Rede de Referenciação Hospitalar de Medicina Intensiva vai ser atualizada

1 de Março 2024

A Rede de Referenciação Hospitalar de Medicina Intensiva, especialidade que sofreu um “enorme pulo nos últimos anos”, vai ser atualizada para “capacitar cada ponto até ao máximo das suas possibilidades”, disse esta sexta-feira o coordenador do grupo de trabalho.

Em causa está uma rede nacional criada em 2016 e atualizada em 2020 num cenário muito marcado pela pandemia.

Quatro anos após a última atualização, a Direção-Executiva do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS) publicou, na segunda-feira, uma deliberação que determina a criação de um grupo de trabalho que terá quatro meses para rever a rede.

“Devemos pensar na máxima capacitação dos pontos da rede e em normalizar a missão da Medicina Intensiva dentro do hospital. Mais do que criar mais serviços de Medicina Intensiva na rede, é necessário capacitar cada um dos pontos da rede até ao máximo das suas possibilidades”, explicou o coordenador do grupo, José Artur Paiva.

À Lusa, o médico, que é diretor do Serviço de Medicina Intensiva da Unidade Local de Saúde de São João, no Porto, e que também coordenou a elaboração, em 2016, desta rede, apontou como “principal razão” para a atualização “o enorme pulo que houve na Medicina Intensiva nos últimos anos”.

“O número de camas de Medicina Intensiva por 100 mil habitantes era claramente inferior à média europeia e ao recomendável nos países desenvolvidos. Mas essa situação alterou-se”, disse.

Em 2010 Portugal tinha 4,2 camas de Medicina Intensiva por 100 mil habitantes.

Já em 2019, antes da pandemia, o número tinha evoluído para 6,4, enquanto a média europeia era 10.

Agora Portugal tem cerca de 9 camas por 100 mil habitantes, estando com valores muito próximos de países como Espanha, França e Itália.

Esta realidade foi acompanhada de um aumento do número de médicos de Medicina Intensiva, que duplicou entre 2011 e 2023 graças à criação da especialidade, formam-se mais profissionais e mais depressa.

“E adicionalmente [à normalização da especialidade na rede e dentro dos hospitais] há que atualizar a terciarização de cuidados”, disse José Artur Paiva, referindo-se ao facto de existirem polos de referência, ou seja pontos recomendáveis, pela maior casuística e maior ‘know-how’ para certas atividades que são mais raras, mais específicas e mais complexas.

Pense-se, por exemplo, no doente neurolítico que sofreu um AVC isquémico ou hemorrágico grave ou um com traumatismo cranioencefálico grave, que precisa de cuidados específicos.

“O doente deve ser transferido para ter os melhores cuidados possíveis”, resumiu o médico.

Os centros de referência de ECMO (Oxigenação por membrana extracorporal) ou a medicina hiperbárica são outros exemplos.

Já na deliberação assinada pelo diretor executivo da DE-SNS, Fernando Araújo, lê-se que esta é “uma rede que orienta o fluxo dos utentes aos serviços de Medicina Intensiva, de acordo com a necessidade de adequação de determinadas patologias que, pela sua frequência ou características, necessitam de concentração em centros de elevada diferenciação técnica, experiência clínica ou equipamento específico”.

José Artur Paiva acrescentou que também serão atualizados os critérios para o transporte entre hospitais, definindo-se “claramente as regras de máxima segurança, tanto em recursos humanos, como em termos logísticos”.

“E temos de garantir acesso rápido ao transporte, garantir que os tempos de espera por viatura sejam os mínimos possíveis”, finalizou, sublinhando que o trabalho de levantamento e atualização será feito “no terreno e no conforto das equipas e das instituições”.

Além de Artur Paiva, fazem parte do grupo de trabalho António José Pereira Pais Martins, da Unidade Local de Saúde de Lisboa Ocidental, Paulo Jorge Coimbra Martins, da Unidade Local de Saúde de Coimbra e Rui Alberto Lomelino Araújo, da Unidade Local de Saúde de Matosinhos.

LUSA/HN

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