APEF alertou que Portugal está a “marcar passo” nas metas da OMS para a redução da hepatite C

15 de Maio 2024

A Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF) alertou que Portugal está a “marcar passo” nas metas internacionais para a redução da hepatite C, defendendo maior acompanhamento dos imigrantes provenientes de regiões com elevadas taxas de infeção.

“Há o grande objetivo da Organização Mundial da Saúde (OMS) de, até 2030, reduzir ao máximo as novas infeções e estamos um pouco a marcar passo”, adiantou à agência Lusa o presidente da APEF, que participou num recente encontro sobre as estratégias para alcançar as metas definidas a nível global.

Para as hepatites B e C, a OMS estabeleceu as metas de redução da incidência das infeções em 90% e da mortalidade associada em 65% em 2030.

Segundo Arsénio Santos, Portugal assiste a uma “realidade que é clara para todos neste momento” em que muitos imigrantes “estão a viver em condição não desejáveis, em comunidades sobrelotadas, onde provavelmente estará a haver infeção”.

De acordo com o especialista em Medicina Interna, “alguns dos imigrantes que estão a entrar em Portugal – e não é de agora – vêm de zonas onde a taxa da população com essa infeção é superior à que existe em Portugal”, caso de regiões asiáticas.

De acordo com o presidente da APEF, Portugal tem “muito trabalho feito e um grande progresso” no tratamento da hepatite C, principalmente a partir de 2014, através de medicamentos que permitiram uma taxa de cura de cerca de 97%.

“Neste momento, o número de pessoas que tem de fazer transplante do fígado por causa da hepatite C reduziu-se drasticamente e são casos muito pontuais”, realçou o médico, que salientou a importância de tratar rapidamente as pessoas infetadas, para evitar o risco de desenvolverem doença hepática crónica e até cancro do fígado, mas também para diminuir a possibilidade de passarem a infeção a terceiros.

O especialista em doenças do fígado referiu que “não há dúvida nenhuma” de que, apesar de em termos quantitativos ser mais reduzido do que era há dez anos, o “problema existe e é desejável, de um ponto de vista de saúde pública, ser tratado”.

Para isso, defendeu a necessidade de facilitar o acesso ao tratamento de pessoas que usam drogas injetáveis, através de desburocratização dos processos e dos procedimentos, assim como a generalização dos testes rápidos de rastreio da hepatite C nas farmácias comunitárias.

“É uma prática que faria sentido ser mais difundida em outras zonas do país, porque facilita a vida”, alegou Arsénio Santos.

Segundo o especialista, não está a registar-se um aumento significativo de casos de hepatite C em Portugal, mas sim casos de infeção “cada vez mais difíceis de identificar” pelos profissionais de saúde, uma “luta difícil” agravada pela falta de médicos de família em áreas com muita população, como a Grande Lisboa.

“Os cuidados de saúde primários são essenciais porque são o início da cadeia do sistema de saúde”, considerou Arsénio Santos.

A hepatite C, doença de notificação obrigatória em Portugal, é uma inflamação do fígado provocada por um vírus que se transmite por via sanguínea e que, quando passa a crónica, pode levar à cirrose, insuficiência hepática e cancro.

Não existe vacina contra a hepatite C e a prevenção da infeção passa por evitar o contacto com sangue infetado.

A OMS estima que vivam em todo o mundo cerca de 58 milhões de pessoas com o vírus da hepatite C, que morram anualmente 290 mil por cirrose ou carcinoma hepatocelular, surgindo todos os anos cerca de 1,5 milhão de novas infeções.

Segundo a Direção-Geral da Saúde, entre 2017 e 2020, o número total de casos confirmados de hepatite C em Portugal foi de 857. A doença é mais frequente nos homens, que representaram em média 70% das pessoas infetadas em cada ano.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Novos diagnósticos de VIH aumentam quase 12% na UE/EEE em 2023

 A taxa de novos diagnósticos de pessoas infetadas pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH) cresceu 11,8% de 2022 para 2023 na União Europeia/Espaço Económico Europeu, que inclui a Noruega, a Islândia e o Liechtenstein, indica um relatório divulgado hoje.

Idade da reforma sobe para 66 anos e nove meses em 2026

A idade da reforma deverá subir para os 66 anos e nove meses em 2026, um aumento de dois meses face ao valor que será praticado em 2025, segundo os cálculos com base nos dados provisórios divulgados hoje pelo INE.

Revolução no Diagnóstico e Tratamento da Apneia do Sono em Portugal

A Dra. Paula Gonçalves Pinto, da Unidade Local de Saúde de Santa Maria, concorreu à 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH), com um projeto inovador para o diagnóstico e tratamento da Síndrome de Apneia Hipopneia do Sono (SAHS). O projeto “Innobics-SAHS” visa revolucionar a abordagem atual, reduzindo significativamente as listas de espera e melhorando a eficiência do processo através da integração de cuidados de saúde primários e hospitalares, suportada por uma plataforma digital. Esta iniciativa promete não só melhorar a qualidade de vida dos doentes, mas também otimizar os recursos do sistema de saúde

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Cerimónia de Abertura da 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde: Inovação e Excelência no Setor da Saúde Português

A Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH) realizou a cerimónia de abertura da 17ª edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, destacando a importância da inovação e excelência no setor da saúde em Portugal. O evento contou com a participação de representantes de várias entidades de saúde nacionais e regionais, reafirmando o compromisso com a melhoria contínua dos cuidados de saúde no país

Crescer em contacto com animais reduz o risco de alergias

As crianças que crescem com animais de estimação ou em ambientes de criação de animais têm menos probabilidade de desenvolver alergias, devido ao contacto precoce com bactérias anaeróbias comuns nas mucosas do corpo humano.

MAIS LIDAS

Share This