Luís Baquero Cirurgião cardiotorácico e Coordenador do Heart Center do Hospital da Cruz Vermelha

Segunda opinião médica: quando, como e a quem pedir

05/18/2022

Está a ser seguido por um profissional de saúde, mas gostaria de auscultar a opinião de outro especialista? Saiba em que circunstâncias pode pedir outro parecer médico e como deve proceder.

 

É importante para um doente sentir-se seguro quando se trata da sua saúde, sendo que uma doença ou um tratamento mais complexo envolve sempre receios e dúvidas. Uma consulta de segunda opinião é um direito dos doentes e uma forma de se sentirem mais confiantes.

Na área cardiovascular, a possibilidade de realizar uma consulta de segunda opinião relativamente a qualquer aspeto do processo do doente cardiovascular implica que um cardiologista e ou um cirurgião cardíaco avaliem cada caso e este deve de ser discutido numa reunião multidisciplinar. Todos os membros da equipa multidisciplinar devem de ter uma importante experiência nacional e internacional e valor académico acrescido na sua área de especialidade.

As consultas de segunda opinião para as doenças cardiovasculares funcionam como um centro de referência para validar, avaliar e/ou modificar um diagnóstico, um tratamento, uma intervenção ou um prognóstico.

As consultas de segunda opinião são realizadas em três fases que consistem em:

  • Consulta inicial de avaliação do doente e verificação dos meios complementares de diagnóstico e relatório de profissionais de saúde consultados anteriormente;
  • Análise multidisciplinar de toda uma equipa formada por especialistas de da cardiologia, da cirurgia cardíaca, cirurgia vascular, hemodinâmica, ecocardiografia, eletrofisiologia, cardiopneumologia, imagiologia e reabilitação cardíaca que emitem opinião baseada na soma dos múltiplos conhecimentos de todos os especialistas;
  • Consulta de informação e resultado com relatório da segunda opinião da equipa multidisciplinar.

Acredito que a consulta de segunda opinião é uma mais-valia para os doentes, dando-lhes a possibilidade de ter uma outra visão antes de iniciar um tratamento ou uma intervenção, uma vez que a medicina não é uma ciência exata, sendo muitas vezes interpretativa. As diferentes escolas, formações e especializações poderão influenciar a análise final e proposta de tratamento de cada médico. Quando existe mais de que uma opção de tratamento e cabe ao doente confirmar qual a opção a seguir consoante as respetivas vantagens e desvantagens ou quando o seguro de saúde o exige e ainda quando o tratamento não está a ter bons resultados.

A relação entre médico e doente também pode estar subjacente à vontade de auscultar uma segunda opinião. Por exemplo, a falta de empatia e envolvimento do doente nas opções tomadas pelo médico que o acompanha ou o eventual conflito de interesses entre médico e doente face ao tratamento recomendado. Pode, ainda, suceder que médico e doente concordem ser importante pedir parecer de outro profissional mais experiente para apoiar a consolidação da opinião médica inicial.

Transparência deve ser a palavra de ordem, importa ter presente que se trata de uma prática legítima, pelo que o doente deve assumir claramente, na consulta, que é seu objetivo pedir segunda opinião.

De forma a não enviesar a avaliação deste novo especialista, o doente pode não partilhar, numa fase inicial, a primeira opinião que obteve. Deverá fazê-lo, porém, no final, proporcionando assim o confronto de ideias e as conclusões que daí possam surgir, além de reforçar confiança mútua com o médico que o acompanha.

 

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