No âmbito do Dia Mundial do Cancro, que se assinala a 4 de fevereiro, a Organização Europeia de Patentes (OEP) publicou um estudo detalhado sobre a evolução das patentes tecnológicas relacionadas com a oncologia. O relatório, intitulado Novas Fronteiras da Oncologia, revela que Portugal ocupa o 19.º lugar no ranking europeu de patentes dedicadas ao combate ao cancro, com um total de 96 famílias de patentes internacionais (FPI) registadas entre 2010 e 2021. Este resultado reflete um crescimento consistente ao longo da última década, destacando o contributo do país para a inovação nesta área crítica da saúde.
A Europa, apesar de representar menos de 10% da população mundial, regista 25% dos casos globais de cancro e mais de 20% das mortes associadas à doença. No entanto, os avanços tecnológicos têm melhorado significativamente as taxas de sobrevivência, com os sistemas de saúde europeus a destacarem-se pela excelência na prevenção e nos cuidados prestados aos doentes.
O estudo da OEP analisa os domínios tecnológicos de crescimento mais rápido, como a imunoterapia celular (com um aumento médio anual de 37,5% nos pedidos de patentes entre 2015 e 2021), a terapia genética (+31%) e a análise de imagem (+20%). Apesar destes avanços, a Europa está a perder quota de mercado para os Estados Unidos e a China em áreas de elevado crescimento, com uma queda média de 5 pontos percentuais nos três domínios mais dinâmicos.
Europa lidera em startups de oncologia, mas enfrenta desafios na expansão
O relatório destaca que a Europa acolhe o maior número de startups dedicadas à investigação do cancro, com cerca de 1500 entidades, superando os EUA, que contam com 1325. No entanto, as startups europeias enfrentam dificuldades para expandir-se globalmente. Enquanto 40% das startups americanas atingem fases avançadas de crescimento, apenas 24% das europeias conseguem o mesmo.
Entre os estados-membros da OEP, o Reino Unido lidera com 290 startups, seguido pela França (246) e Alemanha (208). Portugal também se destaca com casos de sucesso, como a iLoF (Intelligent Lab on Fiber), uma startup de biotecnologia que combina fotónica e inteligência artificial para revolucionar a identificação de biomarcadores e reduzir custos e tempos de ensaios clínicos. Fundada em 2019, a iLoF já registou três pedidos de patentes internacionais e está presente em Portugal, Grã-Bretanha e EUA.
Papel crucial das universidades e centros de investigação
Quase metade das patentes registadas na UE entre 2010 e 2021 teve origem em universidades, organismos públicos de investigação ou hospitais. Além disso, mais de 12% dos pedidos de patentes relacionados com o cancro foram apresentados por empresas, mas tiveram origem em instituições de investigação. Este fenómeno sublinha o papel fundamental do setor académico e científico no desenvolvimento de tecnologias inovadoras para o combate ao cancro.
António Campinos, presidente da OEP, alerta para a necessidade de a Europa reforçar a sua competitividade na área da oncologia: “À medida que as tecnologias evoluem rapidamente, a Europa tem de reagir para manter a sua vantagem competitiva na inovação dos cuidados de saúde e salvar vidas.”
O estudo conclui que, apesar dos desafios, o ecossistema europeu de startups na área da oncologia é um foco de esperança para o futuro, mas requer investimento e apoio para escalar as suas inovações e competir globalmente.
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