O AVC, sendo a 1ª causa de morte e de incapacidade, está muito longe de merecer a atenção política e mediática que devia ter. Nunca foi, e cada vez menos pode ser considerada, uma doença de velhos, ou que só atinge pessoas com hábitos desregrados.
Tudo tem de começar na prevenção. É um facto que a consciencialização, paulatinamente, tem aumentado; as mudanças e um melhor controlo sobre, pelo menos, os maiores fatores de risco, nem tanto…
Quando o AVC ocorre, quanto mais pessoas conhecerem corretamente os chamados “sinais de alerta” e como atuar, maiores são as hipóteses de se conseguir salvar vidas e de minorar as sequelas.
Portugal subscreveu o Plano de Ação para o AVC na Europa, comprometendo-se a tratar, pelo menos, 90% de todas as pessoas que sofrerem AVC numa unidade dedicada. Mas há regiões em que o acesso a uma unidade de AVC ainda está demasiado distante… Até em hospitais com unidade em pleno funcionamento, uma grande parte dos doentes ainda é internada em enfermaria geral, não beneficiando da intervenção terapêutica mais eficaz.
Depois, assegurar a reabilitação coordenada e multidisciplinar, abrangendo médicos, fisioterapia, terapia da fala, terapia ocupacional, enfermagem de reabilitação, psicologia, nutricionistas, eventualmente outros profissionais, começando logo após o AVC, sem tempos pré-estabelecidos, é absolutamente fundamental. Não se verifica para a grande maioria dos sobreviventes.
No acesso à reabilitação, há disparidades enormes, conforme a unidade hospitalar, a localização geográfica, a capacidade económica, os seguros ou subsistemas de saúde, o acesso à informação dos sobreviventes e famílias.
É preciso que se perceba claramente que a reabilitação, além de ser um direito, não é um custo, mas um claro investimento com retorno. Há suporte científico e segurança para afirmar que muitos cuidados de reabilitação são custo-efetivos na melhoria dos resultados funcionais.
A sensibilização da importância da reabilitação é fundamental e urgente. Em particular do AVC, um evento de saúde de instalação súbita, em que o tempo e a qualidade assumem um papel fulcral. Até porque, a reabilitação e as fases posteriores do circuito de cuidados e tratamento do AVC têm sido relativamente negligenciadas pelo sistema de saúde.
Sobreviver com sequelas pode ter grandes implicações para a vida, a família e a sociedade em geral. Dois terços das pessoas vivem com alguma incapacidade física, quase dois em cada cinco apresentam depressão e cerca de 30% desenvolve compromisso cognitivo. Além disso, são muito mais propensos a viver com outra doença. Com o objetivo de otimizar a funcionalidade e autonomia, a reabilitação pode constituir um serviço poderoso que salva-vidas, reintegra pessoas e minimiza custos para as famílias e sociedade.
Mesmo ao longo da vida, quando até já não são de esperar objetivamente melhorias muito significativas, o sobrevivente de AVC pode precisar da continuidade da reabilitação. Evitando, tão comuns, regressões e agravamentos, contribuindo para a melhoria ou manutenção da qualidade de vida possível e evitando também o surgimento de acrescidos problemas de saúde.
A reabilitação é indissociável da atenção pela vida pós-AVC, que tem de começar pela prevenção secundária, tão importante como a primária. Estima-se que cerca de um terço dos AVC são repetições. Por isso mesmo, é essencial que as consultas de seguimento, aconteçam também na fase crónica. Em que podem e devem ser seguidos, não só os motivos que estiveram na base do primeiro episódio, como os principais fatores de risco, se avalie periodicamente a reabilitação e aconselhe sobre o estilo de vida e o exercício físico. É fundamental, mas, presentemente, também não acontece em boa medida.
Há que melhorar significativamente a situação do tratamento do AVC em Portugal desde já!
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