todo o plano de tratamento”, realçou.
Depois deste procedimento, os aparelhos (geralmente alinhadores) são enviados para o doente por correio mediante o pagamento de uma verba, sendo que a monitorização do progresso do tratamento ocorre, maioritariamente ou exclusivamente, sem contacto físico do dentista com o doente.
Apesar da Ordem dos Médicos Dentistas já ter transmitido esta preocupação à Entidade Reguladora da Saúde, decidiu lançar uma campanha dirigida à população para alertar para “as consequências graves destes procedimentos, sejam resultados de qualidade inferior, necessidade de tratamentos adicionais ou, nos casos mais graves, danos irreversíveis na saúde oral”.
“Os tratamentos de teleconsultas estão previstos em muitos casos e agora com a pandemia verificaram-se bastantes e com razão. Contudo, não podemos nunca inverter aquilo que são as exigências do acompanhamento médico e das consultas com passos fundamentais para o diagnóstico e para o tratamento”, defendeu.
A OMD salienta que é fundamental não só avaliar a evolução do tratamento, mas também detetar precocemente possíveis complicações, tal como movimentos dentários indesejáveis, reabsorção das raízes, problemas que afetam as gengivas e o suporte dos dentes ou outras patologias intraorais.
Miguel Pavão aconselha os doentes a conhecerem o nome do dentista responsável pelo tratamento e a garantir que têm contacto direto com o profissional, bem como a rejeitarem estes tratamentos, que só podem ser realizados por dentistas inscritos na Ordem.
A campanha da OMD abrange televisão, rádio e redes sociais.
LUSA/HN
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