Startup portuguesa recebe patentes europeias para sistema de proteção de dados pessoais de saúde

Startup portuguesa recebe patentes europeias para sistema de proteção de dados pessoais de saúde

A ‘startup’ destaca, em comunicado, o trabalho desenvolvido por cientistas e técnicos portugueses, que garante o respeito pelas normas do Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) e possibilita o direito exclusivo de exploração da plataforma digital na Europa.

Uma das patentes agora concedidas a nível europeu já tinha sido atribuída em 2021 pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). A plataforma será ainda, segundo a empresa, um contributo de relevo para a implementação do Espaço Europeu de Dados de Saúde.

“Ou se dava acesso aos dados de saúde, o que identificava as pessoas, ou se negava esse acesso, resolvendo o problema da privacidade da forma mais básica. Agora, a Mediceus vai permitir que os dados de saúde do cidadão sejam anonimizados e partilhados sob o controlo do titular, e de forma confidencial. No nosso sistema é impossível que uma pessoa que não precisa de conhecer o (…) nome (de alguém), possa conhecer a sua identidade”, referiu o fundador da empresa, Peter Villax, citado na nota de imprensa.

A plataforma de saúde digital, desenvolvida pela empresa fundada em 2018, tem associado um consórcio com 16 entidades de oito países, entre as quais o Serviço Nacional de Saúde da Estónia e o Serviço Nacional de Saúde da Turquia.

LUSA/HN

Cientistas divulgam primeiro ‘pangenoma’ humano

Cientistas divulgam primeiro ‘pangenoma’ humano

A versão preliminar do ‘pangenoma’, descrita numa série de artigos na revista científica Nature, agrega os genomas (toda a informação genética) de 47 pessoas com origem em África (mais de metade), nas Américas (um terço), na Ásia (seis pessoas) e na Europa (um judeu asquenaze). A Oceânia não está representada.

O consórcio de cientistas envolvido no trabalho – Consórcio de Referência do Pangenoma Humano – espera reunir, até meados do próximo ano, os genomas de 350 pessoas.

Um primeiro genoma humano foi sequenciado em 2003 e serviu de referência para outros genomas humanos que foram publicados posteriormente.

Em março de 2022, cientistas publicaram a primeira sequência efetivamente completa do genoma humano graças a novas tecnologias que permitiram preencher as brechas deixadas há 20 anos por um estudo que anunciara o primeiro genoma humano completo.

O genoma humano é composto por pouco mais de seis mil milhões de letras de ADN distribuídas por 23 pares de cromossomas (estruturas organizadas de células que contêm genes, responsáveis pela codificação da informação genética). Em cada um desses pares de cromossomas, um cromossoma provém do pai e o outro da mãe.

O primeiro genoma humano sequenciado permitiu identificar genes responsáveis por doenças específicas, iniciar pesquisas sobre medicina mais personalizada e clarificar o mecanismo da evolução humana.

Contudo, não refletia a diversidade humana, uma vez que mais de 70% das sequências genómicas eram de uma só pessoa – que respondeu a um anúncio de jornal na cidade norte-americana de Buffalo em 1997 – e as restantes de 20 pessoas, maioritariamente brancas e europeias.

LUSA/HN

Investigadoras premiadas por trabalhos sobre dispositivos cardíacos, diabetes, glaucoma e solos

Investigadoras premiadas por trabalhos sobre dispositivos cardíacos, diabetes, glaucoma e solos

Andreia Pereira (i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto), Joana Sacramento (Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa), Raquel Boia (iCBR – Instituto de Investigação Clínica e Biomédica da Universidade de Coimbra) e Sara Peixoto (Universidade de Aveiro) vão receber, cada uma, uma bolsa de 15 mil euros, indicou hoje a organização da iniciativa.

As Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência são uma iniciativa conjunta da empresa de cosmética L’Oréal Portugal, que financia as bolsas, da Comissão Nacional da Unesco e da Fundação para a Ciência e Tecnologia, que designa o júri que avalia as candidaturas.

As bolsas, atribuídas anualmente a quatro investigadoras de entre 31 e 35 anos, visam “promover a participação das mulheres na ciência, incentivando as mais jovens e promissoras cientistas, em início de carreira, a realizarem estudos avançados na área das ciências, engenharias e tecnologias para a saúde ou para o ambiente”.

