“Estamos em estado de prontidão, quer de equipas quer de instalações, para receber os doentes que pensarem ser mais adequados para o Hospital de São João”, disse Fernando Araújo.
O presidente do Centro Hospitalar e Universitário de São João (CHUSJ) especificou que “as camas disponibilizadas ao Ministério da Saúde incluem camas de adultos e de crianças, Obstetrícia, Psiquiatria, mas também para cuidados oncológicos e acamados”, entre outras especialidades.
O responsável, que falava aos jornalistas para fazer um ponto de situação após a chegada da primeira doente ucraniana acolhida em Portugal, reiterou que “a ideia é ter uma panóplia alargada para poder vir a receber qualquer tipo de doentes que possam precisar de apoio”.
“O Hospital de São continua disponível para receber mais doentes da Ucrânia inserido num plano global nacional de cooperação internacional e sempre com enorme espírito de solidariedade com o povo ucraniano”, acrescentou.
Esta madrugada chegou ao Porto uma doente proveniente da Ucrânia que viajou de ambulância de Lviv para Varsóvia, na Polónia, e daí para o Porto com escala em Lisboa.
A operação foi acompanhada pelas equipas clínicas da ONG Médicos do Mundo.
Questionado sobre porque foi escolhido o Hospital de São João para este acolhimento, Fernando Araújo referiu que respondeu “sim” a uma solicitação da Médicos do Mundo, articulada com o Ministério da Saúde português.
Na semana passada o Hospital de São João avançou que teria disponíveis 138 camas de várias especialidades para acolher doentes ucranianos, caso viesse a ser necessário.
Em declarações à agência Lusa, o diretor da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva, Nelson Pereira, avançou que estavam identificadas camas gerais, camas de Cuidados Intensivos, Pediatria e Queimados, às quais se somaria a “prontidão” dos profissionais de saúde de outras especialidades como Ortopedia, Cirurgia Plástica, Medicina Física de Reabilitação e Oncologia.
“Uma das grandes consequências de qualquer conflito é a interrupção do tratamento de doenças tumorais”, referiu o diretor.
Segundo Nelson Pereira, “este esforço potencial significativo” integrava o levantamento feito pelo Ministério da Saúde e das estruturas de Proteção Civil nacionais.
O especialista vincou, no entanto, que “o hospital tem capacidade interna para ser plástico o suficiente sem pôr em causa o atendimento dos seus doentes” e aproveitou para sugerir ao país que parta para uma “coordenação mais centralizada”.
“Não temos uma tradição muito grande nesta área e vimos isso na gestão da pandemia. Somos um país de brandos costumes que tem sido poupado, quer pela natureza quer pela política, e fomos diminuindo a nossa capacidade de planeamento. Quer a pandemia quer esta situação fazem-nos perceber que se exige uma estrutura de coordenação e de planeamento e de comando em situação de crise”, referiu.
Com experiência em medicina de catástrofe, Nelson Pereira frisou a necessidade de países como Portugal apoiarem países que fazem fronteira com a Ucrânia, como a Polónia, a Roménia, a Eslováquia e a Hungria, eventualmente através do envio de equipas de Proteção Civil e de Emergência Médica.
“As necessidades estão a ser sentidas nos países limítrofes e a resposta está a ser dada pelos atores locais, organizações não governamentais, Cruz Vermelha local, mas as cadeias de abastecimento [estão] em risco”, acrescentou.
Lembrando que “num país em guerra morrem mais pessoas pela desestruturação do sistema de saúde do que propriamente atingidos por balas ou mísseis”, o médico considerou que “se este conflito se arrastar será imperioso criar corredores humanitários para a saída dos feridos”.
“E competirá a todos os países, quer os que fazem fronteira quer a outros como Portugal, fazer a gestão e triagem e avaliação dessas vítimas, e encaminhamento organizado para os territórios de acolhimento”, concluiu.
A Rússia lançou a 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou pelo menos 549 mortos e mais de 950 feridos entre a população civil e provocou a fuga de 4,5 milhões de pessoas, entre as quais 2,5 milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.
LUSA/HN
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