Nos EUA, a EMTr foi reconhecida pela Food and Drug Administration (FDA), em 2008, como um método para tratar doentes que sofrem de depressão resistente ao tratamento, ou, por outras palavras, doentes que não respondem a medicamentos antidepressivos. Desde então, foi aprovada e recomendada em vários países. As principais vantagens da EMTr é tratar-se de uma opção de tratamento que não é invasiva, que não recorre ao uso de medicação, que é segura e que mostrou ser eficaz em até metade dos doentes para os quais outras estratégias antidepressivas não funcionaram.
Desde o início dos anos 2000, difundiu-se amplamente a crença de que a EMTr não é benéfica para doentes idosos. Gonçalo Cotovio, estudante de doutoramento na Unidade de Neuropsiquiatria e interno de psiquiatria no Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, é o primeiro autor de um novo artigo publicado na Frontiers, abordando esta problemática. Segundo Gonçalo, “embora os tratamentos atualmente aprovados exijam pelo menos quatro a seis semanas de tratamento, muitos dos primeiros artigos publicados usaram dados recolhidos em doentes submetidos a apenas duas semanas de tratamento com EMTr, e isso pode ser insuficiente para o tratamento ser eficaz, particularmente em doentes mais velhos”.
Gonçalo acrescenta: “Entre o nosso grupo [a Unidade de Neuropsiquiatria] e os nossos colaboradores nos Estados Unidos [Harvard Medical School e Iowa University] esta ideia simplesmente não fazia sentido. Ao seguir os nossos próprios doentes mais velhos, observámos boas respostas com EMTr e sentimo-nos frustrados pelo facto de o acesso a este tratamento estar a ser negado a outros doentes, sem haver evidência clara a sustentar esta decisão. Em particular se considerarmos que, nomeadamente nos EUA, algumas seguradoras não cobrem o uso de EMTr em doentes idosos. Sentimos que era essencial investigar esta questão mais a fundo.”
Ao trabalhar em conjunto com outros centros que oferecem EMTr nos EUA, num estudo multicêntrico, foi possível recolher uma das maiores amostras, mais de 500 doentes, que receberam EMTr para tratar depressão. Os doentes foram divididos em dois grupos: um com menos de 65 anos e outro com 65 ou mais. Os resultados obtidos ao comparar estes dois grupos corroboraram as dúvidas levantadas pelos investigadores – os mais velhos respondem igualmente bem à EMTr, ainda que demore um pouco mais de tempo até o efeito ser notado. “Nas primeiras duas semanas de tratamento, e tal como sugeriam os dados mais antigos, é verdade que os doentes mais velhos mostraram pouca ou nenhuma resposta à EMTr”, confirmou Gonçalo, “mas o grupo mais velho acabou por responder e, no final do tratamento, foi possível verificar que a EMTr foi tão eficaz nesse grupo quanto no grupo dos doentes mais jovens”.
“Na verdade, estes resultados vão ao encontro dos dados que recolhemos num outro estudo do nosso grupo, publicado no ano passado no Journals of Gerontology e que resultou de uma colaboração com a Universidade de São Paulo. Neste artigo, analisámos a literatura disponível e encontrámos evidência que corrobora o uso de EMTr enquanto estratégia antidepressiva eficaz e segura para pessoas mais velhas, e também que melhores respostas foram observadas nos casos de tratamento mais prolongado”, explica Albino J. Oliveira-Maia, psiquiatra e diretor da Unidade de Neuropsiquiatria da Fundação Champalimaud, e investigador principal de ambos os estudos.
O artigo sugere uma revisão completa das políticas e protocolos em torno do uso de EMTr no tratamento de doentes mais velhos com depressão resistente, levantando ainda a hipótese de que mais estudos poderão ser necessários para examinar se o plano de tratamento atual (geralmente quatro a seis semanas) deve ser aumentado para doentes com mais de 65 anos.
Atualmente, há muitos idosos que não têm acesso a este tratamento. Gonçalo conclui: “Esperamos que este estudo contribua para o reconhecimento da utilidade da EMTr enquanto uma ferramenta importante no tratamento da depressão para pessoas de todas as idades.”
As conclusões deste estudo suportam a evidência já disponível que mostra que a EMTr é um tratamento eficaz para a depressão, “o que suporta uma utilização mais abrangente da EMTr”, acrescenta Albino. “Neste momento, em Portugal, e apesar de existir evidência sólida, tanto do nosso grupo como de outros centros em todo o mundo, a defender a utilização da EMTr em diferentes condições nas quais as necessidades não estão a ser satisfeitas, a EMTr continua a não ser um tratamento oferecido pelo serviço nacional de saúde de forma generalizada, nem financiado pelas seguradoras. É fundamental disponibilizar estes tratamentos a quem precisa e que tem poucas alternativas”, defende.
PR/HN/RA
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