APAH considera que acordo torna SNS “mais competitivo”

29 de Novembro 2023

Os administradores hospitalares saudaram esta quarta-feira o acordo entre o Governo e o Sindicato Independente dos Médicos (SIM), considerando que torna o SNS “mais competitivo”, mas admitiram que poderá não existir “uma alteração muito significativa” dos constrangimentos nas urgências.

O presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH) considerou, em declarações à agência Lusa, “muito positivo” o acordo intercalar com o SIM, que foi recusado pela Federação Nacional dos Médicos, para um aumento dos salários em janeiro, e o facto de ter acontecido “em circunstâncias que não eram fáceis”.

“O acordo é sempre positivo no sentido em que torna o trabalho médico no Serviço Nacional de Saúde mais atrativo para os jovens especialistas” e “mais competitivo na captação e na retenção de recursos humanos médicos”, defendeu Xavier Barreto.

Apesar do acordo, o responsável disse ser difícil perspetivar no curto prazo de que forma poderá ajudar a resolver a crise no Serviço Nacional de Saúde, porque a decisão de reverter a decisão de não fazer mais do que as 150 horas extraordinárias obrigatórias é do médico.

“Quando um médico aceita este aumento salarial, que pode ir até quase aos 15% no caso dos assistentes graduados, não está lá previsto que tenha que reverter a sua decisão (…) e, portanto, não é certo que, neste momento, uma parte significativa dos médicos regresse à realização de horas extraordinárias para além das 150”, justificou, recordando que cerca de 2.800 médicos entregaram a declaração, o que está a criar constrangimentos no funcionamento dos serviços de urgência.

Segundo o responsável, os próximos dias serão importante para perceber qual é “a decisão de cada médico em função deste acordo”.

Mesmo com o acordo, pode haver médicos que não querem fazer mais do que as 150 horas, porque querem “um melhor equilíbrio entre a sua vida pessoal e a sua vida profissional” e, avisou, “se for esse o cenário” não vai haver “médicos e horas de trabalho médico suficientes” para regressar à rede de urgências que existia no início do ano passado.

Para Xavier Barreto, o Ministério da Saúde tem que fazer uma reflexão “muito rapidamente”, em função dos recursos humanos que vai ter em 2024, com os profissionais de saúde, com os diretores de serviços de urgência, com os hospitais.

“Não podemos é imaginar que vamos voltar a ter uma parte significativa dos médicos a fazer 400, 500 horas extraordinárias, porque isso provavelmente não vai voltar a acontecer”, realçou, advertindo que não se pode voltar a consumir o ‘plafond’ das 150 horas extras, que irá existir em 01 de janeiro, “como se nada tivesse acontecido”.

“É uma falácia porque vai falhar ainda mais cedo do que falhou este ano essa resposta para os doentes. Portanto, faz muito mais sentido ser uma resposta estruturada, pensada, reorganizada para, por exemplo, garantir que não falham vias verdes no interior do país”, defendeu.

Para o responsável, este é o desafio que tem que ser feito “a muito curto prazo”, porque a situação está a pressionar muito os hospitais.

Xavier Barreto defendeu que tem que se avançar para uma reorganização da rede de urgências, fazendo uma análise regional nalguns casos e, noutros casos, em cada área metropolitana, percebendo quais são as respostas que podem ser concentradas sem prejuízo dos doentes.

“Independentemente da ideia que temos daquilo que deve ser uma rede de urgências e daquilo que nós gostaríamos que fosse uma rede de urgências, temos de planear com os recursos humanos que temos e não com aqueles que tivemos no passado ou com os que gostaríamos de ter no futuro”, avisou.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Daniel Ferro: Retenção de Médicos no SNS: Desafios e Estratégias

Daniel Ferro, Administrador Hospitalar na USF S. José, apresentou no 10º Congresso Internacional dos Hospitais um estudo pioneiro sobre a retenção de profissionais médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS). A investigação revela as principais causas de saída e propõe estratégias para melhorar a retenção de talentos.

Inovação Farmacêutica: Desafios e Oportunidades no Acesso a Novos Medicamentos

A inovação farmacêutica enfrenta desafios significativos no que diz respeito ao acesso e custo de novos medicamentos. Num cenário onde doenças como Alzheimer e outras condições neurodegenerativas representam uma crescente preocupação para os sistemas de saúde, o Professor Joaquim Ferreira, Vice-Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, abordou questões cruciais sobre o futuro da inovação terapêutica, os seus custos e o impacto na sociedade durante o 10º Congresso Internacional dos Hospitais, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hopitalar (APDH).

Desafios e Tendências na Inovação Farmacêutica: A Perspetiva de Helder Mota Filipe

O Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, Helder Mota Filipe, abordou os principais desafios e tendências na inovação farmacêutica durante o 10º Congresso Internacional dos Hospitais. A sua intervenção focou-se na complexidade de garantir o acesso a medicamentos inovadores, considerando as limitações orçamentais e as mudanças demográficas e epidemiológicas em Portugal

Carlos Lima Alves: Medicamentos Inovadores: O Desafio do Valor Sustentável

Carlos Lima Alves, Médico e Vice-Presidente do Infarmed, abordou a complexa questão dos medicamentos inovadores no 10º Congresso Internacional dos Hospitais, promovido pela Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH). A sua intervenção centrou-se na necessidade de equilibrar o valor dos medicamentos com os custos associados, destacando a importância de uma avaliação rigorosa e fundamentada para garantir que os recursos financeiros sejam utilizados de forma eficaz e sustentável.

Projeto Pioneiro em Portugal Aborda Gestão de Resíduos na Diabetes

A Unidade Local de Saúde de Matosinhos apresentou um projeto inovador sobre a gestão de resíduos resultantes do tratamento da diabetes, na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. O projeto “Diabetes e o meio ambiente” visa sensibilizar e capacitar pacientes e famílias para a correta separação de resíduos, contribuindo para a sustentabilidade ambiental.

MAIS LIDAS

Share This