Estas conclusões resultam do “Inquérito às Práticas Culturais dos Portugueses 2020”, envolvendo uma amostra de 2.000 inquiridos, realizado em vários domínios pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, com financiamento da Fundação Calouste Gulbenkian.
Na área das práticas culturais de frequência de museus, monumentos históricos, sítios arqueológicos e galerias de arte, nos 12 meses anteriores ao início da pandemia, 31% dos inquiridos disseram ter visitado monumentos históricos, 28% frequentaram museus, 13% deslocaram-se a sítios arqueológicos, e 11% frequentaram galerias de arte.
As visitas a estes espaços patrimoniais através da Internet também privilegiam os monumentos históricos – visitados por 14% dos inquiridos – e os museus, em 13%.
O inquérito reúne “informação socialmente relevante e estatisticamente representativa da população residente em Portugal, regiões autónomas incluídas, com 15 ou mais anos de idade”, tendo os investigadores concluído que, tendo em conta a última visita a estes espaços patrimoniais, 70% dos visitantes tinham escolaridade superior, contra apenas 11% com escolaridade até ao 3.º ciclo.
Entre os motivos que levaram os inquiridos a visitar museus, monumentos históricos, sítios arqueológicos e galerias de arte destaca-se a importância histórica do espaço, assinalada por 40%, depois as motivações de natureza sociabilística e estética, com 33%, e 31% pela beleza do espaço e das obras expostas.
Mais de metade dos visitantes (58%) deslocou-se a outro concelho do país, num “trânsito interconcelhio”, que os investigadores consideram ser movido pelo “desejo de acercamento ao património cultural”, que se “afigura potenciador do reforço da identidade nacional”, enquanto 28% assinalaram frequentar estes espaços no concelho onde habitam, e 12% em deslocações ao estrangeiro.
“Não surpreende que, no conjunto dos espaços reconhecidos como património mundial, os mais visitados, pelo menos uma vez na vida, sejam o Mosteiro dos Jerónimos (63%), a Torre de Belém (61%) e o Mosteiro da Batalha (59%)”, indicam no estudo a partir do inquérito resultante de um trabalho de campo com entrevistas realizadas nos últimos meses de 2020.
Os investigadores concluíram ainda que estas práticas culturais são altamente sociais, com apenas 4% dos inquiridos a realizá-las sozinhos, enquanto 65% vão com familiares, 27% com namorado/a ou amigos, e 8% com um grupo de escola.
De entre as razões invocadas para não se ter visitado, ou ido mais vezes, a um espaço patrimonial, destacam-se a falta de tempo (39% dos inquiridos), a falta de interesse, ou preferência por outras atividades (38%), e o preço elevado (21%).
É entre os inquiridos com mais baixas qualificações académicas (50%) ou de classe socioprofissional mais modesta – como acontece com 50% dos operários e 43% dos trabalhadores de serviços – que mais apontam a falta de interesse, ou preferência por outras atividades, como razão para não visitar estes espaços patrimoniais.
Globalmente, indica ainda o estudo, os museus de história e de arte tiveram maior afluência, seguindo-se os museus de ciência, as casas-museu, os museus multidisciplinares e de etnografia.
“De facto, as entidades museológicas dedicadas à história e à arte figuram entre as que têm tido um crescimento mais significativo, talvez por terem faltado ao país, durante quase todo o século XX, museus com arte do seu tempo”, conclui a pesquisa.
Referem ainda, por outro lado, a tendência, verificada nas últimas décadas em Portugal, de crescimento do número de museus e de centros de ciência.
Mas ressalvam que a taxa de frequência destes espaços é baixa, não “correspondendo nem acompanhando o investimento forte, nas últimas décadas, na promoção da cultura científica”.
No estudo, os investigadores apontam também os vários desafios que estes espaços enfrentam atualmente, no país, para conseguir reconhecimento e proporcionar aprendizagens e experiências, pois competem cada vez mais com uma crescente oferta cultural, para atrair públicos com escolarização crescente, e com perfis diferentes, nacionais e estrangeiros.
“Necessitam cumprir a transição para o digital, instigada obrigatoriamente em 2020, momento de exposição de fragilidades tecnológicas, para não ficarem excluídos do entrecruzamento de ‘online’ e ‘offline’ nas práticas culturais”, sugerem.
Num cenário de “mutações e redefinições potenciais, [estes espaços] têm de lidar com tendências fortes de evolução demográfica, como o crescimento destacado da população mais velha, a que menos tem transposto as portas de entrada destes espaços no contexto português”, apontam.
O estudo coordenado por José Machado Pais, Pedro Magalhães e Miguel Lobo Antunes, numa equipa ainda composta por Emanuel Cameira, Jorge Rodrigues da Silva, Rui Telmo Gomes, Teresa Duarte Martinho, Tiago Lapa e Vera Borges, e tem como objetivo oferecer aos decisores políticos, às instituições culturais, aos seus gestores e aos artistas, “informação precisa para se compreender as práticas culturais dos portugueses”.
LUSA/HN
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