HealthNews (HN)- Comecemos pelo atual quadro da artrite reumatoide em Portugal.
João Eurico Cabral da Fonseca (JECF)- A artrite reumatoide é uma doença inflamatória crónica que afeta as articulações, e pode afetar outras partes do corpo. Quando não tratada apropriadamente, esta doença causa destruição das articulações e incapacidade. As pessoas ficam incapazes de trabalhar, incapazes de fazer normalmente a sua vida.
A doença é, neste momento, tratável. É preciso, no entanto, que todo o procedimento necessário para avaliar as características da doença seja feito adequadamente e, depois, que um tratamento apropriado para as características específicas do doente seja iniciado.
Cerca de 70 mil portugueses sofrem desta doença, e uma parte significativa mantém atividade da doença apesar da medicação. Ou seja, apesar de existirem medicamentos em grande quantidade e diversidade, continuamos a ter muitos doentes difíceis de tratar, que não respondem aos tratamentos vários que oferecemos. Por isso, continua a ser um problema a gestão da terapêutica adequada dos doentes com artrite reumatoide.
HN- Quais as principais dificuldades que estes doentes enfrentam?
JECF- Por um lado, o facto de existir um conjunto de doentes que continuam com atividade da doença e a progredir apesar dos medicamentos disponíveis. O outro problema que os doentes com artrite reumatoide enfrentam é o enquadramento social da doença. Estamos a falar de uma doença crónica, que acompanha o doente a vida toda, acabando por causar limitações várias na capacidade que o doente tem de trabalhar, nem que seja pelas consultas que tem de fazer, pelos exames, pelos períodos em que tem de estar exposto a terapêuticas hospitalares. Tudo isso tem repercussões na forma como a vida profissional se desenvolve, mas claro que, quando a doença corre menos bem, as repercussões tornam-se muito mais complexas: as pessoas não são capazes de trabalhar, não conseguem estar nos seus locais de trabalho o mesmo tempo que as outras, nem conseguem ter a mesma rentabilidade, e isso repercute-se no sucesso profissional e na remuneração. Tem de se ter mais cuidado com ao enquadramento social destes doentes crónicos.
HN- Várias terapêuticas têm vindo a melhorar o controlo da doença e a qualidade de vida dos doentes. Que inovações destacaria?
JECF- Começo por destacar, no final dos anos 90, a introdução dos medicamentos biológicos. Os biológicos revolucionaram completamente o tratamento dos doentes com artrite reumatoide, libertaram um conjunto de doentes que estavam muito mal, muito condicionados no seu dia a dia, e que melhoraram maravilhosamente. Mas, infelizmente, há doentes que não respondem aos biológicos.
A segunda revolução de inovação aconteceu no final da última década, com a introdução dos inibidores da sinalização intracelular. A classe terapêutica disponível é a dos inibidores da JAK. Esta classe permitiu um novo paradigma, porque, primeiro, foi capaz de tratar doentes que não estavam a responder bem à classe terapêutica dos biológicos, por exemplo por problemas de alergia, e permitiu, também, oferecer a possibilidade de terapêutica oral, facilitando muito a via de administração. Portanto, a introdução dos inibidores da JAK teve um ótimo impacto.
Apesar disso, continuamos a ter doentes que escapam a todas as terapêuticas disponíveis, pelo que continuamos a precisar de inovar. Mas a verdade é que estes pulos de conhecimento, que levaram a duas grandes revoluções – no final dos anos 90, a introdução dos medicamentos biológicos, e no final da primeira década deste milénio, a introdução dos inibidores da JAK –, são, de facto, momentos históricos.
HN- O que é que espera que seja desenvolvido nos próximos anos?
JECF- Vamos ter novidades de ambos os tipos de medicamentos. Vão aparecer novos biológicos, inibindo outras vias de inflamação que são relevantes na artrite reumatoide, nomeadamente relacionados com um tipo celular que são os macrófagos. Depois, vão aparecer outras vias de sinalização intracelular que também são relevantes nos mecanismos desta doença. Estas vão provavelmente apanhar doentes que não estavam a responder às terapêuticas existentes.
Essas são as expectativas principais: novos biológicos e novos inibidores da sinalização intracelular. Alguns inibidores serão também desta via JAK, outros serão de outras vias.
Entrevista de Rita Antunes
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