HealthNews – A dermatite atópica é uma doença inflamatória crónica da pele. Quais são os principais sinais e sintomas?
Tiago Torres (TT) – A dermatite atópica é uma doença inflamatória crónica da pele que se manifesta com lesões de eczema. Aliás, a dermatite atópica também pode ser chamada “eczema atópico”.
As lesões de eczema são habitualmente lesões de pele vermelhas, muitas vezes com alguma descamação e, acima de tudo, associadas a muito prurido (comichão). O prurido é o sintoma que mais incomoda o doente e aquele que tem mais impacto físico e psicológico.
A maioria dos casos surge na infância, sendo que há um grupo de doentes (cerca de 20%) que pode desenvolver dermatite atópica na idade adulta.
HN – Quais as regiões do corpo tipicamente afetadas e que causam maior desconforto aos doentes?
TT – As lesões localizam-se em áreas características, tais como as zonas de flexão dos braços e a região posterior das pernas, mas também podem atingir a face, os punhos, o pescoço e outras zonas.
Clinicamente, a dermatite atópica manifesta-se também diferentemente ao longo da idade. No lactente localiza-se mais na face e nas regiões extensoras dos braços e das pernas. Posteriormente, com a idade, atinge mais as zonas que antes referi.
HN – A incidência desta patologia tem vindo a aumentar. Trata-se de um sinal positivo ou negativo? Significa que há mais pessoas diagnosticadas ou mais pessoas em “dor”?
TT – A dermatite atópica é uma doença muito prevalente. Estima-se que possa afetar até 15% das crianças e entre 7 a 10% dos adultos. Mas, apesar da sua elevada prevalência, na maioria das vezes são formas ligeiras. Só cerca de 20 a 25% destes casos são formas moderadas a graves, que necessitam de tratamentos mais específicos.
A incidência tem vindo a aumentar essencialmente nos países desenvolvidos. Acredita-se que haja causas ambientais, inerentes ao desenvolvimento da sociedade, tais como a poluição, que possam ter aqui algum papel.
Quanto ao facto de se estarem a fazer mais diagnósticos, poderá ter a ver também com um maior conhecimento sobre a doença por parte dos doentes e da sociedade em geral. É necessário continuar a trabalhar na questão da consciencialização, do conhecimento e da informação sobre a dermatite atópica, quer para doentes, quer para a sociedade em geral.
HN – Quais as principais causas desta doença?
TT – A dermatite atópica é uma doença inflamatória, portanto, imunomediada, crónica, em que as causas são genéticas e ambientais.
Há naturalmente um componente genético importante. Sabemos que a presença de certos genes predispõem ao desenvolvimento da doença. E
há depois um conjunto de fatores ambientais que podem levar ao seu aparecimento, como certos microorganismos, alergénios e poluição.
HN – Ainda não há cura para esta patologia. Mas há tratamento.
TT – Essa é uma informação muito importante para os doentes. Não havendo uma cura, existem hoje em dia tratamentos eficazes que permitem controlar os casos mais graves da doença. E quando falamos em “controlar a doença” estamos a falar em diminuir as lesões da pele e melhorar também os sintomas, o prurido. Isso é muito importante porque, com os tratamentos, é possível melhorar a qualidade de vida dos doentes.
Esses tratamentos são relativamente recentes. Até 2017 não tínhamos medicamentos específicos para a dermatite atópica. Desde então, derivado do maior conhecimento que existe sobre os mecanismos da dermatite atópica, têm sido desenvolvidas e aprovadas terapêuticas que atuam em alvos muito específicos do mecanismo da doença. Permitem uma maior eficácia e também maior segurança no tratamento dos doentes, ou seja, menos risco de efeitos secundários.
Hoje em dia já existem vários medicamentos aprovados, quer injetáveis, quer orais. A grande evolução terapêutica tem sido essencialmente para as formas mais graves, aquelas que precisam de medicamentos sistémicos.
HN – O tratamento da dermatite atópica exige um cuidado integral. Qual é a importância do cuidado diário da pele?
TT – O cuidado diário da pele é muito importante porque a dermatite atópica é uma das doenças de pele que, claramente, precisa da aplicação diária de hidratante.
A aplicação do hidratante é fundamental porque, na dermatite atópica, a pele tem um defeito na barreira da pele que permite não só uma maior facilidade de penetração de microorganismos e alergénios externos, mas também menor capacidade de manter a pele hidratada.
Por isso, na dermatite atópica, é fundamental esse cuidado diário de aplicação do emoliente ou do hidratante, independentemente da gravidade, da idade ou do momento da doença. Quer a pessoa esteja bem; quer esteja mal. Ou seja, é importante na fase aguda e na fase de controlo, porque esse defeito existe sempre.
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