“Tomar banho frio” e “desmaiar no banheiro”. A relação é exposta numa publicação que está a correr as redes sociais: “Sempre ouvimos falar de pessoas que tiveram um derrame e caíram no banheiro. (…) A cabeça não deve ser molhada e lavada no primeiro processo de um banho, mesmo lavando os cabelos. Outras partes do corpo devem ser molhadas/lavadas primeiro, porque quando a cabeça está molhada e resfriada, o sangue flui para a cabeça para aquecê-la. Se os vasos sanguíneos se estreitarem, devido a água fria, isso poderá causar rutura dos mesmos.”
Será que há algum fundamento científico nesta afirmação?
Não, não há. As temperaturas utilizadas para tomar banho – mesmo que seja água fria – e o tempo que o banho normalmente demora não são suficientes para causar lesões cerebrais ou cardíacas. Miguel Rodrigues, neurologista e membro da direção da Sociedade Portuguesa de Neurologia explica ao Viral que “só existem alterações importantes na circulação quando as pessoas são expostas ou a muito frio ou a muito calor durante um tempo prolongado, não durante o decorrer de um banho e muito menos apenas por ser uma parte do corpo a estar mais fria ou mais quente”.
“Só existem alterações importantes na circulação quando as pessoas são expostas ou a muito frio ou a muito calor durante um tempo prolongado, não durante o decorrer de um banho e muito menos apenas por ser uma parte do corpo a estar mais fria ou mais quente”.
Quanto a alegação de que existe uma rutura dos vasos sanguíneos – que na publicação em análise são comparados a vidro – também não existe qualquer fundamento que a suporte. Os vasos sanguíneos são espessos e têm capacidade de dilatar ou contrair em diferentes situações, entre elas a alteração da temperatura. Pelo contrário, o vidro é espesso e não tem qualquer característica maleável.
De facto, quando a temperatura baixa, os vasos da pele contraem para concentrar o calor, numa ação de termorregulação do organismo. Por outro lado, quando a temperatura aumenta, ocorre a dilatação dos vasos da pele, o que faz com que o organismo arrefeça e consiga adaptar-se à situação de calor. “Isso acontece com as artérias da pele, não acontece com artérias importantes que levam o sangue ao cérebro. Cerca de 40% do sangue que sai do coração destina-se ao cérebro e isso não muda de forma significativa com as temperaturas. Só acontece quando as pessoas estão num frio extremo”, acrescenta o neurologista.
“Isso acontece com as artérias da pele, não acontece com artérias importantes que levam o sangue ao cérebro. Cerca de 40% do sangue que sai do coração destina-se ao cérebro e isso não muda de forma significativa com as temperaturas. Só acontece quando as pessoas estão num frio extremo”.
O que pode causar desmaios durante os banhos?
De facto, a temperatura a que se toma banho pode estar na origem de desmaios, mas não devido ao frio. Pelo contrário: é o calor que pode causar quebras de tensão arterial, provocando tonturas e, em última instância, desmaios. “Desmaios podem acontecer, mas geralmente é quando a pessoa está num ambiente quente”, afirma Miguel Rodrigues.
“Nesse caso, as artérias dilatam-se, vem mais sangue para a pele para que o indivíduo perca calor. Isso faz baixar a tensão, ao baixar a tensão a pessoa pode desmaiar. Mas isso, normalmente, não causa lesões cerebrais, porque depois de desmaiar e ao cair no chão – se não tiver nenhum problema cardíaco grave – a tensão arterial vai melhorar”, conclui.
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