O júri foi presidido pelo biofísico Alexandre Quintanilha.

Andreia Pereira, investigadora do i3S do Porto, está envolvida num projeto que, explicou à Lusa, pretende “estudar o uso de uma fonte de energia alternativa inesgotável, nomeadamente através da transformação da energia mecânica” do doente “em energia elétrica para alimentar” dispositivos cardíacos eletrónicos implantáveis.

Para isso, a equipa da qual faz parte propõe-se desenvolver nanogeradores triboelétricos biocompatíveis, que “funcionam de acordo com o princípio da eletricidade estática que é produzida, por exemplo, quando ocorre fricção de um lápis numa camisola de lã ou de um balão no cabelo”.

Os atuais dispositivos cardíacos implantáveis, como os ‘pacemaker’, têm baterias com “tempo de vida limitado”, sendo necessária uma cirurgia para substitui-las, o que, segundo Andreia Pereira, “acarreta um grande risco” para o doente.

A equipa pretende também usar os nanogeradores triboelétricos para desenvolver nanosensores que permitam monitorizar diariamente o desempenho de próteses vasculares e “enviar sinais de alerta para o médico, prevenindo a sua falha e a ocorrência de um evento vascular, como por exemplo um enfarte do miocárdio, que pode culminar com a morte do paciente”.

A investigadora Joana Sacramento, da Universidade Nova de Lisboa, disse à Lusa que o seu projeto visa desenvolver um algoritmo que “permita modular seletivamente e em tempo real” a atividade do nervo do seio carotídeo para tratar a diabetes tipo 2, sem afetar outras funções desempenhadas por este órgão, como o controlo dos níveis de oxigénio no sangue.

Este nervo, que estudos precedentes concluíram estar envolvido na diabetes tipo 2, liga “um pequeno órgão” localizado “bilateralmente no pescoço” ao cérebro.

Num trabalho anterior, Joana Sacramento e outros cientistas conseguiram reverter a diabetes em animais através da modulação bioeletrónica do nervo do seio carotídeo.

O algoritmo será desenvolvido com ferramentas de inteligência artificial, a partir de dados de caracterização da atividade do nervo em ratos diabéticos, e testado nos roedores numa primeira fase.

“Desta forma, poderemos validar e ajustar o algoritmo de modo a, no futuro, desenvolver um sistema em circuito fechado que avalie e corrija em tempo real a atividade no nervo do seio carotídeo, de forma automática e personalizada tendo em conta as características de cada doente”, explicou Joana Sacramento, que trabalha num laboratório que estuda estratégias de tratamento para distúrbios metabólicos.

Sara Peixoto, da Universidade de Aveiro, vai testar em laboratório a aplicação de bioestimulantes em amostras de solos degradados por incêndios florestais e agricultura intensiva e avaliar diferentes parâmetros, como a quantificação de nutrientes, que permitam “confirmar o possível restabelecimento da funcionalidade e vitalidade desses solos”, na presença ou ausência de plantas como o trigo e o pinheiro.

A investigadora esclareceu à Lusa que bioestimulantes “são produtos que contêm compostos naturais ou microrganismos na sua formulação” e “geralmente são utilizados na agricultura para promover o desenvolvimento de plantas, melhorar o rendimento das culturas e até melhorar a qualidade dos alimentos”.

“Quando estes microrganismos benéficos são aplicados em solos degradados, menos saudáveis, podem disponibilizar os nutrientes, como azoto ou fósforo, no solo ajudando a restabelecer as condições favoráveis para o desenvolvimento das plantas, ou seja, aumentando os níveis destes nutrientes nos solos”, adiantou.

No seu trabalho, Sara Peixoto vai olhar em particular para a área circundante das raízes de plantas e “avaliar os efeitos das interações” entre os microrganismos benéficos que entram na formulação de bioestimulantes e os microrganismos naturalmente presentes no solo (microbioma do solo).

A cientista, que espera obter os primeiros resultados no próximo ano, quer ainda perceber se os bioestimulantes podem ajudar o microbioma do solo a tolerar exposições a pesticidas.

