Economia e comunicação determinantes para justificar maior investimento em Defesa

13 de Março 2022

Mais investimento orçamental na Defesa em Portugal, no contexto do conflito entre Rússia e Ucrânia, será mais facilmente aceite pela opinião pública dependendo da comunicação pelos decisores políticos e do contexto económico, defendem especialistas.

Em declarações à Lusa, Daniel Pinéu, professor de Relações Internacionais na universidade de Amsterdão, referiu que “a opinião pública portuguesa está notoriamente e compreensivelmente mobilizada em relação ao que se está a passar na Ucrânia” como esteve noutras ocasiões, mas alertou que a sociedade se “esquece com alguma facilidade a médio longo prazo” e o investimento em defesa “não é um compromisso de meios que possa ser feito a curto prazo”.

“Se Portugal entrar, com o dinheiro do Plano de Recuperação e Resiliência e com a saída da pandemia, como aliás esteve projetado, num período de crescimento económico significativo, há mais possibilidade, havendo mais bolo, que haja uma fatia maior para a Defesa. Isso não é necessariamente mau e não estou a ver grande oposição dos portugueses”, disse.

Entrando numa recessão económica, Daniel Pinéu diz não saber “até que ponto” Portugal tem sequer capacidade para reforçar as verbas na área da Defesa.

Outro fator é a forma como o tema “é falado”, ou seja, se o investimento for sustentado como uma “prioridade estratégica” que é boa para “a economia portuguesa como um todo”, isso “pode ser mais entendido” e mais bem aceite pela opinião pública, argumentou.

“Se estivermos num período de estagnação económica ou de crise com outras prioridades muito mais importantes, nomeadamente o SNS, educação, habitação, parece-me que um aumento muito significativo de investimento na defesa não seja muito sustentável do ponto de vista da opinião pública”, disse.

O ministro da Defesa Nacional defendeu na semana passada, em entrevista à rádio Renascença e ao jornal Público, que o objetivo de chegar aos 1,68% do Produto Interno Bruto em despesas militares até 2024 “terá de ser repensado”, prevendo um aumento do investimento em defesa, acompanhando a tendência de outros países europeus.

Patrícia Daehnhardt, investigadora no Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI-NOVA), vê a comunicação por parte dos decisores políticos como essencial: “Parece-me absolutamente fundamental que os decisores políticos , que os nossos governos todos na Europa, levem a cabo uma campanha de comunicação e de sensibilização junto da opinião pública”, disse.

A investigadora considera que existe uma “janela de oportunidade” para este investimento, uma vez que “nos últimos 30 anos, que foram de paz, foi muito difícil” para a maioria dos governos de países europeus “convencerem as opiniões públicas da necessidade de modernização de Forças Armadas, investimento em novos sistemas de capacidade de defesa aérea, de sistemas de defesa antimísseis, de modernização relativamente a determinados tipos de armamento”, sustentou.

Reconhecendo a complexidade do período de recuperação pós-pandemia, Patrícia Daehnhardt vinca a necessidade deste investimento, apesar de ser algo “incómodo à maioria dos decisores políticos em democracias, porque compreensivelmente as necessidades mais imediatas, o bem-estar económico, a saúde, a educação, os transportes, junto da opinião pública generalizada compreensivelmente são as primeiras prioridades”.

Este ano, para além do novo Conceito Estratégico da NATO que sairá da Cimeira de Madrid, em junho, e da ‘Bússola Estratégica’ da União Europeia, que deverá ser adotada este mês, Portugal também terá de rever o seu conceito estratégico de Defesa bem como a Lei de Programação Militar.

No novo conceito estratégico português os dois professores consideram que a segurança marítima deverá ser uma prioridade, ou temas como as questões climáticas, catástrofes naturais, epidemias, ciberdefesa ou ameaças híbridas.

NR/HN/LUSA

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