O tratamento do Acidente Vascular Cerebral (AVC) na Europa está a dar um salto significativo graças ao trabalho da rede IRENE, uma iniciativa liderada pelo professor Robert Mikulik, do Centro de Investigação Clínica Internacional do Hospital Universitário Santa Ana em Brno, República Checa. O AVC, muitas vezes descrito como um “predador silencioso”, ocorre de forma súbita e pode causar danos cerebrais irreversíveis se não for tratado rapidamente. Apesar de existirem tratamentos eficazes, a sua disponibilidade varia drasticamente entre os países europeus, levando a diferenças significativas nos resultados dos pacientes.
A IRENE, uma rede colaborativa com 188 membros de 30 países, foi criada para desenvolver uma metodologia padronizada de monitorização da qualidade dos cuidados de AVC. Um dos seus principais contributos foi a adaptação e expansão do RES-Q (Registo da Qualidade dos Cuidados de AVC), originalmente desenvolvido pela Organização Europeia de AVC em 2016. Este registo contém dados padronizados sobre tempos de tratamento, protocolos e resultados, permitindo que os hospitais comparem o seu desempenho e identifiquem lacunas específicas para melhoria.
Os resultados são palpáveis. No espaço de alguns anos, países como a República Checa registaram melhorias significativas, com pacientes a serem tratados mais rapidamente após a chegada ao hospital. “Cada minuto poupado no tratamento acrescenta semanas à vida de um paciente”, afirma o professor Mikulik. Estas melhorias traduzem-se em maior sobrevivência e redução de incapacidades em todos os países participantes.
O impacto social e económico é igualmente relevante. A melhoria na qualidade dos cuidados reduz readmissões hospitalares, custos de reabilitação a longo prazo e o fardo económico da incapacidade para pacientes, famílias e sistemas de saúde. Uma análise mostrou que a implementação de estratégias de melhoria resultou numa redução média de 15% no tempo de internamento e em avanços significativos no cumprimento dos tempos de tratamento recomendados.
A IRENE também focou-se em países com menores recursos, como a Moldávia, Croácia e Arménia, organizando atividades de formação e workshops especializados em técnicas de neuro-reabilitação e sistemas de medição de qualidade. Estas iniciativas permitiram a transferência de conhecimentos e a implementação de métodos modernos de reabilitação em 12 países, contribuindo para melhorias nacionais no tratamento de AVC.
Olhando para o futuro, a IRENE lançou as bases para o projeto RES-Q+, financiado pelo Horizonte Europa, que se estenderá até 2026. Este projeto inclui o desenvolvimento de dois assistentes de voz com inteligência artificial: um para recolher feedback dos pacientes sobre a sua saúde e outro para auxiliar médicos na gestão do tratamento de AVC. Espera-se que estas inovações reduzam o número de mortes em 40.000 e poupem mais de 500 milhões de euros anualmente na Europa.
A IRENE não só melhorou o tratamento de AVC, mas também criou uma infraestrutura sustentável para a inovação contínua, servindo como modelo para combater desigualdades na saúde em toda a Europa.
NR/HN/Alphagalileo
0 Comments