O webinar “Saúde Eficiente — acesso à saúde das pessoas com deficiência” decorreu em formato online e contou com a participação de três personalidades defensoras dos direitos das pessoas com deficiência. A iniciativa teve como principal objetivo abordar temas como: o estado do acesso à saúde, as limitações e necessidades das pessoas com deficiência e possíveis soluções para as limitações existentes.
A sessão contou com a moderação da Presidente da SPLS, Cristina Vaz de Almeida, e do Presidente da Assembleia Geral da mesma organização, Rui Nogueira.
No arranque do debate, Cristina Vaz de Almeida destacou que a iniciativa ia ao encontro do mais recente apelo da Organização Mundial da Saúde sobre a importância de aumentar a consciencialização das populações e o combate ao estigma da deficiência.
Diana Santos, psicóloga clínica e ativista pelos direitos humanos das pessoas com deficiência, começou por lamentar que a falta de sensibilização dentro da comunidade médica, alegando que muitas vezes estas pessoas são “completamente esquecidas”. Portadora de uma deficiência, Diana alerta: “Somos o grupo que vive com maior condição de pobreza a nível nacional”, tendo forte impacto no acesso aos cuidados de saúde.
Na discussão, os participantes salientaram a importância do webinar ao considerarem que as necessidades das pessoas com deficiência merecem ser conhecidas e ouvidas. Neste sentido, Paula Varela Reis, paraplégica e ex-Embaixadora do Ano Europeu no Combate à Pobreza e Exclusão Social, frisa que “as pessoas com deficiência são antes de mais pessoas”.
A ativista recusa que os deficientes sejam pessoas diferentes, alegando que “todos temos alguma limitação por mais pequenina que possa parecer. A única diferença é que para alguns de nós essas limitações são mais visíveis – deslocamo-nos em cadeira de rodas”. Desta forma, Paula salienta a necessidade de garantir o respeito pelos direitos das pessoas portadoras de alguma deficiência.
A saúde mental foi um dos temas destacados pelo ativista Eduardo Jorge que admitiu que “se o acesso à saúde para o cidadão comum é deficitário, para as pessoas com deficiência é ainda mais”. O ativista sublinhou que a saúde mental é um componente essencial para o bem-estar destas pessoas, sendo “muitas vezes esquecido”.
As principais limitações identificadas foram: a falta de literacia em saúde por parte da comunidade médica, em que muitas vezes é verificado uma “falta de cuidado no diagnóstico”; problemas na acessibilidade e de infraestruturas adaptadas às necessidades dos utentes com deficiência; dificuldades na comunicação com os técnicos e administrativos e os problemas no acesso às consultas de saúde mental.
Na sessão foram partilhadas algumas situações em que estas pessoas se viram constrangidas, envergonhadas e até humilhados. Eduardo Jorge contou que já teve de ser atendido num corredor de uma unidade de saúde porque a sua cadeira de rodas “não entrava no gabinete”. Para Eduardo, esta situação foi “humilhante e chocante”. O ativista lamenta, assim, a dificuldade no acesso às consultas domiciliárias.
Num momento de partilha de experiências, Paula Varela Reis admite que em muitas situações sente vergonha da sua condição. “Muitas vezes fazem com que nos sintamos culpados pela nossa própria limitação”, lamentando a forma como é recebida por alguns médicos durante a consulta.
Diana Santos chamou a atenção para a importância da equidade na saúde, pois em muitos casos o objetivo dos pacientes com deficiência não passa pela reabilitação, mas pela melhoria na comunicação. “Há pessoas que vivem muito bem com a sua surdez, mas não vivem é com a falta de comunicação que sentem com os médicos e administrativos”, revela.
Aos olhos dos ativistas, tem de começar a ser promovido um novo olhar, um olhar mais humanizado que garanta o respeito pelos seus direitos. Diana realça que “estas pessoas também precisam de ter acesso ao planeamento familiar, às consultas de dermatologista ou inclusive às cirurgias plásticas”.
Após identificar os principais problemas e dificuldades vividos por parte das pessoas portadoras de deficiência, foram propostas algumas soluções: mais literacia dentro da comunidade médica; mais formação para os administrativos; mais investimento por parte do Governo; garantir o acesso aos cuidados de saúde mental; garantir o cumprimento e sensibilização pelos direitos das pessoas com deficiência.
No encerramento do debate, os participantes salientaram a existência de leis, mas proclamaram a aplicabilidade das mesmas, apelando a uma reflexão por parte das organizações.
Rui Nogueira deixou uma palavra de encorajamento “para encontrar soluções, nomeadamente no desenvolvimento de tecnologia e adequação dos cuidados prestados às pessoas com deficiência”.
A SPLS termina, por isso, com a ideia de que é importante “dar voz a quem tem voz”.
HN/Vaishaly Camões
O mundo não está adptado a pessoas com dificuldades físicas, cabe a nós transformá-lo e colocá-lo ao seu alcance.