Em declarações à Lusa, Renato Nunes, o presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação (SPMFR), disse que a proposta da Ordem dos Fisioterapeutas desrespeita as recomendações da Organização Mundial de Saúde pois estas vão no sentido do acesso a equipas multidisciplinares de reabilitação em todas as tipologias de cuidados.
“Estranhámos um pouco a proposta da Ordem dos Fisioterapeutas, área técnica com quem nós trabalhamos e pela qual temos toda a consideração e respeito como elementos da equipa de reabilitação e como profissionais de saúde”, afirmou, explicando que a proposta retira o fisioterapeuta dos serviços de reabilitação onde tradicionalmente estavam integrados, criando serviços específicos próprios.
“Passam a estar fora da equipa de reabilitação ou daquilo que é a organização dos cuidados de reabilitação que se espera, desde os hospitais de agudos especializados aos cuidados de saúde primários”, afirmou.
Além disso, “são afirmadas competências dos terapeutas que nós contestamos pois vêm sobrepor-se às funções dos médicos quando se assumem como a profissionais de primeiro contacto”.
“Os fisioterapeutas não fazem diagnóstico, não avaliam o doente e, portanto, nunca o podem ser. São profissionais técnicos, com uma formação limitada. Não é como a formação de 12 anos como os médicos especialistas”, explicou.
Renato Nunes lembrou ainda que a proposta da Ordem dos Fisioterapeutas anexa “uma tabela de atos que junta aos atos próprios do fisioterapeuta aos atos de outras áreas técnicas, nomeadamente, por exemplo, da terapia da fala, terapia ocupacional e de outros profissionais de saúde, como a psicologia e até de outras áreas médicas, não só da medicina física de reabilitação, mas da cardiologia e da neurologia”.
“A reeducação da deglutição é um trabalho que é feito pelo terapeuta da fala desde sempre, integrado na equipa de reabilitação, não é feito pelo fisioterapeuta, nem pode ser. A reabilitação cognitiva é feita pelo neuropsicólogo”, exemplificou.
Disse que a SPMFR quer ser “parte da solução”, mas que não pode aceitar propostas que “violam as melhores práticas de saúde que estão recomendadas internacionalmente” e insiste que este é um trabalho de equipa e que a equipa multidisciplinar “deve ser coordenada por médico especialista na área, um médico fisiatra”.
“Há um respeito e uma consideração por todas as áreas do saber nesta equipa, ou seja, todas as formações são válidas porque acrescentam valor àquilo que é o trabalho desempenhado. Mas ele tem que ser coordenado e integrado. (…) Não podemos estar aqui a trabalhar cada um para seu lado”, insistiu.
O responsável disse ainda que a SPMFR pretende apresentar uma proposta de plano nacional de reabilitação, que deve reforçar as equipas e as infraestruturas em todas as tipologias de cuidados: nos hospitais de agudos, “onde faltam muitos elementos nas equipas em várias zonas do país”, nos centros especializados, “onde faltam camas e falta capacidade para internamento”, e nos cuidados de saúde primários, “onde é preciso criar equipas, reforçar as que já existem, criar estruturas e, depois, promover uma boa articulação entre os vários níveis de cuidados”.
“Além disso, é preciso igualmente fazer uma boa gestão da transição. Um dos problemas é os doentes, de facto, mudam tipologia de cuidados, mas depois não acedem com facilidade nem em tempo útil aos melhores cuidados. Isso acontece muito quando os dentes vão para os cuidados de saúde primários”, explicou.
LUSA/HN
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