Segundo Sara Peixoto, os bioestimulantes “podem ser uma mais-valia para o ambiente”, uma vez que, “tendo uma base de formulação natural, podem promover a recuperação da funcionalidade dos solos degradados e ao mesmo tempo promover a diminuição do uso de químicos”.

Raquel Boia, do iCBR de Coimbra, propõe-se desenvolver uma nova terapia para o glaucoma, atualmente sem cura, recorrendo a um implante intraocular capaz de libertar um medicamento que regenere o nervo ótico danificado e permita recuperar a visão.

O glaucoma é uma das principais causas de cegueira irreversível e caracteriza-se pela “perda substancial” de células ganglionares da retina e por danos no nervo ótico, que é constituído pelos prolongamentos destas células, os axónios. É o nervo ótico que transmite a informação visual ao cérebro.

“Na prática vai ser utilizado um implante intraocular biodegradável para a libertação de um fármaco que ativa o recetor A3 de adenosina que está presente nas células ganglionares da retina e que já sabemos que quando é ativado lhes confere proteção”, assinalou Raquel Boia à Lusa, acrescentando que a estratégia vai ser testada em células e animais.

No futuro, se for bem-sucedido, este implante intraocular biodegradável poderá substituir “as múltiplas injeções intravítreas necessárias no tratamento de doenças crónicas da retina”.

LUSA/HN

Joana Isidro recebe Prémio João Monjardino

Joana Isidro recebe Prémio João Monjardino

Joana Isidro é a primeira autora do trabalho realizado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) e publicado em junho na revista científica Nature Medicine.

O estudo, coordenado pelo microbiologista João Paulo Gomes, sugere que o surto à escala mundial de ‘mpox’, em 2022, e que atingiu Portugal, teve uma origem ancestral comum em África e que o vírus que o provocou tem um número “anormalmente elevado” de mutações genéticas, ao todo 50.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou em 23 de julho o surto de ‘mpox’ como uma emergência de saúde pública internacional.

O Prémio João Monjardino, no montante de 10 mil euros, é uma iniciativa da Fundação Francisco Pulido Valente e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) que “distingue anualmente trabalhos científicos numa área específica das ciências biomédicas e da saúde” feitos por um investigador com menos de 35 anos num laboratório nacional, salienta a FCT numa nota de imprensa.

A edição de 2022 do prémio foi dedicada às doenças virais.

A entrega da distinção será feita no auditório do INSA, em Lisboa.

LUSA/HN

Portugal recebe cientistas e investidores com dez mil milhões de euros para aplicar em medicina da longevidade

Portugal recebe cientistas e investidores com dez mil milhões de euros para aplicar em medicina da longevidade

Em entrevista à agência Lusa, o responsável pela organização da Longevity Med Summit, Jorge Lima, avançou que o evento reunirá, entre os “mais de mil” participantes, alguns dos “maiores especialistas de renome internacional” nas áreas da saúde e investigação, englobando setores como o turismo de saúde, biotecnologia, medicina de precisão, medicina regenerativa e inteligência artificial.

A escolha de Portugal para acolher a primeira edição do encontro – sendo que a organização estabeleceu já uma parceria até 2025 com a Câmara Municipal de Cascais (distrito de Lisboa) – é justificada com “a realidade e o ecossistema” do país, que “está a crescer muito nesta área da longevidade”.

“É um mercado, embora pequeno, muito interessante, tendo em conta o envelhecimento da sua população [a esperança média de vida é superior a 80 anos e 23% da população é idosa, segundo dados de 2021 do Instituto Nacional de Estatística] e toda a atual estrutura do setor da indústria da saúde está interessado em desenvolver cada vez mais a área da medicina da longevidade”, explicou Jorge Lima.

Segundo o responsável, oriundo de São Paulo e fundador da Unipeer Solutions, “há muito interesse de investidores internacionais nesta área em Portugal”, já que o país “tem boas empresas na área de biotecnologia de ponta, que já atuam há uns bons anos sobretudo no Centro e no Norte”, e “existe todo um ecossistema que é apoiado por institutos, universidades e aceleradores”.

“Ou seja, existe já um ecossistema natural, que tem um olhar muito forte na área da longevidade”, enfatizou.

