A fruta desidratada é saudável? Sim, mas tenha atenção às quantidades

21 de Março 2022

Por não ter água, o alimento também tem uma menor capacidade de saciedade, o que pode levantar problemas para a saúde. Comer, por exemplo, 100 gramas de maçã desidratada não é o mesmo que comer uma maçã de 100 gramas.

A fruta desidratada é muitas vezes apresentada como um snack saudável que poderá levar para qualquer lado, ideal para comer entre as refeições. Maçã, ananás, pêra, manga ou até mesmo kiwi, a oferta é cada vez maior. Mas será que a fruta desidratada é saudável?

Sim, a fruta desidratada é considerada saudável. Segundo José Camolas, vice-presidente da Ordem dos Nutricionistas e professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e no Instituto Egas Moniz, estes snacks surgem logo a seguir à fruta fresca na lista hierárquica de frutas saudáveis. Em terceiro surgem os sumos 100% e a seguir os componentes com açúcares adicionados.

A desidratação é um processo que retira praticamente toda a água existente no alimento. Inicialmente, este processo tinha como objetivo conservar os ingredientes durante mais tempo, mas, atualmente, os alimentos desidratados – em particular a fruta – passaram a ser procurados por serem leves, fáceis de guardar e de transportar, uma vez que retirada toda a água, as frutas perdem volume e peso.

Estes snacks surgem logo a seguir à fruta fresca na lista hierárquica de frutas saudáveis. Em terceiro surgem os sumos 100% e a seguir os componentes com açúcares adicionados.

Mas há outro fator que pode pesar nesta classificação: o processo de desidratação. A evidência científica ainda é pouca para analisar o impacto dos diferentes tipos de processamento. “Se é verdade que temos evidência relativamente robusta sobre o papel protetor, em termos de saúde, da fruta fresca e dos legumes e hortícolas, quando olhamos mais especificamente para a fruta processada, em particular a fruta desidratada, eu diria que temos ainda pouca evidência robusta”, explica o nutricionista.

“Classicamente, nós pensamos em fruta desidratada ao sol ou em ambiente quente, extraindo a água por evaporação. Mas há diversos processos de desidratação: podem ser só de natureza física, mas podem ter outras técnicas de processamento ou ter adição de substâncias que otimizam ou aceleram este processo. Aí entramos com variáveis para as quais a evidência científica que dispomos não nos dá respostas”, prossegue José Camolas.

O impacto da desidratação nos componentes nutricionais varia muito de fruta para fruta e de nutriente para nutriente. “Usemos o exemplo dos antioxidantes: temos alguns antioxidantes que têm uma grande quebra com o processo de desidratação, temos alguns cuja porção até aumenta à proporção do peso – até se pensa que o processo de desidratação pode melhorar a biodisponibilidade do produto antioxidante. Mas temos outros que se perdem totalmente.”

“Quando eu compro, o ideal é que o único ingrediente seja o próprio fruto. Isso diz-me que foi só desidratado e não mais do que isso. Tendo outros elementos adicionais, quanto menos elementos tiver melhor.”

No fundo, quanto menos processada for a fruta desidratada e menos ingredientes adicionados incluir na tabela nutricional, mais saudável o snack será. E o truque é, precisamente, estar atento à tabela nutricional: “Quando eu compro, o ideal é que o único ingrediente seja o próprio fruto. Isso diz-me que foi só desidratado e não mais do que isso. Tendo outros elementos adicionais, quanto menos elementos tiver melhor.”

“Outra coisa que se perde sempre [na desidratação] é o papel de promotor de hidratação que o fruto tem”, alerta ainda o vice-presidente da Ordem dos Nutricionistas. “Normalmente os hortofrutícolas são vistos como alimentos que melhoram o estado de hidratação do indivíduo, mas se é desidratado, isso já não acontece”, acrescenta.

Por não ter água, o alimento também tem uma menor capacidade de saciedade, o que pode levantar problemas para a saúde. Comer, por exemplo, 100 gramas de maçã desidratada não é o mesmo que comer uma maçã de 100 gramas. No primeiro caso, o indivíduo está a comer uma maior quantidade de maçã, o que significa que está também a ingerir uma maior porção de açúcares. O mesmo acontece com o valor energético – ou seja, as calorias – ou qualquer elemento nutricional que componha o fruto. “Entramos num patamar que é prejudicial, não pelo processamento, não pelo fruto em si, mas porque está a consumir uma quantidade excessiva, uma vez que tem uma perceção de saciedade menor pela desidratação do produto”, alerta o nutricionista.

“Entramos num patamar que é prejudicial, não pelo processamento, não pelo fruto em si, mas porque está a consumir uma quantidade excessiva, uma vez que tem uma perceção de saciedade menor pela desidratação do produto”, alerta o nutricionista.

Como em qualquer alimento, a fruta desidratada deve ser incluída num plano alimentar variado e saudável. Caso precise de ajudar para melhorar os seus hábitos alimentares, deverá informar-se junto de um profissional de nutrição que lhe dará um plano adequado às suas necessidades energéticas.

Concluindo: a fruta desidratada é considerada saudável, no entanto é importante ter em consideração se o processo de desidratação contém elementos adicionais. Além disso, deverá ter em atenção as porções, uma vez que, por não terem qualquer água, tornam-se mais leves e provocam um menor efeito de saciedade. Por essa razão, poderá estar a ingerir uma maior quantidade do que é aconselhada.

Texto publicado ao abrigo da parceria entre a plataforma de Fact Checking Viral-Check e o Heathnews.pt

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