Líder da Associação dos Médicos da Turquia condenada a três anos de prisão

11 de Janeiro 2023

O tribunal de Istambul condenou esta quarta-feira a presidente da Associação dos Médicos da Turquia por disseminar "propaganda de organização terrorista" num processo que grupos de direitos humanos encaram como silenciamento de posições críticas.

A médica Sebnem Korur Fincanci foi condenada a quase três anos de cadeia.

Financi, de 63 anos, foi detida em outubro e acusada de apoiar propaganda do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), proibido na Turquia.

Na altura, a detenção seguiu-se a uma entrevista da responsável pela associação em que apelava a uma investigação independente sobre as alegações de que militares turcos utilizaram armas químicas contra ativistas curdos no norte do Iraque.

Financi, especialista forense, especializada em documentar atos de tortura e maus tratos é a mais recente voz crítica a ser condenada ao abrigo da legislação anti-terrorista.

A dirigente da Associação dos Médicos da Turquia foi no passado presidente da Fundação Turca para os Direitos Humanos.

Durante o julgamento, Financi recusou as acusações de que está envolvida em atos de propaganda e alegou que durante a entrevista estava a expressar uma opinião profissional sobre o assunto.

A entrevista – que originou a detenção e posterior acusação – foi difundida à estação de televisão pró-curda Medya Haber TV em que a especialista comentou o uso de armas químicas.

Financi sugeriu na entrevista que possivelmente terá sido usado um gás tóxico e pediu “uma investigação rigorosa” dos factos.

As autoridades turcas negaram as alegações de que Ancara usou armamento químico, insistindo que os militares não dispõem dos componentes nos arsenais das Forças Armadas.

O PKK bate-se contra a Turquia desde 1984 e é considerado organização terrorista pelo governo de Ancara, pela União Europeia e pelos Estados Unidos.

 A entrevista provocou uma reação negativa do Presidente turco Recep Tayyip Erdogan que acusou Financi de difamar as Forças Armadas turcas e de insultar o país “ao falar a linguagem da organização terrorista”.

Erdogan empenhou-se na implementação de medidas para retirar da Associação dos Médicos da Turquia e de outras organizações profissionais “apoiantes da organização terrorista (PKK)”.

No passado mês de outubro, o ministro da Justiça disse que estava a ser preparada uma nova legislação.

Devlet Bahceli, líder do Partido Nacionalista, aliado de Erdogan, pediu mesmo para que fosse retirada a cidadania à médica, acrescentando que a associação devia ser proibida.

A Associação dos Médicos da Turquia conta com 110 mil membros em todo o país e já tinha anteriormente confrontado o governo ao criticar as medidas que foram impostas durante o pico da pandemia de covid-19.

No último depoimento em tribunal, Financi disse que a associação é o alvo das autoridades no poder.

Segundo o portal Dokus8haber, que acompanhou o julgamento, Financi disse a liberdade de expressão e a ciência estão sob ameaça.

A sessão de hoje foi acompanhada por uma delegação de observadores da União Europeia, além de membros de representantes de organizações de direitos humanos.

O noruegês Ole Johan Bakke, responsável pelo Standing Committee of European Doctors, uma organização de médicos europeus, demonstrou que “está profundamente preocupado com a reiterada perseguição contra a Associação dos Médicos da Turquia”.

Na mesma linha, a World Medical Association descreveu o caso contra Financi como “infundado e inaceitável”.

O tribunal de Istambul condenou a médica a dois anos, oito meses e 15 dias de prisão mas os advogados de defesa vão apresentar recurso.

Vários dirigentes de grupos da sociedade civil e dezenas de jornalistas e políticos encontram-se presos depois de terem sido acusados de terrorismo.

LUSA/HN

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