Propriedades saudáveis dos taninos variam consoante a sua origem

8 de Setembro 2020

Se forem extraídos do vinho, protegem contra doenças cardiovasculares e degenerativas. Quando são obtidos a partir das grainhas das uvas, melhoram a circulação, a memória e a aprendizagem.

Uma equipa de cientistas da área “Alimentação e Saúde” do Centro “Alameda del Obispo”, pertencente ao Instituto Andaluz de Investigação e Formação Agrária e Pesqueira da Andaluzia (IFAPA), em Córdova (Espanha), identificou as moléculas que exercem os benefícios saudáveis dos taninos, substâncias químicas de origem vegetal presentes nas partes sólidas do cacho de uvas, tais como a pele e as grainhas.

Os testes “in vivo” realizados com ratinhos indicam que o consumo destes antioxidantes varia de acordo com a sua origem. Se forem extraídos do vinho, protegem contra doenças cardiovasculares e degenerativas. Quando são obtidos a partir das sementes das uvas, melhoram a circulação, a memória e a aprendizagem.

Concretamente, os peritos descobriram que após a ingestão destes compostos,  constituídos por várias unidades de um antioxidante denominado “epicatequina” (que lhe confere propriedades adstringentes e também é responsável pelo sabor característico do vinho),  os processos de absorção e de transformação dos taninos no organismo mudam em função da sua origem.

Se forem obtidos de vinho, como indicam estudos anteriores, protegem contra doenças cardiovasculares e degenerativas, tendo ao mesmo tempo propriedades antibacterianas e anti-envelhecimento. Por outro lado, se forem obtidos da grainha da uva, o seu consumo melhora a circulação sanguínea e a função vascular, bem como aumentam a capacidade de memória espacial e combatem o stresse oxidativo.

Para realizar este processo de caracterização e avaliar a biodisponibilidade dos taninos, ou seja, a sua capacidade de transformação e absorção pelo organismo, os peritos utilizaram moléculas bioativas de vinho tinto “Cabernet Sauvignon” e grainhas de uva desta mesma variedade, em testes “in vivo” com 40 ratinhos. O estudo, intitulado “Bioavailability of red wine and grape seed proanthocyanidins in rats”, foi publicado na revista “Food & Function”.

Durante um período de 24 horas,os investigadores exploraram e compararam os níveis de plasma, assim como a excreção urinária e fecal dos produtos de transformação dos taninos, utilizando três grupos de ratinhos colocados em “gaiolas metabólicas”, ou seja, habitáculos preparados com um chão ligeiramente inclinado para recolher os excrementos mais facilmente.

O primeiro grupo recebeu um suplemento de 50 miligramas de extratos ricos em taninos de vinho juntamente com a comida e o segundo grupo tomou 50 miligramas de extratos ricos em grainhas de uva. Ao terceiro, o grupo de controlo, não foi fornecido qualquer suplemento adicional.

“Os alimentos sofrem alterações à medida que passam pelo sistema gastrointestinal. A nossa tarefa centrou-se em seguir a rota de transformação dos taninos e observar como vão passando gradualmente de um derivado para outro até chegarem a compostos mais simples e bioativos”, explicou a investigadora Gema Pereira-Caro, do Centro IFAPA Alameda del Obispo.

Após a fase de ingestão, os peritos extraíram e monitorizaram as amostras de plasma, fezes e urina, utilizando solventes orgânicos para promover a precipitação e a separação dos restantes compostos. Para tal, utilizaram um Espectrómetro de Massa de Alta Resolução, com o qual analisaram um total de 85 indicadores.

Depois de identificar e examinar os compostos derivados dos taninos, a equipa de investigação observou que estes têm diferentes estruturas químicas, dependendo da sua procedência, e são também metabolizados de forma diferente pelo organismo.

“Isso significa que os efeitos na saúde variam. No entanto, os estudos anteriores que consultámos analisam muitas destas atividades biológicas, utilizando os taninos presentes no vinho ou nas sementes, sem ter em conta a sua origem, metabolização ou transformação que sofrem no organismo, após serem ingeridos e absorvidos. A nossa experimentação está centrada na identificação das moléculas que exercem este efeito saudável. Ou seja, nos compostos que encontramos no sangue depois da ingestão destes taninos e que chegarão aos órgãos para desenvolver esta função protetora”, esclareceu José Manuel Moreno Rojas, investigador do IFAPA e coautor do estudo.

Estudos anteriores consultados pela equipa de investigação concluem que à ingestão de taninos do vinho são atribuídas atividades anti-inflamatórias e anti-envelhecimento, ao mesmo tempo que atuam no sentido de atrasar o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e degenerativas. Quanto aos taninos presentes nas grainhas de uva, melhoram a circulação sanguínea e a função vascular, além de mostrarem benefícios a nível cognitivo.

“Pesquisas anteriores, que envolveram a realização de ensaios em pessoas e animais, aos quais foram administrados extratos destes compostos, mostraram que atenuam a neurotoxicidade e aliviam a degeneração neuronal na doença de Parkinson, ao controlar a progressão da deterioração celular. Também aumentam significativamente a capacidade da memória espacial e contrariam o desequilíbrio entre células e antioxidantes, melhorando a memória e a aprendizagem nas pessoas com Alzheimer”, diz a investigadora Gema Pereira, responsável do estudo.

O passo seguinte consiste no desenvolvimento de técnicas melhoradas de purificação dos taninos e a sua posterior análise em estudos nutricionais.”O nosso trabalho fornece informação valiosa, mostrando que tipo de compostos precisam de ser analisados em testes, como culturas celulares e ensaios bioquímicos, a fim de melhor compreender a atividade biológica que podem exercer, especificando a sua origem”, assinala Gema Pereira.

Além disso, esta linha de trabalho abre novas vias de investigação para obter e desenvolver alimentos funcionais. “Uma vez conhecidas as aplicações que podem ser dadas a estes compostos, poderiam ser incorporados na dieta alimentar através de outros produtos, tais como pão ou bolachas”, sugere a especialista.

O estudo foi realizado com a participação da Universidade de Parma (Itália), Universidade de Davis (Estados Unidos), Universidade de Montpellier (França) e de peritos do Instituto de Investigação do Vinho da Austrália.

NR/HN/Adelaide Oliveira

Mais informação em:

https://fundaciondescubre.es/?p=89656&preview_id=89656&preview_nonce=edbcd05955&_thumbnail_id=89659&preview=true
Full bibliographic information

 

Gema Pereira-Caro, Sylvie Gaillet, José Luis Ordóñez, Pedro Mena, Letizia Bresciani, Keren A. Bindon, Daniele Del Rio, Jean-Max Rouanet, José Manuel Moreno-Rojas y Alan Crozier: Bioavailability of red wine and grape seed proanthocyanidins in rats. Food & Function. Abril de 2020

 

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