Antecipação de diagnóstico e tratamento de filhos de mães com VIH diminui 67% das mortes

21 de Abril 2023

A antecipação do diagnóstico e tratamento das crianças filhas de mães seropositivas para o primeiro dia de vida permitiu uma redução da mortalidade de 67%, de acordo com os resultados de um estudo a decorrer em Moçambique e na Tanzânia.

Estes resultados foram hoje apresentados durante uma sessão sobre VIH-SIDA e tuberculose durante o 6.º Congresso Nacional de Medicina Tropical, que decorre no Instituto de Higiene e Medicina Tropical, em Lisboa.

A apresentação esteve a cargo de Nuno Taveira, investigador do Instituto Universitário Egas Moniz e especialista em VIH que tem trabalhado no estudo LIFE, que envolveu cerca de 6.000 mães portadoras do Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) e os respetivos recém-nascidos, residentes em Moçambique e na Tanzânia, onde a prevalência deste vírus ainda é “muito elevada”.

Ao contrário do que é usual – o diagnóstico e tratamento das crianças depois de quatro a oito semanas após o nascimento – a equipa deste projeto, liderado por Ilesh Jani, atual vice-ministro da Saúde de Moçambique, antecipou o processo para o primeiro dia de vida dos nascituros.

“Queríamos analisar se o diagnóstico feito no primeiro dia após o nascimento das crianças, e imediatamente seguido do tratamento antirretroviral dado por enfermeiras ou parteiras, tinha um impacto significativo ao nível da morbilidade e mortalidade das crianças”, explicou Nuno Taveira à Lusa.

Os resultados foram animadores, uma vez que a mortalidade diminuiu 67% com o diagnóstico e tratamento antecipados, sendo o primeiro realizado 20 horas após o nascimento e o segundo três horas depois.

“Esta intervenção muito precoce diminuiu a mortalidade de uma forma acentuada e diminuiu outras consequências clínicas”, além de aumentar a retenção das parturientes durante o tempo em que o estudo decorria.

Os investigadores foram, contudo, confrontados com um número de transmissões verticais (da mãe para o filho) inferiores ao esperado.

Apesar de contarem com uma transmissão na ordem dos 4%, esta foi de 1,9% em Moçambique e 0,7% na Tanzânia.

Outra contrariedade prendeu-se com os vírus resistentes ao tratamento aplicado, presente em 30% das mulheres e transmitido aos filhos.

Esta resistência está relacionada com os medicamentos que estas mulheres recebem e que são os mais antigos e mais baratos (inibidores da transcriptase reversa – ITRN), ao contrário dos atuais (inibidores de integrase), que são um regime muito bem bem-sucedido e sem resistências nas mães e nas crianças.

Outra dificuldade com que a investigação foi confrontada relacionou-se com a baixa adesão à terapêutica.

“As crianças têm de tomar um xarope no início, com um determinado regime terapêutico. Ao fim de umas semanas muda-se e é um granulado que tem de ser as mães a dar, com uma colher ou uma seringa. Pensamos que as mães não davam com a frequência que deviam”, disse.

Resultado: “O vírus não era suprimido, ganhava resistência e o efeito ao nível da mortalidade não foi tão alto como gostaríamos que fosse, porque as crianças continuavam a ter vírus a replicar-se”.

Para já, a investigação indica que esta antecipação de diagnóstico e terapêutica teve “um impacto positivo ao nível da mortalidade, mas só nos primeiros meses”.

“Na prática, morreram menos crianças nos primeiros meses, em relação a quem fez o diagnostico e tratamento mais tardio, mas passado algum tempo essa diferença esbateu-se”, acrescentou Nuno Taveira.

LUSA/HN

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