Uma equipa de investigadores da Universidade de Friburgo descobriu como o Acidente Vascular Cerebral (AVC) interfere com a formação de novos neurónios na zona subventricular do cérebro, uma região especializada em produzir células estaminais neurais.
O estudo, publicado na revista Nature Communications, utilizou um modelo em ratinhos para analisar os eventos que ocorrem imediatamente após um AVC na zona subventricular (ZSV), um nicho de células estaminais crucial para a regeneração cerebral.
Em cérebros saudáveis de roedores, a ZSV produz constantemente novos neurónios que podem auxiliar na reparação de danos cerebrais causados por perturbações do sistema nervoso central. Após uma lesão cerebral, esta região responde gerando novos neurónios que migram para a área danificada, potencialmente substituindo as células perdidas.
No entanto, a investigação liderada pelo Professor Christian Schachtrup e pelo Dr. Suvra Nath revelou que após um AVC, o sistema vascular da ZSV torna-se mais permeável, permitindo que proteínas como o fibrinogénio atinjam o nicho de células estaminais. Esta alteração afeta as células da microglia locais, que são as células imunitárias do sistema nervoso central.
A ativação imediata das células da microglia perturba o ciclo celular das células estaminais neurais, levando à morte celular dos neurónios recém-formados. Os investigadores demonstraram que o restabelecimento do microambiente original da ZSV aumenta a reparação neurogénica, mesmo após o AVC. Além disso, observaram maior sobrevivência de novos neurónios quando as células da microglia ativadas são reduzidas.
Embora o cérebro humano também possua uma ZSV, a produção de novos neurónios ocorre apenas durante o primeiro ano de vida, permanecendo dormente após esse período. No entanto, os investigadores acreditam ser possível reativar esta produção através de intervenção médica.
A equipa pretende agora estudar as interações entre as células da microglia e as células estaminais neurais em organoides humanos, uma abordagem que poderá ajudar a compreender processos semelhantes no cérebro humano.
Esta descoberta representa um avanço significativo na compreensão dos mecanismos celulares que ocorrem após um AVC e poderá contribuir para o desenvolvimento de novas terapias que potenciem a capacidade natural de reparação do cérebro, minimizando as consequências dos AVCs.
O estudo, financiado pela Fundação Alemã de Investigação, contou com a participação de diversos investigadores das Faculdades de Medicina e Biologia da Universidade de Friburgo, bem como de cientistas da Universidade de Miami, demonstrando a importância da colaboração internacional na investigação neurológica
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