A nível global, Jorge Lima destaca a forte evolução deste mercado que, “nos últimos dois anos, recebeu diretamente mais de 5.200 milhões de dólares [cerca de 4.691 milhões de euros] em investimentos diretos nas pequenas e médias empresas e, sobretudo, nas novas ‘startups’ surgiram nos últimos cinco anos”, e que “vai continuar a crescer de forma exponencial até 2030”.

“Hoje há não só fundos de investimento, como também grandes empresas e laboratórios que estão altamente focados no desenvolvimento deste mercado e têm todo o interesse em investir. Até 2020, este mercado já apontava números na ordem de 44.000 milhões de dólares [39.698 milhões de euros] em todo o mundo e vai continuar a crescer. Estamos a projetar um crescimento do mercado na ordem dos 43.000 milhões dólares [38.796 milhões de euros] até 2030”, precisou.

Conforme explicou, quando se fala em “mercado da longevidade” estão em causa desde terapias na área da genética ou da imunoterapia, como o desenvolvimento de novas drogas e de terapias, por exemplo, para diminuição de radicais livres e outras células diretamente ligadas ao envelhecimento.

Além de permitir o debate em torno da ciência do envelhecimento, de terapias regenerativas e de longevidade, com o objetivo de melhorar a saúde e o bem-estar, a Longevity Med Summit 2023 propõe-se “revelar os principais desafios que limitam o desenvolvimento dessas terapias” e ainda oferecer aos participantes novas oportunidades de negócio, ‘networking’ com potenciais investidores, conferências, ‘innovation pitches’ [apresentações] e ações de ‘mentoring’.

“A Longevity Med Summit engloba uma diversidade de setores e áreas de atuação que vão desde a saúde, nutrição, farmacologia, inteligência artificial, medicina de longevidade, digitalização a setores como a economia, políticas públicas, turismo ou educação”, destaca a organização.

Assim, presentes estarão investidores na área das biotecnologias – sobretudo biotecnologias direcionadas para a área da medicina de longevidade ou medicina regenerativa – provenientes de países como Israel, Estados Unidos (nomeadamente da Califórnia), Reino Unido ou Singapura.

“Vão estar cá os executivos e os ‘managers’ desses fundos de investimento, que virão a Portugal buscar não só novas oportunidades, como também tratar diretamente com os próprios cientistas de oportunidades em novas tendências e novos mercados para aportar aos seus investimentos nessas áreas”, explicou Jorge Lima.

Segundo salientou, trata-se de investidores “altamente especializados e conhecedores do mercado”, embora “grande parte ainda não conheça o ecossistema português”: “Será a primeira vez que virão a Portugal com o objetivo diretamente de investimento. Vão aproveitar para conhecer as empresas locais que estarão presentes e participar nas ‘pitches’ [apresentações curtas] que serão realizadas por essas pequenas empresas, muitas das quais são ‘startups’, para tomarem conhecimento do seu modelo de negócio”, disse.

“Se houver por parte dos investidores a perceção de que há alguma tecnologia que seja inovadora, que tenha uma solução bem desenvolvida e que é uma oportunidade, sem dúvida que vão investir nessas empresas”, antecipou.

De acordo com a organização, entre os oradores presentes na Longevity Med Summit estarão médicos, cientistas e investigadores como Shai Efrati, da Sagol School of Neuroscience da Tel Aviv University, em Israel, apresentando como “um dos principais cientistas de pesquisa em medicina hiperbárica do mundo”, Charles Brenner, presidente da Alfred E Mann Family Foundation (Departamento de Diabetes e Metabolismo do Cancro) no City of Hope National Medical Center, nos EUA, e “responsável por diversas pesquisas sobre a correlação do metabolismo, a diabetes e o aparecimento de doenças cancerígenas”.

Outros dos participantes serão Andrea B. Maier, professora de Medicina na Universidade Nacional de Singapura, investigadora na área da gerontologia e prevenção de doenças relacionadas com a idade e responsável por diversas pesquisas na área da saúde do envelhecimento e demência; Gordan Lauc, professor de Bioquímica e Biologia Molecular na Universidade de Zagreb, Croácia, e diretor do Centro Nacional de Excelência Científica em Saúde Personalizada; e Aubrey de Grey, cientista inglês e biomédico gerontologista, diretor da fundação SENS e autor da teoria do envelhecimento causado por radicais livres mitocondriais e do livro “Ending Aging”.

LUSA/HN