Necessário convocar mais 160 mil mulheres por ano para atingir objetivos europeus no rastreio do colo do útero

3 de Fevereiro 2023

A especialista Cristina Portugal defendeu hoje ser necessário convocar para o rastreio do cancro do colo do útero pelo menos mais cerca de 160.000 mulheres anualmente, para atingir a meta europeia de cobertura da população elegível em 2025.

Segundo dados provisórios da Direção-Geral da Saúde (DGS), em 2022 foram convocadas 342.223 mulheres (255.593 em 2021), das quais 321.888 foram rastreadas, o que representa um aumento de 32,2% face a 2021 (+78.340 rastreios) e uma taxa de adesão de 94%.

Apesar deste aumento, Cristina Portugal, do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas (PNDO) da DGS, disse que há “uma ‘décalage’ de mais de 200.000 mulheres que não foram convidadas para rastreio em 2022”.

“Isto significa que terá que ser feito um esforço para “atingir pelo menos um aumento de cerca de 160.000 mulheres por ano para conseguirmos atingir aquilo que está previsto em 2025”, adiantou Cristina Portugal numa cerimónia para assinalar o Dia Mundial de Luta Contra o Cancro.

A especialista explicou que este rastreio está implementado há muitos anos em Portugal e é iniciado pelo médico de família, o que disse ser um fator que faz com que tenha havido “uma deficiência no número de convites porque a atividade dos médicos de família às vezes não consegue mobilizar todas as mulheres que deveria”.

A cobertura geográfica do rastreio do cancro do colo do útero tem vindo a aumentar, atingindo 98% das unidades funcionais, “mas a cobertura populacional é relativamente baixa (…) com apenas 61% das mulheres elegíveis (25/60 anos) a serem de facto convidadas em 2022”.

No entanto, “a adesão é enorme”, o que Cristina Portugal disse indicar que este rastreio tem “algumas características de rastreio oportunístico” ao captar as mulheres nas consultas de planeamento familiar ou no médico de família.

“Temos que ter atenção porque se calhar estamos sempre a rastrear as mesmas mulheres e há de facto uma franja de mulheres que não frequenta os centros de saúde que não estão a ser captadas para este rastreio”, alertou.

No rastreio ao cancro do cólon e reto também vai ser necessário rastrear 846.000 pessoas entre os 50 e os 74 anos para conseguir atingir o objetivo de cobertura de 90%, disse Emanuel Gouveia, adjunto da direção do PNDO.

Os dados da DGS indicam que foram convidadas no ano passado 486.140 pessoas (376.703 em 2021), das quais 177.203 foram rastreadas com pesquisa de sangue oculto nas fezes. Neste caso particular regista-se uma quebra de 6,1%, com menos 11.519 rastreios realizados, sendo a taxa de adesão a este rastreio de 36,5%.

“Temos ainda, em 2022, 994.552 indivíduos sem convite e se olharmos para as metas que são exigidas pela União Europeia, necessitamos de rastrear 846.000 indivíduos para conseguir atingir o objetivo de 90%”, salientou.

Segundo Emanuel Gouveia, a cobertura geográfica por unidade funcional no continente tem vindo a aumentar, passando de 58% em 2019, para 80% em 2022, mas ainda não é de 100%”.

Tanto Cristina Portugal como Emanuel Gouveia salientaram que os rastreios são mais impulsionados pela ARS Norte.

Mas, disse, mesmo na região Norte, “a grande impulsionadora deste rastreio”, tem havido “uma diminuição de adesão ao rastreio, que é um fator que carece de alguma análise”.

No que respeita ao cancro da mama, os dados da DGS revelam que em 2022 foram convocadas 773.360 mulheres (655.040 em 2021), das quais 390.767 realizaram uma mamografia, mais 10% face a 2021 (+35.488 rastreios), com uma adesão de 51%.

“A nossa meta foi largamente ultrapassada, com uma taxa de cobertura populacional de 98%, com uma pequena margem ainda de trabalho para atingirmos os 100% e, portanto, com excelentes resultados”, disse a médica Donzília Brito, adjunta da direção do PNDO.

A especialista adiantou que os programas de rastreio de base populacional, já existentes para os cancros da mama, colorretal e colo do útero, vão ser alargados aos cancros do pulmão, da próstata e do estômago, através dos estudos piloto.

LUSA/HN

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