Jaime Ribeiro, médico na USF do Corgo, inserida no Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Marão – Douro Norte, classificou o projeto como “pioneiro” e explicou que a síndrome de apneia obstrutiva do sono (SAOS) é “altamente subdiagnosticada” em Portugal e a nível mundial.
“Isto é, mais de 80% das pessoas que têm a doença não sabem que a têm, não estão tratadas”, afirmou aos jornalistas.
Catarina Cascais, interna de segundo ano na mesma USF, acrescentou que a via verde visa o “diagnóstico e tratamento mais rápido de doentes com SAOS” e reforçou que se trata de “uma patologia que é de elevada prevalência, ou seja, que é muito comum, mas pouco diagnosticada”.
A SAOS é um distúrbio respiratório do sono caracterizado pelo breve, mas frequente, bloqueio das vias respiratórias, que pode provocar interrupções da respiração totais (apneias) ou parciais (hipopneias) durante o sono.
No âmbito do projeto, que deverá arrancar no segundo semestre deste ano, vão ser selecionados “utentes de alto risco de SAOS”, nomeadamente doentes hipertensos, diabéticos, obesos e homens a partir dos 45 anos, e os que cumprem os requisitos são encaminhados para fazer o exame de diagnóstico a nível do ACES e são encaminhados, através desta via verde, para a pneumologia onde é validado o resultado e instituído o tratamento.
“Com isso pretendemos reduzir o tempo de espera”, salientou Catarina Cascais, que explicou que, neste momento, existe uma “demora de aproximadamente dois anos” desde a suspeita, referenciação a nível de cuidados de saúde primários até à primeira consulta de pneumologia onde é feito o diagnóstico e depois o tratamento.
Jaime Ribeiro explicou que esta síndrome provoca hipersonolência diurna e referiu que, no dia-a-dia, uma pessoa que tenha muito sono pode colocar em risco a sua vida e a vida de outras pessoas, como, por exemplo, na condução, podendo refletir-se ainda na produtividade na sua atividade laboral.
“São pessoas que ressonam muito e que têm paragens respiratória durante o sono e durante estas paragens respiratórias claro que há alterações a nível de oxigenação que se vão refletir nesta hipersonolência, mas também em alterações cardiometabólicas, isto é, há um maior risco de AVC, de enfarte”, apontou.
Sobre o diagnóstico da patologia, Jaime Ribeiro referiu que, “por um lado, a comunidade médica ainda não está totalmente sensibilizada, mas os utentes muito menos ainda”.
“E este trabalho que nós queremos fazer é um trabalho de inovação diagnóstica e de cooperação entre os cuidados de saúde primários, no caso, o centro de saúde e o hospital”, sustentou o médico.
O projeto resulta de uma colaboração entre a USF e o serviço de pneumologia do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD) e envolve o Centro Académico Clínico de Trás-os-Montes e Alto Douro e conquistou recentemente a bolsa de investigação diagnóstica e terapêutica em cuidados de saúde primários, instituída pelo Update em Medicina, em parceria com a Alfasigma Portugal, Lda.
O diretor executivo do ACES Douro Norte, Gabriel Martins, realçou que se trata “de um projeto pioneiro” que visa a “prestação de melhores cuidados aos utentes” e que se poderá estender a outras unidades de saúde.
LUSA/HN
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