Amnistia Internacional acusa farmacêuticas de privilegiarem lucro e não as pessoas nas vacinas

15 de Fevereiro 2022

Uma avaliação da Amnistia Internacional acusa as grandes farmacêuticas produtoras de vacinas contra a Covid-19 de terem privilegiado o lucro e os seus interesses em detrimento de uma distribuição equitativa de vacinas, resultando numa “catástrofe humanitária”.

O relatório, que é uma atualização de um outro anterior divulgado em setembro de 2021, intitulado “Uma Dose Dupla de Desigualdade, as empresas farmacêuticas e a crise das vacinas contra a covid-19”, acusa as farmacêuticas de “tragicamente falharem o desafio de estar à altura de uma crise sanitária e de direitos humanos humanitária, que acontece uma vez num século”.

“Ao invés, monopolizaram a tecnologia, bloquearam e fizeram ‘lobbying’ contra a partilha de propriedade intelectual, cobraram preços elevados pelas vacinas e deram prioridade ao fornecimento de países ricos”, lê-se num comunicado de imprensa da Amnistia Internacional hoje divulgado, relativo ao relatório atualizado de avaliação aos produtores de vacinas.

Sob escrutínio da organização internacional de defesa dos direitos humanos estão a Astrazeneca, a Johnson&Johnson, a Moderna, a Pfizer/BionTech, a Sinopharm e a Sinovac.

As dez milhões de doses de vacinas produzidas em 2021 seriam suficientes para atingir o objetivo da Organização Mundial de Saúde (OMS) de vacinar pelo menos 40% da população mundial até ao final do ano passado, mas os números demonstram que nos países mais pobres apenas cerca de 4% da população está completamente vacinada contra a Covid-19.

Segundo a Amnistia Internacional (AI), mais de 1,2 mil milhões de pessoas de países de baixo e médio-baixo rendimento poderiam ter sido vacinadas até ao final de 2021, mas as farmacêuticas acabaram a desempenhar um papel determinante na “catástrofe de direitos humanos”, quando poderiam ter sido “os heróis de 2021”.

“Em vez disso, voltaram as costas aos que mais precisavam das vacinas e continuaram a sua atividade como de costume, colocando os lucros à frente das pessoas”, disse Rajat Khosla, diretor da AI, citado no comunicado, acrescentando que fazer de 2022 o último ano da pandemia obriga a “mudar de rumo” para atingir o objetivo da OMS de 70% de vacinados até julho.

De acordo com o relatório, a Johnson&Johnson foi a farmacêutica que mais vacinas distribuiu a países de baixo rendimento, aos quais chegaram 20% das vacinas que a empresa produziu. As restantes têm percentagens bastante inferiores, de 2% ou menos, sendo a Sinovac a que menos doses fez chegar a estes países (0,4%).

As percentagens de distribuição sobem significativamente se se falar de países de rendimento médio-baixo, com 70% das vacinas da Astrazeneca a terem como destino estes países. A Pfizer/BionTech tem uma percentagem de apenas 14%.

A AI nota, no entanto, que muitas destas doses chegaram aos países mais pobres como doações dos mais ricos e não no seguimento de acordos de compra e sublinha que as farmacêuticas com melhor registo na distribuição de vacinas nestes países – Astrazeneca e Johnson&Johnson – insistem em não partilhar patentes ao abrigo de iniciativa coordenadas pela OMS e começam a abandonar o seu modelo de comercialização sem lucro.

“Apesar de milhares de milhões de investimento público, estas empresas continuam a colocar a sua ganância à frente da sua responsabilidade perante os direitos humanos. É muito preocupante que os lucros sejam prioritários em relação às pessoas, mesmo que a covid-19 já tenha feito mais de 5,6 milhões de mortos”, disse Rajat Khosla, citado no comunicado, no qual a AI insiste na necessidade de partilhar patentes e apela à responsabilidade dos investidores.

A Covid-19 provocou pelo menos 5.813.329 mortos em todo o mundo desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.

Em Portugal, desde março de 2020, morreram 20.565 pessoas e foram contabilizados 3.093.723casos de infeção, segundo a última atualização da Direção-Geral da Saúde.

A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China.

A variante Ómicron, que se dissemina e sofre mutações rapidamente, tornou-se dominante no mundo desde que foi detetada pela primeira vez, em novembro, na África do Sul.

LUSA/HN

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