Modelo de avaliação de competências aquáticas das crianças pode prevenir afogamentos

4 de Julho 2024

Uma investigação dinamizada por uma estudante de doutoramento a estagiar na Universidade de Évora (UÉ) desenvolveu um modelo de avaliação das competências aquáticas de crianças entre 6 e 12 anos que pode ajudar a prevenir afogamentos.

O objetivo da investigação “é contribuir para o desenvolvimento da formação das crianças” na área da natação, mas “a prevenção do afogamento é uma consequência direta”, afirmou hoje à agência Lusa a doutoranda Rita Fonseca Pinto.

Segundo a estudante de doutoramento, as crianças que passam por um processo de aprendizagem são avaliadas através deste modelo para determinar o nível das suas competências em várias áreas da natação.

“A consequência é poderem ser crianças mais seguras na interação com o meio aquático e também vai servir de base para qualquer aprendizagem. Depois de aprenderem este nível inicial, podem fazer surf, vela ou ser nadadores”, vincou.

Rita Fonseca Pinto é estudante de doutoramento do Centro de Investigação do Desporto da Universidade Miguel Hernández, em Elche (Espanha), e está a estagiar no Departamento de Desporto e Saúde da Escola de Saúde e Desenvolvimento Humano da UÉ.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, anualmente, ocorrem, em média, cerca de 235.600 mortes por afogamento em todo o mundo, sendo esta uma das principais causas de morte em crianças e jovens entre os 5 e os 14 anos.

Em Portugal, entre 2002 e 2022, foram registados 305 afogamentos fatais em crianças e jovens (entre os 0 e 18 anos), assim como 604 internamentos, de acordo com dados da Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI).

Nas declarações à Lusa, a dinamizadora da investigação referiu que o modelo tradicional das aulas de natação “não consegue atender à necessidade social da prevenção do afogamento”, já que “é preciso um conjunto de outras competências”.

“Achávamos que saber nadar significava dominar aquelas técnicas e que isso significava estarmos mais seguros, mas a ciência mostrou-nos que, efetivamente, isso não é uma verdade absoluta”, sublinhou Rita Fonseca Pinto.

Esta investigação, adiantou, desenvolveu “um conceito multidimensional da competência aquática”, que integra as áreas da alfabetização aquática, prevenção do afogamento e educação ambiental, e “um modelo de avaliação”.

“Temos uma parte mais motora de desempenho de execução, que são sete tarefas que as crianças têm que realizar, em que vão fazer uma escolha do nível de complexidade que elas melhor conseguem executar”, realçou.

A responsável indicou que o processo também inclui a realização de um questionário às crianças que aborda “questões relacionadas com a identificação de riscos” e outro sobre “os níveis e o índice de conexão com a natureza”.

“O resultado destes dados vai permitir caracterizar a criança em cada uma das dimensões e com um índice global da competência aquática que, depois, nos ajuda enquanto pais a sabermos o que esperar quando elas interagem com espaços aquáticos”, disse.

Por outro lado, destacou a doutoranda, este género de diagnóstico “também permite ao professor [de natação] reajustar objetivos e conteúdos com base nas vulnerabilidades que foram apresentadas e nas capacidades mais fortes do aluno”.

Um grupo de crianças participa, no próximo fim de semana, na praia de Paço de Arcos e na piscina do Clube Nacional de Natação, em Lisboa, na avaliação do trabalho de investigação já produzido.

“Vamos continuar com os estudos para conseguirmos caracterizar a população, não só a portuguesa, mas também a de outros países”, nomeadamente do espaço ibero-americano, acrescentou.

LUSA/HN

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