A faixa de temperatura onde os mosquitos portadores da malária prosperam está a aumentar, tendo os investigadores encontrado evidências do fenómeno desde as terras altas tropicais da América do Sul até às regiões montanhosas e populosas da África oriental.
À medida que o planeta aquece, os mosquitos estão lentamente a migrar para cima, noticiou esta quinta-feira a agência Associated Press (AP), numa colaboração com a revista Grist para explorar a interceção entre alterações climáticas e doenças infecciosas.
Os cientistas temem que as pessoas que vivem em áreas outrora inóspitas para os insetos, incluindo as encostas do Monte Kilimanjaro e as montanhas do leste da Etiópia, possam ser expostas à doença.
“À medida que fica mais quente em altitudes mais altas com as alterações climáticas e todas essas outras mudanças ambientais, os mosquitos podem sobreviver no alto da montanha”, sublinhou Manisha Kulkarni, professora e investigadora que estuda a malária na África subsaariana na Universidade de Otava.
Kulkarni liderou um estudo publicado em 2016 que descobriu que o habitat dos mosquitos transmissores da malária tinha-se expandido na região de alta altitude do Monte Kilimanjaro em centenas de quilómetros quadrados em apenas 10 anos. Altitudes mais baixas, em contraste, estão a ficar muito quentes para os insetos.
Ocorrências semelhantes foram encontradas em outros locais, com investigadores, em 2015, a assinalarem também que as aves nativas do Havai foram ‘espremidas’ para fora dos habitats de altitude mais baixa, à medida que os mosquitos portadores da malária aviária migravam lentamente para o seu território.
Mas, dado que 96% das mortes por malária ocorreram na África em 2021, a maioria das investigações sobre a tendência concentram-se nesse continente.
A região estudada por Kulkarni, que está a crescer em população, fica perto da fronteira da Tanzânia e do Quénia.
Juntos, os dois países foram responsáveis por 6% das mortes globais por malária em 2021.
As mortes globais por malária diminuíram 29% entre 2002 e 2021, pois os países adotaram táticas mais agressivas no combate à doença.
No entanto, os números continuam altos, especialmente em África, onde crianças menores de 5 anos representam 80% de todas as mortes por malária.
O último relatório mundial de malária da Organização Mundial da Saúde (OMS) registou 247 milhões de casos de malária em 2021 – Nigéria, República Democrática do Congo, Uganda e Moçambique sozinhos representaram quase metade desses casos.
“A ligação entre as alterações climáticas e a expansão ou mudança na distribuição de mosquitos é real”, frisou Doug Norris, especialista em mosquitos da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg, que não participou na investigação.
Apesar disso, permanece a incerteza sobre como a mudança das populações de mosquitos afetará as pessoas no futuro.
Os mosquitos são exigentes quanto ao seu habitat, acrescentou Norris, e as várias espécies portadoras da malária têm preferências diferentes em temperatura, humidade e quantidade de chuva.
O aumento das temperaturas também não é a única maneira das alterações climáticas darem vantagem aos mosquitos, pois os insetos tendem a prosperar nos tipos de extremos que estão a acontecer com mais frequência.
Estações de chuva mais longas podem criar melhores habitats para os mosquitos, que se reproduzem na água.
Mas, inversamente, embora as secas possam impossibilitar esses habitats, também incentivam as pessoas a armazenar água em recipientes, criando condições perfeitas para os mosquitos.
Um surto de chikungunya, outra doença transmitida por mosquitos, entre 2004 e 2005 foi associado à seca na costa do Quénia por esses motivos.
LUSA/HN
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