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BLENDED SOLUTION – Plano estratégico para Portugal – o que falta?
António Costa chamou um gestor experiente para apresentar um plano de recuperação estratégica do país, no pós-Covid. Confesso que achei uma ideia ótima, mas depois de ler o plano fiquei com mais dúvidas do que certezas. Julgo que um plano deve partir do geral para o particular, deve criar planos táticos da definição estratégica feita e deve aproveitar o que já existe de bom e bem feito. Criar os clusters que o Professor Porter já apresentou há 26 anos ao nosso País. Este gestor apresentou, ao todo, dezenas de propostas em traços gerais categorizadas em dez pontos cruciais: ferrovia, reindustrialização, reconversão industrial, recapitalização das empresas, Estado, turismo, transição energética, saúde, questão social. As principais medidas seguem-se aqui:
1.- No que toca à ferrovia, Costa e Silva considera importante concluir os projetos em curso e modernizar a rede portuguesa, apontando também para a construção de um eixo ferroviário de alta velocidade Porto-Lisboa para passageiros.
2.- Importância de construir um aeroporto para a Grande Lisboa, considerando que esta infraestrutura será importante não só do ponto de vista do turismo, mas também em “muitas outras fileiras económicas”.
3.- Executar a expansão e reforço das redes de Metropolitano de Lisboa e do Metro Ligeiro do Porto.
4.- O alargamento da competitividade do porto de Sines e de outros portos nacionais.
5.- Assegurar uma cobertura adequada de ligações aéreas, nomeadamente no Norte do País.
6.- Energia do hidrogénio, com um plano “visando orientar, coordenar e mobilizar o investimento público e privado em projetos nas áreas da produção, do armazenamento, do transporte e do consumo e utilização de gases renováveis.
7.- Desenvolverem recursos naturais, e encontrarem, em particular para o lítio, um processo de tratamento que possa aumentar a sua competitividade e gerar valor, utilizando processos de green mining.
Qual o motivo da minha desilusão? Falta definir a SWOT de Portugal, que deve ser a base do nosso plano Estratégico:
1.- Encontraríamos a necessidade da resolução do problema da produtividade baixa do trabalho em Portugal (que têm mais a ver com liderança e organização do trabalho do que com os trabalhadores),
2.- do baixo valor da marca Portugal em diversas áreas onde somos excelentes,
3.- a redução da mão de obra intensiva com a mecanização em sectores tradicionais,
4.- a utilização da IA como factor estratégico,
5.- a redução dos elevados custos energéticos e de comunicação,
6.- resolução dos problemas de tesouraria e descapitalização das empresas,
7.- da falta de financiamento empreendedor,
8.- dos atrasos nos pagamentos do estado que devia dar o exemplo,
9.- do desenvolvimento da Indústria de TIs com a facilidade de atrair empreendedores e técnicos de TIs,
10.- da redução e definição de um plano com estabilidade fiscal,
11.- da agilização e de tornar eficiente o sistema judicial,
12.- da melhoria da qualidade e redução da Administração e do funcionalismo público com a automatização de serviços através das TIs,
13.- da atração do IDE e equilíbrio da balança comercial,
14.- da necessidade do desenvolvimento da economia do mar,
15.- da necessidade do desenvolvimento de centros de I&D e universidades de conhecimento adaptadas aos clusters estratégicos,
16.- da utilização da mão de obra que recebe subsídios para tarefas de interesse público,
17.- da dificuldade de associação e coopetição das PMEs de forma a construir economias de escala,
18.- da internacionalização das empresas e não apenas a dinamização das exportações,
19.- da imposição de políticas públicas e privadas de prevenção da doença e não apenas do tratamento,
20.- da redução do modelo de saúde hospitalocêntrico…
Falta, portanto, a base do plano. Que incluísse a agricultura e o sector vinícola; o desenvolvimento da indústria corticeira e do azeite no Alentejo; da aeronáutica no Alentejo e no Porto; da indústria automóvel na bacia de Lisboa e beira alta; da indústria de moldes e do vidro na grande zona Oeste; de desenvolvimento da indústria têxtil, do mobiliário e do calçado no norte e centro com a criação da marca Portugal e estímulo à criação de marcas próprias (em lugar de fabricar para terceiros); do desenvolvimento da criação de ostras e pescado no Algarve e norte do país; a criação do turismo cultural fora das grandes cidades; do estímulo às PMEs do Norte com grande capacidade inovadora e exportadora; da ligação da ferrovia de alta-velocidade com a bitola Europeia e não apenas Lisboa-Porto, mas também do desenvolvimento da linha do Algarve; do desenvolvimento do metro de Lisboa e Porto com o objetivo de reduzir a entrada de carros na capital e estimular o consumo turístico deste transporte com arte e cultura nestes locais… Falta tanta coisa e apenas vejo um plano para gastar dinheiro em grandes projetos que todos já conhecíamos. Para quê investir no hidrogénio antes de todos os outros países quando representamos 0.15% da poluição mundial e o custo da tecnologia é elevadíssimo? Não é melhor esperar e adotar esta tecnologia quando os grandes países o fizerem e o custo é muito mais baixo? Em lugar disso aproveitar para continuar a desenvolver energia verde através do vento, mar, rios, onde já investimos tanto!
E o que é que isto tudo tem a ver com saúde? Tudo, pois também deveria incluir como medidas estratégicas neste setor: a criação da indústria do medicamento na zona centro com o fabrico de pequenos lotes para a Europa e que foram transferidos para a China (que são gigantes lotes para Portugal); da atração de doentes de outros países em diversas especialidades onde temos capacidade instalada e competitividade de preço no tratamento a apresentar as seguradoras da Europa; da atração para realização de ensaios clínicos (dado que temos excelentes centros de I&D hospitalares e universitários); da atração dos residentes seniores de outros países com elevado rendimento comparado com Portugal (pela segurança, condições de vida mais baixas, meteorologia, simpatia, mas também por um sistema de saúde eficiente); da integração do sistema de saúde e do “patient journey” por este sistema (com exames, consultas, enfermagem, etc.) através da Tis; mas também da isenção do IRC do valor de novos investimentos das empresas farmacêuticas no País ou do pagamento de mais valias nos empresários de saúde que decidem utilizar o seu capital investido em bolsa para investir em Portugal.
É dinheiro de impostos que não existe, um dia vão ser cobrados, dificultando e afugentando os investidores e criando nos que não conseguem ocultar o rendimento, a sensação que “levam o país às costas” e que o estado social falhou, pois penaliza os que pagam impostos (que são menos de 50% dos trabalhadores, se bem me recordo) e que têm de trabalhar até junho para os pagar!!!
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