HealthNews (HN) – Quais são os fatores de risco para o cancro da próstata?
Sónia Rego (SR) – Alguns fatores de risco para o cancro da próstata são comuns a outros tipos de cancro, nomeadamente: o tabagismo e o álcool. São dois fatores sobejamente conhecidos, mas, infelizmente, ainda há muito a fazer porque ainda temos uma taxa elevada de consumo de álcool e tabaco. Além disso, temos outros fatores: a idade e os estilos de vila, nomeadamente os hábitos alimentares e a prática de exercício físico. Não ter hábitos de vida saudáveis pode ser um fator de risco importante para o cancro de uma forma geral e também da próstata. Também há uma percentagem para a parte hereditária.
Com o aumento da esperança de vida, hoje, cada vez mais uma grande parte da população acaba por ter alguém na família com cancro. Ainda não é conhecida nenhuma mutação que se saiba que é realmente fator de risco para a próstata, mas ter familiares com cancro da próstata aumenta a probabilidade de vir a desenvolver a doença.
HN – Em Portugal, qual é o percurso ideal do utente desde a prevenção ao tratamento do cancro da próstata?
SR – A literacia tem sido uma aliada em informar as pessoas sobre os fatores de risco. No fundo, a prevenção seria tentar minimizar os fatores de risco – aqueles que são mutáveis. A idade não é um fator que consigamos alterar, mas o tabaco, o álcool, os hábitos de vida acabam por poder ser alterados.
Outro ponto importante é a avaliação do PSA no sangue. É importante o doente a partir dos 45 anos fazer pelo menos uma vez por ano o doseamento do PSA. Se este estiver alterado, tem que recorrer ao seu médico assistente, e o médico assistente poderá, eventualmente, encaminhar para urologia ou pedir exames complementares, nomeadamente com o toque retal, que é importante porque a próstata é um órgão facilmente palpável e um médico com experiência consegue perceber se tem algum nódulo. Uma ecografia prostática poderá também ser necessária. Se houver alta suspeita, deve ser feita uma biopsia prostática, e se se confirmar a neoplasia, o doente deve ser encaminhado para oncologia e, numa reunião multidisciplinar, será orientado para o tratamento mais adequado.
O tratamento pode passar por cirurgia, radioterapia, braquiterapia, hormonoterapia ou quimioterapia, podendo estes tratamentos ser em monoterapia ou em combinação. O tratamento deverá sempre ser individualizado para o caso em questão. Habitualmente, quanto mais precocemente for diagnosticado o tumor, melhor é o prognóstico. Se for detetado numa fase precoce, muitas vezes até só com tratamento hormonal conseguimos controlá-lo muito bem.
HN – Esse percurso “ideal” está realmente a funcionar em Portugal?
SR – Portugal não tem um rastreio organizado do cancro da próstata. Ainda não existe um consenso. A forma mais assertiva seria com doseamento de PSA e, também, com toque retal. O PSA já começa a ser pedido pelos médicos de família, que, quando alterado, encaminham para fazer exames complementares, nomeadamente uma ecografia à próstata.
No Serviço Nacional de Saúde, sabemos que os timings nem sempre são os mais adequados, nem sempre se consegue cumprir os timings, e isso obviamente que pode atrasar o diagnóstico.
HN – O que pode ser muito prejudicial no caso cancro da próstata porque estamos a falar de uma patologia que inicialmente pode ser silenciosa.
SR – Sim. Na maior parte das vezes é silencioso. É comum o aumento do volume próstata acontecer com o aumento da idade. A próstata é uma glândula que está na região pélvica, muito próxima da bexiga. Aumentando de volume, os sintomas por que começa são, muitas vezes, maior frequência de micção e alteração no jato. Não se pode partir do princípio que todas essas alterações têm a ver com a idade. “Tem a ver com a idade, portanto é normal”. Não. O doente deve ter uma consulta regular com o seu médico assistente, fazer os exames que estão preconizados e, se estiverem alterados, ser encaminhado de forma precoce e orientado de uma forma correta. O cancro da próstata, como os outros cancros, está a surgir numa fase mais precoce, em doentes mais jovens, e preocupa-nos porque acaba-se muitas vezes por não interpretar como sendo um cancro. Depois, quando se vai avaliar, já estamos num estadio mais avançado.
HN – Até porque a avaliação do PSA nem sempre acusa, certo?
SR – Sim. Não é o mais comum, mas pode-se ter cancro da próstata com um PSA negativo. Por isso também é muito importante o toque retal, para o médico perceber se a próstata tem algum nódulo. O que é raro também existe no nosso dia a dia e é importante.
HN – Podemos agora expor e desmistificar o tabu?
SR – Como mexe com a parte mais íntima do homem, pode alterar a parte da micção, havendo alteração de urina, e pode afetar a função sexual, infelizmente muitos homens não assumem que têm essas alterações e acabam por não falar com o seu médico. Por isso é importante ter iniciativas como, “Próstata sem Tabus”, porque também acabamos por informar as pessoas dos sinais e sintomas. Quanto mais cedo for o diagnóstico, melhor é o prognóstico.
HN – Felizmente, os cidadãos conseguem obter informação sem sair de casa, o que é muito importante até para saberem quando se devem dirigir ao médico de família. Gostava que explorássemos um pouco mais a importância de iniciativas como a plataforma “Próstata sem Tabus”.
SR – Temos disponíveis na internet uma série de informações, mas nem tudo tem credibilidade. A “Próstata sem Tabus” tem uma comissão científica composta por profissionais com experiência no tratamento do cancro da próstata, baseando-se não só em bibliografia reconhecida, mas também na experiência dos especialistas. Portanto, é uma fonte fidedigna, penso que bastante clara, para os doentes tentarem tirar as suas dúvidas. Se houver alguma dúvida adicional, alguma informação que não esteja lá mencionada, tem o contacto para o doente poder ser esclarecido de uma forma mais direcionada.
HN – Finalmente, uma mensagem para o Dia Mundial do Cancro.
SR – Não negligenciar nenhum sintoma ou sinal que seja de alerta para o cancro. Qualquer um desses sintomas que sejam de uma forma persistente devem ser avaliados pelo médico. Eu acho que a mensagem mais adequada é essa: o doente estar atento às suas alterações que sejam de forma persistente, não deixar passar em demasia o tempo desde o início dos sintomas.
HN/RA
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