“O que temos vindo a fazer é tentar estancar ao máximo e reduzir o número de incêndios que passam para o ataque ampliado [maior dimensão] e, se passarem para ataque ampliado, cá estamos nós com o dispositivo preparado, com a capacitação técnica, que o ataque ampliado hoje em dia exige”, disse André Fernandes, em entrevista à agência Lusa.
Numa altura em que os meios de combate a fogos rurais são reforçados e atingem a capacidade máxima, o comandante nacional da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) sustentou que “o dispositivo está preparado”, mas considerou que o cidadão também tem um papel importante ao adequar os comportamentos em relação ao uso do fogo.
“Quanto menos ignições existirem, menor é probabilidade de termos grandes incêndios e é aqui que nós temos vindo a ganhar também, não só com a especialização, com o trabalho que tem vindo a ser feito na prevenção e na evolução e adaptação do dispositivo, mas acima de tudo, os portugueses têm vindo a adequar os comportamentos face à situação dos incêndios rurais”, afirmou.
O responsável salientou também que as condições existentes e as alterações climáticas vieram mudar “um bocadinho o paradigma” em que “neste período crítico existe uma maior probabilidade de uma mínima ocorrência poder gerar uma grande ocorrência”.
Por isso, frisou, o sucesso dos últimos anos tem sido o “ataque inicial musculado”.
“Os incêndios apagam-se à nascença. Nós não podemos deixar crescer o incêndio, portanto o dispositivo está dimensionado face às condições existentes. O dispositivo que temos foi desenhado, está preparado para fazer face às condições que temos no nosso território, onde existe ainda uma grande carga de combustível”, precisou, destacando a importância da utilização dos meios aéreos, em conjunto com os terrestres, para “estancar logo à partida” um fogo.
Questionado sobre o aumento no investimento financeiro feito no combate e a desaceleração na prevenção, o comandante nacional respondeu que as condições atualmente existentes “ainda são, infelizmente, muito favoráveis à propagação de incêndios florestais”.
“Obviamente também concordamos que deve existir um maior investimento na prevenção, mas não à custa de um desinvestimento no combate. Quando tivermos um território totalmente preparado, resiliente ao fogo, com capacidades e os mosaicos na paisagem do ordenamento totalmente implementado, aí podemos analisar as condições existentes e eventualmente podemos reduzir ou adequar o dispositivo, seja aéreo ou terrestre, mas neste momento as condições existentes estão à vista de todos e temos ainda uma grande carga combustível”, observou.
André Fernandes considerou que as alterações que estão a ser realizadas no âmbito da prevenção de incêndios “demoram anos e décadas a serem feitas”.
O comandante nacional admitiu ainda ser “natural que nos próximos anos existam algumas alterações ao dispositivo, em particular ao aéreo”, sublinhando que é necessário a introdução de outra tipologia de meios, mas não sendo ainda possível quantificar e se vão “ser mais ou menos”.
“É por isso que o Estado português vai comprar dois ‘canadairs’ e temos a necessidade identificada de introduzimos os chamados grandes tanques do ponto de vista da aviação para descargas de água com maior capacidade, utilizando retardantes”, afirmou, acrescentando que a ANEPC está a fazer um trabalho em conjunto com a Força Aérea e com o apoio da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF) no sentido também de perceber a adaptação dos C130 existentes.
André Fernandes referiu que é necessário adequar o dispositivo para “melhorar e maximizar face à realidade” das alterações climáticas.
“Os dispositivos não estão finalizados”, concluiu.
LUSA/HN
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