Em declarações à agência noticiosa AFP em Belgrado, Darko Mladic confirmou a declaração aos ‘media’ locais, na qual indicou que o antigo general, 79 anos e com saúde frágil, foi hospitalizado há uma semana num hospital civil na cidade neerlandesa de Haia, e desde quinta-feira num estabelecimento penal do Mecanismo para os Tribunais Penais Internacionais (MTPI).
“Está em mau estado de saúde. Uma equipa de médicos está a postos aqui [na Sérvia] para ir observá-lo, mas ainda não sabemos se vão ser autorizados. Pedimos a autorização para que seja examinado por estes médicos”, declarou Darko Mladic.
Os serviços do MTPI indicaram em Haia que não estão autorizados “a fazer comentários sobre o estado de saúde dos detidos porque estas informações são confidenciais”.
Em junho de 2021, o MTPI confirmou a condenação a prisão perpétua de Ratko Mladic por genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra cometidos durante a guerra civil na Bósnia-Herzegovina (1992-1995).
O ex-líder militar do exército da Republika Srpska (RS) da Bósnia-Herzegovina foi designadamente acusado de genocídio pelo seu envolvimento no massacre de Srebrenica (leste), em julho de 1995, na fase final do conflito.
Darko Mladic declarou que o seu pai sofre de “pneumonia, acumulação de líquido nos pulmões e insuficiência cardíaca” e indicou que o seu estado de saúde “se degrada dramaticamente” desde maio.
Após 16 anos em fuga e 11 anos nas celas do Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia (TPIJ, instância judicial ‘ad hoc’ da ONU criada em 1993), o ex-comandante militar da RS tornou-se um velho homem doente.
Contudo, o seu processo não abalou a convicção que exprimiu logo na sua primeira comparência perante o TPIJ em Haia: “Sou o general Mladic. Defendi o meu país e o meu povo”.
Para os juízes do TPIJ, que em novembro de 2017 o condenaram a prisão perpétua – e desde sempre considerado por Belgrado e pelos sérvios bósnios como uma instância “parcial e anti-sérvia” –, Mladic é considerado o terceiro arquiteto da limpeza étnica durante um conflito intercomunitário que provocou cerca de 100.000 mortos e 2,2 milhões de deslocados.
Na sequência da desagregação da Jugoslávia federal em 1991, com as autoproclamadas independências da Croácia e Eslovénia (seguiu-se a Macedónia e depois a Bósnia em 1992), o ex-presidente sérvio Slobodan Milosevic, que morreu em 2006, aos 64 anos, numa cela no TPIJ, defendia a permanência no mesmo território das populações sérvias, com importantes minorias na Bósnia e Croácia, enquanto negociava com as potências internacionais.
E na sua “capital” de Pale, arredores de Sarajevo, o psiquiatra Radovan Karadzic, ex-líder político dos sérvios bósnios – que em fevereiro tinham boicotado o referendo independentista organizado por muçulmanos e croatas bósnios –, hoje com 77 anos e condenado em 2016 a 40 anos de prisão, difundia a sua propaganda nacionalista.
Após o acordo de paz de Dayton (novembro de 1995) que silenciou as armas, Mladic permaneceu na Bósnia-Herzegovina, com longos períodos no refúgio de Han Pijesak, uma base meio subterrânea numa floresta de pinheiros do leste do país.
De seguida, instalou-se em Belgrado, protegido pelo exército. Alvo de um mandado de captura internacional, tenta ensaiar uma vida normal, cuida das suas roseiras, vai à padaria, janta em restaurantes, assiste a jogos de futebol.
Em 2000, quando Milosevic é afastado do poder, entra na clandestinidade. Diversas prisões enfraquecem o seu círculo de protetores e Mladic torna-se um problema para a Sérvia, que anunciava as suas ambições de adesão à União Europeia.
Em maio de 2011 é acolhido por um primo na povoação de Lazarevo (norte), onde é detido por forças de segurança sérvias e extraditado para Haia. Em 2011 é aberto o seu processo por 11 atas de acusação de genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra.
LUSA/HN
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